A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOOA), agência científica vinculada ao governo dos Estados Unidos, divulgou na quinta-feira (8/06/23) estimativas que confirmam a ocorrência do fenômeno El Niño e indicam chances de se tornar um evento forte em seu pico. Segundo a cientista Emily Becker, que assina o artigo, há uma probabilidade de 56% de o El Niño alcançar um nível de intensidade elevado, além de uma chance de 84% de ser pelo menos um evento moderado.
O El Niño é caracterizado pelo enfraquecimento dos ventos alísios, que sopram de leste para oeste, e pelo aquecimento anormal das águas superficiais da porção leste da região equatorial do Oceano Pacífico. Essas alterações na interação entre a superfície oceânica e a baixa atmosfera têm consequências significativas no clima e no tempo em várias partes do mundo.
Em Santa Catarina, o fenômeno promove o aumento da umidade e das temperaturas, o que amplia o volume de chuvas e também de temporais. Esse cenário se estende a outras partes do Sul do país.
“A temperatura da superfície do mar muito mais quente que a média durante um El Niño forte influência a mudança da circulação global, tornando os padrões de impacto mais prováveis”, explica Becker. Isso significa que as massas de ar adotam novos padrões de transporte de umidade, afetando a distribuição das chuvas e a temperatura em diferentes regiões.
A NOOA destaca a importância dos estudos sobre o El Niño para permitir que o mundo se antecipe às mudanças e impactos. No Brasil, o fenômeno costuma causar estiagem em partes das regiões Norte e Nordeste, enquanto o litoral do Sudeste e do Sul enfrenta o aumento de tempestades. Nos Estados Unidos, espera-se um inverno com chuvas mais intensas no sul do país e temperaturas mais quentes no norte.
O El Niño ocorre em intervalos de tempo que variam entre três e sete anos, com duração média de seis a 15 meses. As duas edições mais intensas já registradas aconteceram em 1982-1983 e em 1997-1998. Após o término de um El Niño, é necessário que ocorra uma La Niña, caracterizada pelo resfriamento das águas superficiais da região equatorial do Oceano Pacífico, para que um novo episódio seja observado.
No mês passado, a Organização Meteorológica Mundial (OMN) já havia indicado que o El Niño teria início até o fim de setembro. Com base em um modelo climático, as previsões da NOOA indicam que a temperatura da superfície do Oceano Pacífico na linha equatorial permanecerá acima do limite que caracteriza o El Niño nos próximos meses. Além disso, foram observados padrões na circulação do ar típicos do fenômeno, incluindo fortes ventos de superfície que ajudam a manter a água quente acumulada no oeste do oceano.
Embora as condições do El Niño estejam se desenvolvendo, a NOOA ressalta que ainda existe uma pequena chance (4-7%) de que o fenômeno possa retroceder. Emily Becker afirma: “A natureza sempre reserva surpresas. Achamos improvável, mas não é impossível que as coisas mudem.” Acompanhar de perto as informações e projeções sobre o El Niño é fundamental para entender os possíveis impactos climáticos nos próximos meses.