No mês dedicado às mulheres, conversamos com Giani de Oliveira, empresária e integrante da Família Oliveira. Com 58 anos, casada com Gilmar e mãe de três filhas, ela compartilha neste texto a sua trajetória, o papel da música na vida e a visão sobre os desafios e conquistas femininas.
ORIGEM E CARREIRA
Natural de Tijucas (SC), Giani cresceu em um ambiente onde a música sempre esteve presente. Os pais nasceram em Florianópolis, e ela acabou sendo registrada em sua terra natal, porque a família morava em Itapema, onde não havia maternidade na época. No entanto, sua carreira profissional tomou um rumo diferente da música: há 35 anos, ela administra sua própria empresa de salgadinhos, equilibrando o empreendedorismo com a paixão musical.
MÚSICA NO SANGUE
Seu amor pelo samba veio de influências familiares. Seu pai, apaixonado pelo carnaval e pelo samba, ajudou a moldar seu gosto musical. Desde criança, Giani cresceu ouvindo e participando de rodas de samba em casa. Quando casou-se com Gilmar aos 20 anos, a música se tornou ainda mais presente.
Gilmar já era um músico ativo, tocando MPB e se interessando cada vez mais pelo samba. Seu pai era seresteiro em Blumenau, o que contribuiu para seu envolvimento com a música desde cedo. Essa conexão se fortaleceu e foi naturalmente passada para suas três filhas: Bárbara (36 anos), Tábata (34 anos) e Bruna (31 anos).

INFLUÊNCIAS MUSICAIS
A formação musical da família Oliveira teve grande base na MPB e no samba tradicional. Entre suas maiores influências estão Milton Nascimento, Djavan, Chico Buarque, Beto Guedes e a Bossa Nova. Essas referências ajudaram a construir o gosto musical do casal e, consequentemente, das filhas, que cresceram ouvindo esse repertório em casa.
No universo do samba, a família Oliveira aprofundou-se na história do gênero, estudando grandes nomes como Cartola, Clementina de Jesus, Pixinguinha, João da Baiana e, especialmente, Tia Ciata, figura essencial para a disseminação do samba no Rio de Janeiro.
Giani destaca que foi através desse aprofundamento que passaram a enxergar o samba não apenas como um estilo musical, mas como um movimento cultural e de resistência, com raízes na negritude e na história do Brasil.
O casal começou a pesquisar sobre o gênero dentro de casa, assistindo vídeos, ouvindo gravações e estudando a história dos grandes nomes do samba. Esse processo de aprendizado em família ajudou a aprofundar o conhecimento e a conexão deles com o gênero.

A FORMAÇÃO DA FAMÍLIA OLIVEIRA
A Família Oliveira surgiu de forma espontânea. Inicialmente, os encontros eram apenas por diversão, até que as filhas decidiram montar um grupo formal. Elas cresceram ouvindo MPB e samba tradicional em casa e, desde a infância, demonstraram talento musical. Quando crianças, participaram de bandas escolares em Blumenau, um projeto gratuito que incentiva a formação musical. Bárbara, por exemplo, tocava saxofone na banda municipal.
Com o tempo, decidiram formar um grupo de samba familiar. Bruna assumiu o surdo, Tábata ficou no rebolo e Bárbara, apaixonada pelo pandeiro, ficou com o instrumento. Gilmar, por sua vez, tocava cavaquinho e violão, consolidando a formação do grupo. Inicialmente tocando apenas entre eles, começaram a se apresentar publicamente, sempre mantendo o compromisso de tocar aquilo que realmente gostam, sem se preocupar em agradar apenas ao público.

DESAFIOS E CONVIVÊNCIA EM GRUPO
Trabalhar em família pode ser um desafio, mas Giani destaca que o respeito é a base da harmonia do grupo. Suas filhas, independentes e com carreiras estabelecidas, conciliam suas agendas para que a Família Oliveira possa se apresentar em eventos e bares, como o Boteco São Jorge em Blumenau e o Mercado Público de Itajaí. Bárbara e Bruna são consultoras credenciadas do Sebrae e viajam frequentemente, o que exige planejamento na organização da agenda do grupo.
Ela enfatiza que, apesar de divergências naturais, sempre houve respeito às opiniões e ao espaço de cada um: “Temos pensamentos diferentes em política, trabalho e até mesmo em música, mas aprendemos a respeitar e aceitar as diferenças. Esse aprendizado foi essencial para a nossa convivência.”
MULHERES NO SAMBA E O PROJETO MULHERES DO SAMBA
Giani é uma das organizadoras do projeto “Mulheres do Samba”, que chega à sua sexta edição. O evento, que acontece na Sociedade Desportiva Vasto Verde no Dia Internacional da Mulher de 2025, busca incentivar a participação feminina no samba. Nele, mulheres ocupam todas as posições na roda de samba, tocando percussão, cordas e cantando. O evento é gratuito e aberto a todas que desejam participar, mesmo aquelas que nunca tocaram em público: “Queremos que as mulheres se sintam à vontade para fazer parte do samba sem receios ou barreiras.”
O SIGNIFICADO DE SER MULHER
Para Giani, ser mulher é estar onde se deseja, sem barreiras ou imposições. “As mulheres que vieram antes de nós pavimentaram um caminho para termos mais liberdade hoje. Podemos tocar em um grupo de samba, empreender, construir nossos próprios projetos. O que importa é que cada mulher tenha a liberdade de ser quem deseja ser.”
Ela destaca que ainda há desafios, como a desigualdade salarial e o preconceito estrutural em várias áreas. No universo do samba, por exemplo, as mulheres ainda enfrentam resistência para serem reconhecidas: “Muitas vezes, chegamos a uma roda de samba e não somos convidadas a participar apenas por sermos mulheres. Felizmente, isso está mudando, mas ainda há um longo caminho pela frente.”
DESAFIOS E REFLEXÕES SOBRE A SOCIEDADE
Giani reforça que a sociedade precisa continuar evoluindo para garantir igualdade de oportunidades entre homens e mulheres: “Ainda há preconceitos no mercado de trabalho, na música e em diversos setores. Mulheres negras, por exemplo, enfrentam desafios ainda maiores. O samba é um movimento de resistência e um espaço de inclusão. Precisamos reconhecer sua importância e valorizar sua história.”
Ela menciona o projeto “Dindim pra Gente” do SEBRAE/SC, liderado por sua filha, que oferece educação financeira para mulheres em situação de vulnerabilidade. “A independência financeira é um dos passos fundamentais para a liberdade feminina. Quanto mais uma mulher aprende a administrar seu dinheiro, mais ela pode escolher seu próprio caminho.”
MENSAGEM PARA O DIA DA MULHER
“Que cada mulher possa estar onde deseja estar, que nada a impeça disso. Que ela faça suas próprias escolhas e lute pelo que realmente deseja ser. A grande mudança começa dentro de cada uma. Não adianta querer mudar o mundo sem mudar a forma de pensar e sem se libertar do que nos foi imposto.”