Brasil amplia exportação de ovos, mas mercado interno segue pressionado

Embarques cresceram 57,5% em fevereiro, mas especialistas descartam impacto nos preços nacionais.

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Enquanto o preço do ovo de galinha segue elevado no Brasil, as exportações do produto registraram um crescimento expressivo no início de 2025. Em fevereiro, o volume embarcado para o exterior aumentou 57,5% em comparação ao mesmo período do ano passado, totalizando 2.527 toneladas. Apesar desse avanço, especialistas do setor garantem que a alta nos preços do mercado interno não está relacionada ao aumento das exportações.

De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), apenas 0,9% da produção nacional de ovos é destinada ao mercado externo, e a previsão para 2025 é de que as exportações alcancem 35 mil toneladas – um número pequeno frente às 3,6 milhões de toneladas produzidas no país.

O ovo é um dos ingredientes mais versáteis e indispensáveis na culinária, sendo utilizado na produção de uma ampla variedade de alimentos. Ele está presente em massas, pães, bolos, biscoitos e tortas, garantindo estrutura e maciez às receitas. Além disso, é essencial na fabricação de maioneses, molhos, cremes, massas frescas e doces como pudins e mousses.

No setor industrial, o ovo também é amplamente empregado na produção de alimentos processados, como embutidos, massas instantâneas e panetones. Sua função vai além da nutrição, pois age como emulsificante, espessante e agente de liga, tornando-se um insumo fundamental para a indústria alimentícia e para o dia a dia das cozinhas brasileiras.

Principais mercados internacionais

Os Emirados Árabes Unidos lideraram as compras de ovos brasileiros em fevereiro, com 548 toneladas importadas. Logo atrás, os Estados Unidos adquiriram 503 toneladas, registrando um crescimento de 93,4% nas importações. Outros mercados de destaque foram Chile (299 toneladas), México (252 toneladas), Japão (215 toneladas) e Angola (203 toneladas).

A diversificação dos destinos reflete a crescente aceitação do ovo brasileiro no mercado internacional. O Brasil é atualmente o quinto maior produtor mundial, com uma previsão de 59 bilhões de unidades produzidas em 2025. O consumo interno também é alto, estimado em 272 ovos por pessoa ao longo do ano.

Apesar desse cenário, a ABPA afirma que o aumento das exportações não foi determinante para a alta dos preços no mercado interno.

Setor enfrenta desafios internos

Mesmo com o avanço nas exportações, o setor produtivo segue enfrentando dificuldades no mercado interno. O aumento dos custos dos insumos, como milho e farelo de soja, e as perdas na produção devido ao calor extremo nas regiões produtoras impactaram a oferta nacional. O milho, por exemplo, acumula alta de mais de 40% desde março de 2024, pressionando os custos da ração das aves.

Outro fator importante foi o descarte de matrizes poedeiras mais velhas, que não são repostas de imediato, resultando em uma menor produção e oferta de ovos. A ABPA destaca que as temperaturas elevadas também afetaram as granjas, reduzindo os níveis de produtividade em cerca de 10% devido ao estresse térmico nas aves.

Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, essa menor disponibilidade ajudou a manter os preços elevados no atacado, especialmente em polos produtivos como Bastos (SP), maior produtora do país. Em fevereiro, os ovos brancos do tipo extra atingiram uma média de R$ 201,77 por caixa de 30 dúzias na região, um aumento de 42% em relação a janeiro. Já em março, o preço médio parcial até o dia 14 subiu para R$ 210,19 por caixa.

“Apesar das exportações em alta, o maior impacto nos preços internos vem do aumento dos custos de produção e da menor oferta de ovos no mercado brasileiro”, explica Claudia Scarpelin, pesquisadora do Cepea.

Perspectivas para os próximos meses

O comportamento dos preços no mercado interno dependerá do equilíbrio entre oferta e demanda nos próximos meses. Historicamente, após a Quaresma, o consumo tende a se estabilizar, o que pode frear novos aumentos.

No entanto, a manutenção de custos elevados nos insumos, como milho, energia elétrica, combustíveis e embalagens, e os impactos climáticos nas granjas seguem sendo desafios para o setor.

A ABPA avalia que medidas como a redução das tarifas de importação de aminoácidos essenciais para a ração (Treonina, Triptofan e Lisina) e de resinas plásticas poderiam ajudar a aliviar os custos de produção e, consequentemente, reduzir a pressão sobre os preços dos ovos no mercado interno.

Com uma produção robusta e exportações crescendo, o Brasil se consolida como um dos grandes players globais do setor, mas o desafio interno segue sendo garantir preços mais acessíveis para o consumidor final sem comprometer a sustentabilidade da cadeia produtiva.