No passado era comum que os filhos seguissem a mesma profissão do pai. Era comum que profissões seguissem dentro de uma mesma família passando de geração em geração, até que eles fossem conhecidos pelo ofício. Com a modernidade, a expansão dos estudos e dos trabalhos, a globalização, veio o tempo que os filhos queriam qualquer coisa que fosse diferente do que os pais faziam. Então o mundo girou mais uma vez e os legados de pai para filho voltaram com tudo.
Legados como o de Zaher para Samir. Ambos trabalham com tecnologia, mas são de gerações bastante diferentes. O pai, Zaher Mohamad Ghazi El Hassan, aos 51 anos soma mais que o dobro da idade do filho, Samir El Hassan, com seus joviais 25, mas os dois dividem mais do que a filiação – dividem também a profissão.
Zaher decidiu trabalhar com tecnologia quando ainda era um jovem de 20 e poucos anos e vivia em sua terra natal, o Líbano. Estudou Arquitetura, mas migrou para Tecnologia da Informação por sugestão de um professor. Deu tão certo que depois de se formar ele emendou uma especialização e em seguida, um passeio no Brasil. Queria conhecer outros ares e culturas, mas se manteve aberto às possibilidades. E elas apareceram. A viagem de férias se transformou em mudança e Zaher encontrou outro lugar no mundo para chamar de lar.
Após se estabelecer na profissão, veio a hora de encontrar pouso na vida. O libanês casou, vieram os filhos e, algumas décadas depois, Zaher ingressou na empresa onde – ainda sem saber – ele também veria um de seus descendentes começar a vida.
Zaher ingressou na Mouts TI, empresa em que trabalha atualmente, em maio de 2018 e atua como gerente de projetos. Em 2021, precisou de um profissional específico para um projeto e percebeu que o filho tinha a qualificação necessária. A indicação foi aceita e, apesar de estarem juntos, Samir tinha outro profissional como gestor. “Até aquele momento eu não tinha trabalhado com ele, foi o primeiro contato que tivemos. Eu coloquei ele com outro gestor e falei ‘Eu não conheço como ele é (no trabalho). Você acompanha e me dá seu feedback’. Depois de algumas semanas ele falou ‘O teu menino é bom’. Tenho muito orgulho de ouvir isso”.
Legado tec
Mesmo tendo crescido às voltas com computadores, games e a rotina do pai, a tecnologia não era a primeira opção de Samir. “No início eu queria fazer Nutrição, mas depois pensei melhor e acabei indo para TI. Sempre tive muita facilidade com computador e indiretamente, vivenciando o dia a dia do meu pai, acabei sendo influenciado. Não foi totalmente, mas teve a influência dele, sim”, admite o desenvolvedor de sistemas, que também é colaborador da Mouts TI.
Apesar de estarem na mesma empresa, hoje Zaher e Samir não trabalham diretamente juntos pois atuam em projetos diferentes. Pai e filho sequer moram juntos: enquanto Zaher está em Florianópolis, Samir vive em São Paulo. Os encontros, majoritariamente virtuais, são constantes e têm a tecnologia como pauta – às vezes. Mesmo acreditar que não incentivou tanto a carreira do filho – “O que eu tive de influência foi trazer ele pra Mouts”, diz Zaher – ele reconhece a importância da orientação e entende que deixa, de certa forma, um legado para suas futuras gerações.
“A tecnologia mudou muito desde quando eu estudei, era totalmente diferente e eu me sinto muito feliz (de ele ter escolhido a mesma área), porque é uma coisa na qual você estuda lógica, formas de resolver problemas, ensina a resolver coisas na nossa vida, resiliência em situações em que precisa pensar e tomar decisões, então é muito gratificante”, celebra o pai.
Para Samir, que enxerga continuidade no fato de ter escolhido a mesma profissão, a oportunidade de trabalhar com Zaher também demonstra o acerto de sua escolha. E ele faz planos de atuar diretamente com o pai no futuro. “É possível, até cheguei a maturar algumas ideias, e seria só facilidade, então sim, e eu ficaria bem feliz”, ressalta, antes de ouvir um último conselho do pai durante a conversa:
“Da forma que a tecnologia está mudando, as coisas são muito dinâmicas, a nova geração precisa se atualizar muito, quanto mais puder evoluir para especializações, é um passo importante”, finaliza o pai – mandando o filho estudar.