Fotos: Luciano Bernz | Entrevista e texto final: Claus Jensen
Na quarta-feira (11) passada, o cantor e compositor blumenauense John Mueller, lançou o disco “Por um fio” no Teatro Carlos Gomes. Ele contou com a presença de grandes músicos brasileiros, que tocam por exemplo com Chico Buarque e outros ícones da MPB, como o baterista Kiko Freitas, o pianista Cristóvão Bastos, o baixista Jorge Helder. Também teve a participação do guitarrista blumenauense Mazin Silva e também do baixista Caio Fernando.
Foi a realização de um sonho do artista, que apresentou um belo trabalho com a maioria das composições próprias, como Nostalgia, a música que desencadeou o projeto. Canções como Roda Gigante, Não Dá, Lamentante, Atelier, Por um Fio, À Caminho, Pimenta, Ex-Amor, Força Felina, Itinerário e Nostalgias compõem o repertório do novo álbum. O CD foi produzido no estúdio Tenda da Raposa, no Rio de Janeiro; e indicado como melhor álbum no Prêmio da Música Catarinense.
Fizemos uma entrevista com ele para falar sobre esse momento tão importante de sua carreira. Em seguida, fotos de Luciano Bernz que mostram como foi o show.
OBlumenauense: As músicas do disco que você lançou é autoral ou tem também algumas interpretações?
John Mueller: O trabalho é totalmente autoral, com 11 faixas, que tem parceria de letristas como Gregory Haertel, Gabriel Caminha e Raul Misturado. Faz cerca de 3 anos, quando estávamos amadurecendo a ideia de trabalhar com parceiros em um disco.
Durante esse período conheci o Gregory e o Raul, que já eram amigos de longa data. Já o Gabriel eu conheci em festivais que participei no Brasil e quando o encontrei, mostrei uma música minha que estava sem letra. Ele me perguntou que estilo era, porque estávamos tocando jazz e foi a partir daí que aconteceu nossa parceria. Com o Gregory, a empatia foi imediata, porque o estilo da letra que ele escreve fecha com a música que eu faço. Gosto muito dos textos dele, acho genial.
OBlumenauense: O processo desde a composição até a produção do disco começou quando?
John Mueller: Eu já venho compondo algo desde 2004. Mas especificamente para esse disco, foi há uns 3 anos, quando as músicas já eram mais direcionadas para um objetivo. Nós compomos, fazemos a melodia e procuramos os letristas.
O projeto do disco surgiu a partir de um clipe que fizemos no estúdio Biscoito Fino, do Rio de Janeiro, para onde tinha enviado uma música minha para procurar um produtor interessado no meu trabalho. Depois de uns 6 meses, recebi uma ligação do Rio de Diogo Lara, produtor da Biscoito Fino, perguntando mais detalhes sobre o trabalho que eu queria fazer. Eu expliquei e ele disse que iria mandar para alguns músicos que trabalhavam no estúdio e depois daria um retorno. Quem me ligou foi o Jorge Helder, que produziu o disco e é o baixista do Chico Buarque. Combinamos que eu enviaria uma música, gravaríamos um vídeo e pensamos em um disco no futuro.
Começamos a ficar muito amigos e daí escalei esse time. Ele me deu liberdade de escolher, dizendo: “pensa em um músico”. Tem uns caras que eu adoro, como o guitarrista Ricardo Silveira que trabalhou com Elis Regina, Cristóvão Bastos, Kiko Freitas que é o baterista do João Bosco, além do percussionista Armando Marçal. O Jorge foi contatando cada um deles e depois me ligou, dizendo que tinha fechado o Kiko, Cristóvão, etc.. Acabamos gravando o videoclipe “Nostalgia” no estúdio mesmo.
Eles gostaram do trabalho, ficamos muito amigos e daí surgiu a proposta de gravar o disco, mas eu disse que primeiro teria que me organizar financeiramente. Comecei a correr atrás, enquanto nós íamos nos falando. Me inscrevi em alguns editais, mas que acabaram não sendo aprovados. Aí pensamos em algumas alternativas. Foi quando surgiu a ideia de usar o Catarse, site para financiamento coletivo, onde conseguimos atingir o valor que precisávamos.
Gravar um disco com esses músicos já foi uma satisfação e honra imensas. Trazê-los para Blumenau e fazer um show junto com eles, nem se fala. E imaginar que poucos dias atrás eles estavam tocando com Maria Betânia em Porto Alegre, com um show pela turnê da Música Brasileira.
OBlumenauense: Você tem expectativa de conseguir desenvolver um trabalho com shows desse CD na nossa região?
John Mueller: Eu gosto muito de Blumenau, mas quem é artista sabe como é difícil trabalhar com cultura na cidade hoje. Sou daqueles que carrega a bandeira da arte e me apresento independente do público, toco MPB, Bossa Nova, etc… Eu toco muito fora e já busquei trabalho lá pensando nisso. Quando fui ao Rio gravar o disco, pensei em estar lá ou São Paulo, e daí para frente por todo Brasil. Depois tentar algo fora do país, já que a Europa e o Japão acolhem muito bem a música brasileira. Minha carreira está começando, são planos para o futuro, mas não deixam de ser metas.
Eu sobrevivo com minha arte faz uns 10 anos, tocando em bares que paga as minhas contas. Não é o que gostaria de fazer futuramente, mas estou fazendo o que eu gosto que é música. Se você ler a história dos grandes artistas da música brasileira, a maioria começou assim. O meu traçado é o mesmo. Queremos trabalhar mais com editais como do SESC, SESI, etc…
OBlumenauense: Hoje você trabalha sozinho ou tem algum empresário?
John Mueller: Até o lançamento do show, sempre estava trabalhando com a grande ajuda de minha esposa. Mas depois disso, eu vi o quanto fez diferença ter uma equipe. A Nane Pereira, que cuida da assessoria de imprensa, a Soila com a produção executiva e o Jorge Gumz, fazendo a produção de palco. Quando há toda uma equipe por trás, você respira melhor. Está acontecendo do jeito que eu gostaria que fosse.
Nos próximos trabalhos não dá pra continuar sem ter esse suporte. Me dá um pouco mais de folga para fazer o que eu realmente gosto, que é tocar e criar novos trabalhos. Um assessora de imprensa competente, te tira do chão e te coloca no céu muito rápido.
OBlumenauense: Terão mais apresentações desse mesmo show?
John Mueller: Sim, pretendemos levar para outras regiões. Nos inscrevemos em um edital do SESC para nos apresentarmos em 25 municípios do estado. Até dezembro deve sair a classificação. Para essa turnê teria o Mazinho na guitarra, Caio Fernando no contra baixo, Rafa Girardi no piano e o Jimmy Allan (filho do Mazinho) na bateria. São músicos de alto nível como eles, que já me se apresentaram junto em alguns shows que fizemos.
OBlumenauense: Os músicos do Rio de Janeiro, que tocaram no show, vieram especificamente para o lançamento do disco “Por um fio”?
John Mueller: Sim, a agenda deles é muito cheia. O Kiko por exemplo, estava na Alemanha gravando para a NDR. Eu precisava a agenda deles livre, mas nunca dava. Quando dois podiam, um não podia. Então sugeri 11 de novembro, e felizmente todos puderam nessa data.
OBlumenauense: Surgiu algum projeto novo para desenvolver no Rio de Janeiro, a partir da aproximação com esses grandes músicos?
John Mueller: Depois que o Jorge Helder chegou em Blumenau, estávamos conversando sobre o futuro da música brasileira e ele comentou: “Se você acha que vai ao Rio de Janeiro para ouvir Bossa Nova, está enganado cara”. Aí volta novamente a questão da Europa, que pelo momento envolvendo a questão dos refugiados, não é a hora certa de ir para lá. Mas depois que tudo isso passar, é o grande foco dos artistas.
A Bossa Nova que surgiu na década de 60 e a a própria MPB clássica foi um estilo apreciado pelo grande público até metade dos anos 90. Depois sofreu em termos de preferência musical uma queda. Como você vê isso, já que o teu trabalho é bem focado nesses dois estilos musicais?
O moderno está sendo cada vez mais aceito no mercado, enquanto o estilo tradicional é mais raro ver os músicos fazendo. Meu trabalho foi lá na raiz, do jeito que se tocava na década de 60, com bateria e baixo acústico. Hoje todo mundo usa tecnologia para isso, inclusive efeitos especiais. Não que seja ruim, mas parece que o caminho é só esse, apesar de ter muita gente boa fazendo isso. Mas eu não sou um cara dessa nova era. Gosto do que se fazia nos anos 60, mas com toda a modernidade na qualidade de gravação, os arranjos, etc…
OBlumenauense: Teve uma certa tendência na gravação de discos e shows acústicos. O estilo também não fecha com a proposta do seu trabalho?
John Mueller: O acústico trabalha com a guitarra elétrica, violões, … é outra estética musical. Não imagino meu trabalho acústico, já que eu não uso nada eletrônico, como por exemplo pedais de efeito. Nada contra, acho fantástico, tem artistas que fazem isso muito bem. Meu estilo é mais próximo de Chico Buarque ou a própria Bossa Nova, que tem uma influência forte do jazz. Um dos artistas que mais me influenciou e é escola para mim, é o João Bosco. Se você comparar o início de sua carreira com a fase atual, até dá para dizer que ele está bem moderno. Mas ele não perdeu a essência, sem usar recursos eletrônico, dando preferência à músicos de alto gabarito. Nos últimos discos de grandes nomes como Caetano Veloso e Gal Costa, já há uma estética diferente, afinada com a ala da nova MPB, que não fecha com o meu gosto.