Devemos nos preocupar com a falta de água em Blumenau nesta estiagem?

Foto: Wellington Civiero Ferreira [NW Blumenau]
Foto: Wellington Civiero Ferreira [NW Blumenau]

Por Claus Jensen

Na última semana o nível do rio Itajaí Açu medido na régua colocada ao lado da Ponte Adolfo Konder, Centro de Blumenau, tem apontado números muito baixos. A média oscila entre 38 cm e 57 cm, bem diferente de dois meses atrás onde passou dos 8 metros de altura.

O Sul e outras regiões do Brasil passam por um período de estiagem caracterizado por pouca chuva. Para falar sobre o assunto, conversamos com o meteorologista e coordenador do CEOPS da Furb, Prof. Dirceu Luis Severo.

Segundo o Epagri/Ciram, entre o fim da quarta e quinta-feira (2 e 3/8/17), essa condição muda com o avanço de uma frente fria, que provoca aumento de nebulosidade e chuva em Santa Catarina. Os valores previstos são poucos significativos, variando de 20mm a 40mm em média.

 

Foto (arquivo): Marlise Cardoso Jensen

 

OBlumenauense: Existe alguma previsão de piora dessa estiagem e até falta de água?

Dirceu Luis Severo: Aqui em Blumenau não vejo maiores problemas, o Samae terá condições de fornecer água. Existe uma previsão de chuva para quarta ou quinta-feira, mas os modelos de previsão estão dando valores muito baixos como 5 mm, o que não fará muita diferença para o nível do rio. Nessa primeira quinzena de agosto, além dessa frente fria mais próxima do Litoral com uma garoa, não deve ter uma mudança grande em termos de volume de chuvas.

OBlumenauense: Observando os dados da régua de medição do nível do rio Itajaí Açú, é possível perceber uma mudança significativa em diferentes períodos do dia. Isso tem a ver com incidência de chuva em alguma região do Vale?

Dirceu Luis Severo: Em Blumenau temos uma oscilação grande no nível do rio entre o início e final do dia. Por exemplo, ela pode ser de até um metro entre às 6h e 18h, por causa do efeito da maré que chega até a região do Salto. No horário em que está mais baixo, os valores podem ser até negativos. A medição é feita a partir de um ponto que foi instalada a régua, tomado como sendo o fundo do rio, o nível zero. Mas esse fundo é totalmente irregular, em que o nível da água pode ficar abaixo dessa marca e a régua acabar totalmente fora d’água, o que já aconteceu em outros períodos de estiagem.

 

A régua em um dos pilares da Ponte de Ferro não é a principal. A utilizada pela Defesa Civil está na Ponte Adolfo Konder, na frente do Castelinho da Havan | Foto: Wellington Civiero Ferreira [NW Blumenau]

OBlumenauense: Então uma variação do nível do rio Itajaí Açú, sem chuva, é totalmente normal por causa da maré?

Dirceu Luis Severo: A maré dá o efeito de uma onda. Se você olhar os dados de medição do rio a cada 15 minutos ou hora, é possível ver essa subida e descida sem a ocorrência de chuva. No site da defesa civil, onde tem o gráfico do nível do rio nas últimas 24 horas, isso fica bem evidente.

Outra questão que tem a ver com a estiagem, é que no local da captação da água, as bombas dificilmente ficariam fora dela. O abastecimento não é um problema que devemos nos preocupar por enquanto. Por conta da cabeceira e dos rios que compõem, a bacia do Itajaí dificilmente vai secar. A água do rio subterrâneo sempre vai chegar e manter um volume mínimo do rio.

Já para a plantação nessa época do ano, as hortaliças necessitam ser irrigadas, mas temos outras fontes de água para manter, não só do rio. Não é o mesmo que no interior de São Paulo, Minas Gerais, em que eles tem seis meses de seca e se não chover eles tem que fazer uso da irrigação para ter água disponível na plantação.

Aqui no médio e baixo vale, nós temos muitas regiões de baixadas que estão quase no nível do rio. Então mesmo no arroz, tem fontes que conseguem manter um nível suficiente de água para manter a irrigação.

OBlumenauense: E em relação à questão climática, em que há uma estiagem afetando todo sul do país?

Dirceu Luis Severo: Se a estiagem se estender até o início da plantação da próxima safra, ela já pode ficar um tanto comprometida. No final de agosto já está tudo pronto para plantar o milho e a soja. O agricultor precisa que o solo esteja úmido na hora de plantar e se ele estiver muito seco, isso pode atrasar a plantação e até provocar uma quebra.

Mas o clima é muito complicado para a agricultura, porque às vezes você tem uma deficiência (de água) no início e depois um excesso no final da colheita. Se a chuva não acontecer de forma bem distribuída, porque qualquer quantidade maior ou menor na plantação e colheita, acaba em prejuízo.