Empresária se reinventa para manter a loja que perdeu no incêndio no Centro de Blumenau

Empreendedora há 20 anos, Alessandra Luchini enfrenta prejuízo estimado em no mínimo meio milhão de reais e busca alternativas para reerguer a marca.

Foto de fundo: Foto: Soni Robinson Witte | @soni8088 |[OBlumenauense] | Montagem: OBlumenauense

No dia 23 de janeiro de 2025, um incêndio de grandes proporções atingiu um prédio anexo à Catedral São Paulo Apóstolo, na Rua 15 de Novembro, no Centro de Blumenau. O fogo consumiu oito estabelecimentos, incluindo a Vanilla, loja de moda feminina que estava no local há mais de 20 anos.

Para a empresária Alessandra Luchini, de 42 anos, a tragédia veio em um momento especialmente delicado. Apenas cinco meses antes, em agosto de 2024, ela perdeu o pai, após dois anos dedicando-se integralmente aos seus cuidados. “Foi um período muito difícil. Eu cuidei dele dentro de casa, acompanhei tudo de perto. Depois que ele faleceu, estava começando a me reerguer e retomar o ritmo. E aí veio o incêndio”, conta.

Foto: Soni Robinson Witte | @soni8088 [OBlumenauense]
O dia do incêndio e a luta para salvar algo

Naquele dia, a rotina da Vanilla seguia normalmente. Alessandra estava na loja, acompanhada de uma funcionária, sem imaginar que, em poucos minutos, veria todo o seu trabalho ser consumido. Por volta das 16h, ela notou a movimentação na rua e viu labaredas no alto do prédio. “Fomos pegar algumas sacolas para salvar os trajes típicos, que têm maior valor agregado, mas já havia muita fumaça. No fim, só deu tempo de pegar documentos e minha bolsa”, relembra.

Ao saírem da loja e atravessarem a rua, viram o teto desabar. “Foi um choque. A gente não imaginava que o fogo já tinha avançado tanto. O vento estava forte naquele dia e o incêndio tomou proporções assustadoras”.

Os bombeiros chegaram em dez minutos, mas enfrentaram dificuldades para conter as chamas devido à falta de hidrantes em funcionamento na Rua 15 de Novembro. “Isso é algo sério que ninguém comenta. Se houvesse hidrantes operacionais ali, poderia ter minimizado os danos“, alerta Alessandra.

 

Foto: Giovanni Silva

Prejuízo e recomeço do zero

O impacto financeiro da tragédia foi enorme. O prejuízo mínimo estimado é de R$ 500 mil, considerando estoques, mobiliário e estrutura. O seguro ainda está em análise e pode levar meses para ser resolvido. “O problema é que eles calculam depreciação, tem burocracias. Enquanto isso, eu tenho que me virar”.

Além da perda material, Alessandra também perdeu o ponto comercial que construiu ao longo de duas décadas. “Ali foi minha segunda casa. A Flesch esteve ali por 20 anos antes da Vanilla. E, de repente, recebo um comunicado da igreja suspendendo todos os contratos. Isso dói. Eu abri aquela porta mais de 5 mil vezes nesses anos todos”, lamenta.

Mesmo diante das dificuldades, ela decidiu não parar. “Não dá para ficar esperando. Encontrei uma sala comercial na Galeria Borba e estou estruturando um showroom para continuar atendendo clientes”.

A nova loja da Vanilla está em fase de estruturação e ainda precisa de algumas adequações, como instalação elétrica e mobiliário, o que atrasou a abertura oficial. A expectativa é que o espaço fique pronto em breve, permitindo que Alessandra volte a receber clientes presencialmente enquanto define os próximos passos para o futuro do negócio.

O ponto comercial está localizado no segundo andar, acima da loja Santa Lolla, com acesso pela Rua Curt Hering. Alessandra não tem outra fonte de renda, o que torna essencial manter as vendas ativas para cobrir as despesas.

Vaquinha online, lives e o apoio da comunidade

Diante do cenário de incerteza, familiares organizaram uma vaquinha online para ajudar Alessandra a manter o negócio e sobreviver neste momento tão difícil. Nos primeiros dias, foram arrecadados R$ 37 mil, mas as doações pararam depois de uma semana.

Além da campanha, a empresária fez uma live nas redes sociais da loja para vender produtos. “Foi uma surpresa positiva. Eu não sabia se as pessoas iriam comprar, mas muitas adquiriram como forma de apoio. Fizemos uma live e passamos os dois dias seguintes separando pedidos e organizando entregas”, relata.

Com a loja física destruída, Alessandra encontrou soluções criativas para manter as vendas. “Os clientes retiram os pedidos em pontos parceiros, como a Dental Flesch e o Floresta Lanches, ou recebem em casa, com entregas feitas pelo meu filho Gustavo, que usa bicicleta para levar os produtos”.

O futuro da Vanilla e as incertezas

Apesar de todas as dificuldades, Alessandra não pensa em desistir. “Empreender é o que eu amo fazer. Meu trabalho é minha única fonte de renda, então preciso seguir em frente. A Vanilla continua, só que agora de um jeito diferente”.

O maior desafio no momento é a incerteza sobre o futuro do espaço destruído. “Não sei se poderei voltar para o mesmo lugar, se haverá salas menores ou se serei priorizada. Então, meu foco agora é manter a loja funcionando no showroom e reconstruir aos poucos”.

Além da batalha financeira, Alessandra ainda lida com o desgaste emocional. “Desde a perda do meu pai, venho enfrentando desafios seguidos. Já lidava com ansiedade antes, e tudo isso só aumentou a carga emocional. Mas a gente segue, um dia de cada vez”, diz.

Enquanto aguarda definições, ela segue trabalhando e se reinventando, determinada a manter viva a história da Vanilla. “Se tem uma coisa que aprendi nesses anos todos é que a gente precisa seguir em frente. O recomeço pode ser difícil, mas a loja ainda tem muita história para contar”.

A Vakinha para quem quiser ajudar pode ser acessada clicando aqui.

Foto: Loja Vanilla / divulgação
Foto: Loja Vanilla / divulgação
Foto: Loja Vanilla / divulgação
Foto: Loja Vanilla / divulgação

 

 


Avaliação dos bombeiros sobre o prédio que pegou fogo no Centro de Blumenau