Especialistas destacam importância de se ter reserva financeira

Pandemia mostra que podemos viver gastando menos, diz economista.

Foto: Marcello Casal Jr. [Agência Brasil]

Por Pedro Peduzzi

A chegada da pandemia ao Brasil mostra a importância de se ter uma reserva financeira para enfrentar as adversidades. Com a chegada do fim do ano – e do décimo terceiro salário – o brasileiro tem a oportunidade de, com planejamento, ter mais tranquilidade em relação ao orçamento.

Diante desse contexto, a Agência Brasil consultou alguns especialistas, na busca por dicas de como conseguir montar uma reserva, mesmo em tempos de crise. Segundo eles, para isso, o primeiro e mais importante passo é pagar as dívidas que têm juros mais elevados.

“As reservas financeiras são, antes de tudo, importantes para gastos imprevistos. Por exemplo, em saúde ou no conserto do carro ou do imóvel”, afirma o economista e professor licenciado da Universidade de Brasília (UnB) Newton Marques. Especialista em educação financeira, ele sugere que, tendo um dinheirinho sobrando, as pessoas procurem, primeiro, quitar dívidas que, em função dos juros, estejam crescentes. “Quem receber o décimo terceiro salário pode utilizar da seguinte forma: pagar dívida que tem juros, consumir parte nas festas de fim de ano e guardar uma parte para gastos imprevistos em 2021”, resume.

Conselheiro da Associação Nacional de Executivos de Finanças (Anefac), Andrew Frank Storfer diz que a pandemia deixou uma lição importante para as pessoas: “todos podemos viver gastando menos”. Para ele, “existe um produto que todos deveriam comprar: a tranquilidade. Ter alguma reserva para imprevistos é sempre bom. Independentemente da pandemia, quem pode olhar para trás e dizer que não teve algum imprevisto nos últimos cinco anos? Que não teve de fazer um tratamento, comprar remédios; quem não teve geladeira ou TV quebrada? Quem não bateu um carro, ou teve de ir ao mecânico? O mesmo se pode dizer dos próximos cinco anos. Sempre há um imprevisto”, disse o conselheiro da Anefac.

Ele lembra, no entanto, que muita gente recebe salário que mal dá para suportar os gastos básicos com alimentação e moradia. Mesmo assim, sugere, é fundamental fazer esforços, pelo menos no sentido de cortar gastos, na tentativa de guardar um pouco.

“O segredo é equilibrar o desejo de gastar com algum serviço, ou de comprar alguma coisa, com a necessidade de ter reservas e, assim, tranquilidade. Neste fim de ano, presentes podem ser o primeiro gasto a ser reduzido. Ainda mais tendo em vista que há limitações para sair de casa e frequentar lojas e shoppings. Os gastos com serviços e compras do dia a dia devem sempre ser revistos. Há itens que subiram de preço e podem ser substituídos por outros. Procurar alternativas com preços mais em conta pode fazer uma diferença”, sugere o especialista.

Compras online

Uma boa alternativa de compras que pode resultar em economia são as feitas pela internet. Segundo os especialistas, as compras online têm, entre suas vantagens, a possibilidade de comparação de preços, que é facilitada por não haver necessidade de deslocamento. Além disso, os produtos são em geral “bem mais baratos” do que estão à venda em lojas físicas.

“A compra online [ampliada desde que se adotou o isolamento social como medida de enfrentamento da pandemia] trouxe dois pontos importantes: a real comparação de preços e a redução das compras por impulso. Apesar de antes da pandemia ser possível comparar preços pela internet, muitos não faziam isso. Simplesmente iam às compras nas ruas e shoppings. A comparação passou a ser muito maior, e realmente há a vantagem de se comparar preços e artigos. Além disso, as compras por impulso tendem a diminuir porque se gasta um certo tempo buscando, comparando e analisando se realmente vale a pena gastar no que se imagina. E gastando menos, sobra mais”, explica Storfer.

Redução salarial

O ano de 2020 teve um fator que complicou ainda mais a situação financeira de muitas famílias, que tiveram de reorganizar seus orçamentos: a redução salarial combinada entre empresas e empregados, como forma de se evitar demissões.

Nesses casos, o conselheiro da Anefac sugere que, em primeiro lugar, o problema seja compartilhado com a família. “Ter uma conversa direta com todos da família é muito útil porque alinha a situação e o entendimento, fazendo com que todos passem a dar mais valor ao dinheiro que entra, que cooperem na redução de gastos e que entendam o momento vivido”, disse.

“A partir daí, analisar o que pode ser cortado e que gastos podem ser adiados. É importante também entender que não se pode contar antecipadamente com uma melhora no futuro, e que fazer um empréstimo ou entrar em cheque especial nada mais é que empurrar para a frente a conta a ser paga”, acrescentou, ao lembrar que os juros no Brasil “continuam altíssimos e proibitivos”.

Inflação

Membro do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF), o professor Newton Marques concorda com a opinião de que quem teve redução renda, em especial após a chegada da pandemia no país, tem que reavaliar seus gastos essenciais e supérfluos, de forma a evitar endividamento.

“Ainda mais agora, que as expectativas inflacionárias são crescentes, é importante fazer reservas financeiras para enfrentar esses elevados custos, principalmente da alimentação. Também recomenda-se mudança de hábitos de consumo de alimentos com essa forte elevação de preços”, afirma.

Andrew Storfer diz que a “subida inesperada” da inflação este ano “foi muito mais por uma conjuntura”, referindo-se ao auxílio emergencial que suportou o poder de compra, os gastos com energia e a aquisição de itens alimentares.

“Apesar de ainda haver uma pressão na inflação, ela pode ser menor em 2021. De qualquer forma, vale ficar atento aos alimentos, por exemplo, e seguir monitorando preços e sempre buscando alternativas mais em conta, dependendo dos preços em cada época”, acrescenta.

Caderneta de poupança

Segundo Newton Marques, a caderneta de poupança ainda é a aplicação financeira recomendada para pequenos poupadores porque seu rendimento é líquido, sem imposto de renda.

A mesma opinião tem o executivo da Anefac, mesmo considerando que a poupança não esteja em um de seus períodos mais rentáveis. “Hoje em dia até que não é das piores, pela baixa taxa de juros atualmente vigente. Mas não importa. A poupança apresenta uma facilidade muito grande para se guardar reservas, quando comparada a alternativas do mercado financeiro que exigem um pouco mais de entendimento e, muitas vezes, volumes maiores de investimento”, disse ele.

“Para baixos valores, a poupança é simples, isenta de imposto de renda, não tem taxa de performance e tem liquidez imediata caso alguém precise do dinheiro para emergências. Na realidade, ela compete é com o gastar o dinheiro. Ou seja, podendo deixar as economias na poupança, em vez de gastar o dinheiro, já é um grande passo”.

Agência Brasil