Por Claus Jensen
Na semana passada, entrevistei Emílio Schramm, atual Presidente do Sindilojas, e também proprietário das Lojas Flamingo há 40 anos, um negócio familiar desde 1950. Na sua opinião, para que o Centro volte aos bons tempos, precisa ser mais habitado e oferecer lazer.
Schramm também comentou sobre segurança no comércio na região central, a visão de crescimento e o futuro nem sempre compartilhada por todos os comerciantes, além da luta pela duplicação da BR-470.
OBlumenauense: O comércio passou por grandes mudanças em Blumenau nos últimos 25 anos, como por exemplo a construção de três shoppings.São empreendimentos cobertos que oferecem segurança e estacionamento, problemas que o comércio de rua enfrenta. Como lidar com isso?
Emílio Schramm: É algo que não será mudado com lei nem outra coisa. Os shoppings são uma tendência mundial. Temos três, acho que é um número grande para Blumenau e irão fazer de tudo para buscar clientes. Resta ao comércio tradicional de rua lutar com as armas que tem.
Uma delas que considero fundamental é o projeto Centro Vivo. Ele se baseia em três eixos: lazer, moradia e o comércio que nós temos hoje no Centro e está razoavelmente bem. Falta no Centro lazer, mas principalmente a moradia, porque ele tem a vida limitada ao horário comercial, já que moram poucas pessoas. Nosso Centro tem uma infraestrutura completa, está tudo pronto.
Após consolidado, quando as pessoas irão conferir o resultado, queremos expandir para os bairros, onde a situação é a mesma: comércio de shopping X comércio de Rua. Além do Sindilojas, também estão juntos no projeto o Sinduscon, Sindicato da Construção Civil; o Secovi – Sindicato dos Corretores de Imóveis. Quer dizer, são tanto os empresários que fazem os prédios com fins comerciais e residenciais, quanto quem compra e assessora. Não adiantava fazer algo que o investidor considerasse inviável.
OBlumenauense: A falta de estacionamento no Centro, não acaba sendo um agravante para o consumidor?
Emílio Schramm: Nós constatamos que em 2014 passavam pelo Centro cerca de 50 mil automóveis, mas só 13 mil paravam para fazer algo. Esse é nosso problema, somos passagem entre os bairros, o que acaba causando os engarrafamentos. Temos que resolver essa situação, já que não vai crescer o número de ruas na região central, nem aumentar a área. Então nossa ideia é trazer gente para morar e criar o lazer. Não vejo futuro naquele tipo de comércio com a pessoa vindo só para comprar e indo embora, ou vice versa. O futuro é que ela venha para o lazer e a venda seja uma consequência.
OBlumenauense: O projeto Centro Vivo é viável a curto prazo?
Emílio Schramm: Se houver vontade política, sim.
OBlumenauense: Tem ocorrido muitos assaltos na região central. Como vocês pensaram nessa questão para reduzir esse índice que tem crescido?
Emílio Schramm: Como não temos muitos moradores, ficamos mais vulneráveis no Centro. Durante a pesquisa para montar o projeto, a frase de um livro que li me marcou. Escrito por uma jornalista em 1950, mas atualizado a cada 10 anos, ela disse: “A maior segurança que nós temos é gritar socorro e ter gente para ouvir”. Se não há ninguém no entorno, o que adianta gritar, porque o ladrão não irá se intimidar. Com mais moradores, a chance de não ser assaltado é muito maior.
Por exemplo, eu tenho uma loja (Flamingo) em Camboriú que virou um lugar meio abandonado depois que o hotel ao lado fechou. Éramos sempre furtados por aquelas crianças ou adolescentes, que levavam coisas pequenas, mas incomodava. Entravam pela janela e roubavam duas ou três toalhas, outras vezes causavam estragos. Um grupo empresarial comprou aquele imóvel e depois que ele foi inaugurado, nunca mais tivemos problemas. Como hotel está aberto 24 horas, sempre tem movimento e a área do entorno fica mais visível. Nossa maior dificuldade no Centro de Blumenau é termos uma vida comercial intensa, mas que encerra às 19h.
Como comerciantes, fazemos alguns erros clamorosos, porque não pensamos no vizinho, no Centro como um todo, somente em nós. Colocamos um rolô na vitrine às 19h quando fechamos, o que escurece a rua, trabalhando contra nós mesmos. Quem mora nos bairros Jardim Blumenau, Ponta Aguda e Victor Konder, poderia fazer uma caminhada pela Rua XV de Novembro. Mas ele não tem vontade, porque está tudo escuro e abandonado. Com esse projeto, queremos trazer as pessoas para curtirem o Centro, sentindo-se seguros, com tudo bem iluminado, as vitrines abertas até pelo menos a meia noite. Isso ajuda a iluminar a rua.
Nós como comerciantes, só estamos preocupados em vender, não com o futuro.
OBlumenauense: Existem dados sobre o número de pessoas que deixaram de vir ao Centro nos últimos anos?
Emílio Schramm: O número de pessoas que passam pelo Centro não reduziu, mas o consumo nas lojas sim. Não precisa nem ver estatística, basta passar e ver quantos comércios já fecharam. Claro que a crise nacional também colaborou.
OBlumenauense: Falando em crise, como está a situação para o comércio na cidade?
Emílio Schramm: Desde novembro do ano passado, houve uma tímida melhora, mas já é um alento. Se tem algo que move o empresário é o otimismo. Quando a situação começa a piorar ou andar para trás, ele desaparece. Não há economia do mundo que vai para frente quando há pessimismo. A hora que inverte esse sentimento, começa a ter investimento de novo.
OBlumenauense: Eventos como Osterdorf, Magia de Natal, Festival Nacional da Cerveja e outros do turismo, tem contribuído para melhorar o movimento do comércio?
Emílio Schramm: Hoje eu digo que uma das causas para o comércio do Centro de Blumenau não ser mais tão pujante como era, é o fato dos eventos não serem mais aqui. Mas fomos nós comerciantes que deixamos isso acontecer. A Magia do Natal começou via CDL, migrou para a Vila Germânica, onde é um sucesso, mas o Centro fica “a ver navios”. É um erro tanto dos comerciantes, quanto da prefeitura.
Isso não quer dizer que precisa ser na Rua XV, mas sim no Centro. Inclusive há um movimento no CDL e Sindilojas, pressionando o secretário de turismo e o prefeito, para que este ano o desfile de Natal seja no Centro. Se o custo para fazer na Rua XV de Novembro é muito caro, podemos fazer na Rua Curt Hering ou na Alameda (Rio Branco). Mas tem que valorizar o Centro Histórico, afinal é lá que a cidade começou e seria uma forma de retribuir o investimento que o comércio fez na história de Blumenau.
OBlumenauense: Aos sábados de 2015 acontecia o Super Sábado, com várias ações e atividades gratuitas à comunidade, criando o lazer e eventos no Centro. Há planos de projetos nesse sentido?
Emílio Schramm: Sim, fez muito sucesso na época. Mas tinha certo tipo de comércio que acabava deixando de vender nessas datas, em compensação os outros dobravam o faturamento. Com a pressão daqueles que se sentiam prejudicados, mas avaliavam só aquele dia, não o futuro, o projeto acabou sendo abandonado e todo esse esforço foi direcionado à Vila Germânica.
Por exemplo, metade dos comerciantes do Centro são contra a realização do Stammtisch. Não consigo entender como alguém pode ser contra ter 20 mil pessoas num único dia. O comércio vive do consumidor, de ser visto e lembrado. Isso é apenas um exemplo para mostrar o quanto somos imediatistas, mas que devemos pensar o comércio como consequência. Esse é o espírito total do Centro Vivo.
O projeto que está disponível no site da Sindilojas inclui construção de novas praças, estacionamento para 400 automóveis próximo da Prefeitura Municipal, que poderia ser privatizado e o faturamento pagar a própria praça. Tivemos o cuidado para que o investimento fosse público privado.O Centro não se resumiria ao bairro, e sim seria estendido para o Jardim Blumenau, Victor Hering e Ponta Aguda.
OBlumenauense: Que outros projetos vocês estão trabalhando para estimular o comércio e os lojistas para esse ano?
Emílio Schramm: Nós temos uma espécie de divisão de trabalhos com o CDL, que cuida mais da parte promocional do comércio, como por exemplo as campanhas com sorteio de automóveis no Natal. O Sindilojas cuida mais da relação capital x trabalho. Esse ano será “cabeludo”, já que teremos as reformas trabalhista e da previdência, além da terceirização do trabalho. São mudanças que afetam coisas que estão desde o tempo do Getúlio (Vargas) nessa relação entre trabalhador e empresário. Hoje estava discutindo com os advogados, já que tudo ainda está meio aprovado. No Brasil sempre tem aquela lei do que pega ou não, então o empresário deve evitar ir somente atrás das notícias, mas aguardar as orientações das entidades de classe. Não será um mar de rosas. Haverá atritos.
Também estamos trabalhando em um movimento pela BR-470, fundamental para o desenvolvimento de nossa região. Enquanto ela não for duplicada e estiver funcionando, nós não iremos para frente. Eu viajo muito em função da minha atividade e quem vai para Joinville fica impressionado em como cresceu o entorno da cidade por causa da duplicação desde Piçarras. Também vou muito ao Sul do Estado, e fico impressionado com o crescimento de Criciúma, Tubarão, Laguna e Imbituba, também em função da duplicação da rodovia. Isso aumenta o otimismo, o empresário aposta e começam a vir investimentos de fora. Já aqui na nossa região, está tudo a passo de tartaruga. Na hora que a BR-470 estiver pronta de Navegantes até Indaial, será outra realidade. Só para ter uma ideia, se fosse usada a arrecadação de 56 dias do imposto gerado nas cidades desse trecho, já pagaria o custo da duplicação. Por isso todos os sindicatos e associações patronais estão envolvidos nessa luta e não devemos aceitar menos do que ela pronta.