Depois de anos de acompanhamento, tentativas de tratamento e acolhimentos, dois jovens em situação de vulnerabilidade foram internados involuntariamente em Blumenau nesta semana. As decisões foram tomadas pela Câmara Técnica, formada por profissionais da Saúde e da Assistência Social, que avaliaram o histórico dos atendidos e os riscos envolvidos em cada caso.
A primeira internação ocorreu na quarta-feira (9/04/25). Trata-se de uma jovem de 22 anos, grávida, que começou a ser acompanhada pela Assistência Social em 2020. Desde então, foram 119 registros de atendimento em serviços como Abordagem Social, Centro POP e Abrigo Municipal. Ela já havia passado por tentativas de tratamento contra a dependência química no CapsAD, mas sem sucesso. Diante da gestação e do risco à própria saúde e à do bebê, a equipe técnica considerou a internação como a melhor alternativa no momento.
Na manhã seguinte, quinta-feira (10), um rapaz de 20 anos também foi internado. O vínculo dele com a rede de assistência começou ainda na infância, em 2010, quando sua família passou a ser atendida pelo Cras. Nos últimos anos, o jovem passou por diversas abordagens e acolhimentos, totalizando 52 atendimentos registrados, incluindo o Centro POP, voltado para pessoas em situação de rua.
Além disso, ele também esteve em quatro comunidades terapêuticas, mas não conseguiu concluir nenhum dos processos. Além da dependência química, o jovem apresenta outros problemas de saúde, o que aumentou a urgência de uma intervenção mais estruturada.
Segundo o prefeito Egidio Ferrari, as equipes envolvidas já vinham tentando, sem sucesso, que ambos aceitassem ajuda de forma voluntária. “A internação involuntária é uma das últimas alternativas para resgatarmos esses cidadãos e podermos dar uma vida digna a eles”, afirmou.
A internação involuntária, prevista em lei, só pode ser aplicada quando se esgotam todas as outras possibilidades de cuidado fora do ambiente hospitalar. Ela precisa ser respaldada por um laudo médico e deve ocorrer em unidade hospitalar, nunca em comunidade terapêutica. O prazo máximo é de 90 dias, período em que a pessoa recebe acompanhamento médico, psicológico e social, com foco na recuperação e reintegração à vida em família, no trabalho e na comunidade.
Os dois casos ilustram o desafio diário de profissionais que atuam com pessoas em situação de rua e dependência química. Muitas vezes, o tratamento só avança quando há um esforço coletivo e coordenado entre diferentes serviços — e, em casos extremos, com a adoção de medidas mais drásticas para garantir o cuidado necessário.