Expansão do SHIP buscará fortalecer a língua pomerana

Foto: Michel Ivon Imme Sabbagh

 

Texto e foto: Michel Ivon Imme Sabbagh | via FURB

O projeto interdisciplinar “SHIP – Vida e Saúde em Pomerode”, um convênio entre a FURB e a Universidade de Greifswald (Alemanha) está rendendo novos frutos, agora nos campos cultural e pedagógico. A ideia é fortalecer e preservar a cultura e a língua pomerana, falada pelos alemães e seus descendentes oriundos da região da Pomerânia (norte da Alemanha e Polônia) em comunidades do Espírito Santo, Rondônia, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Pelo seu ineditismo no Brasil, o Projeto SHIP inspira novos campos de pesquisa, ampliando o foco inicial de acompanhar a evolução de doenças, identificar fatores de risco e formas de prevenção, como ocorre há 16 anos na Alemanha e através do convênio internacional com a FURB desde fevereiro de 2014, em Pomerode, a cidade mais alemã do Brasil.

Uma nova parceria interinstitucional, também estimulada pelo reitor João Natel, teve sexta-feira (dia 29) a primeira roda de conversas no Centro de Ciências da Educação, Artes e Letras. A diretora do CCEAL, Rita Buzzi Rausch, e as professoras Valéria Mailer (coordenadora do curso de Alemão) e Maristela Pereira Fritzen (coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação) receberam dois professores do Espirito Santo, estudiosos da língua e da cultura pomerana.

O professor Erineu Foerste é vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Espírito Santo e trabalha na linha de pesquisa em Linguagem e Educação, semelhante à da FURB. Já o seu parceiro de pesquisa, Jorge Küster Jacob, é sociólogo e professor estadual que trabalha na comunidade pomerana de Vila Pavão, com 9.500 habitantes, uma das cinco cidades capixabas onde a língua pomerana foi cooficializada e é lecionada nas escolas. Além disso, é patrimônio cultural definido em lei estadual.

O Espírito Santo tem 150 mil pomeranos e estima-se que no Brasil eles sejam em torno de 300 mil. No ES há também um museu e um dicionário enciclopédico pomerano-português produzido pelo professor Dr. Ismael Tressmann (também da UFES). Tressmann será um elo importante na parceria com a FURB. Em artigo, Tressmann explica o Programa de Educação Escolar Pomerana.

Segundo a diretora do CCEAL, essa nova frente de trabalho vem ao encontro do objetivo de fortalecer o curso de Alemão da FURB, a internacionalização da FURB e as pesquisas do Programa de Pós-Graduação em Educação, que tem uma série de trabalhos importantes sobre a língua/cultura alemã. Neste sentido, mostrou entusiasmo em desenvolver ações em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo.

O professor Erineu Foerste comunga da mesma empolgação e já vem conversando com o coordenador do projeto SHIP, professor da FURB Dr. Ernani Santa Helena. “Queremos conhecer a realidade da língua em Pomerode, no seu cotidiano. Não é resgatar e sim tirar a língua pomerana da invisibilidade”, destaca Foerste. A UFES tem olhado para esse campo de pesquisa inclusive na lógica da formação inicial e continuada de professores, semelhante ao que é realizado pela FURB, o que pode proporcionar um intercâmbio.

– “Nas nossas conversas com o professor Ernani (que esteve no ES e junto com eles em Greifswald), temos focado que um trabalho de saúde (como o do SHIP) não pode prescindir da questão cultural em sua dimensão social. Queremos saber como se dá a interlocução entre o médico-pesquisador e o sujeito pomerano. Isso é importante. No Espírito Santo, o pomerano é tímido quando vai ao médico e, muitas vezes, continua doente pela dificuldade linguística”, ressalta Foerste, destacando outras possibilidades de frentes de trabalho como saúde mental, saúde ambiental, alimentação, exposição ao sol, olhando o objeto de estudo na sua complexidade, também na ótica do sujeito. “Ou seja, temos um campo interessante de pesquisa interinstitucional e internacional FURB/UFES/Universidade de Greifswald”, emenda Foerste.

Na segunda visita a Pomerode para tratar dessa expansão do projeto Ship, os professores Erineu, Jorge e Valéria Mailer encontraram-se com Alberto Ramlow, consultor municipal, Roseli Zimmer, historiadora responsável pelo Museu Pomerano e Ronald Kreidel, diretor de Turismo e Cultura para melhor conhecer hábitos e costumes dos pomeranos de Santa Catarina. A próxima visita deverá focar a educação local, com visita a secretaria de educação e as escolas bilíngues.

Outro objetivo, segundo o professor Jorge, é fazer uma articulação nacional, uma associação dos pomeranos do Brasil como povo tradicional. “A língua é o carro-chefe, mas temos aspectos culturais importantes como a dança, o artesanato, a gastronomia, que podem e devem servir ao turismo e à geração de renda, fortalecendo a sua produção cultural e material”, disse.