Fotos: fornecidas por Camila Ern Leduc
Blumenau terá a primeira representante feminina no Ironman, uma prova que precisa de muita energia e preparo físico. Entrevistamos Camila Ern Leduc, que se prepara para participar neste domingo (31/05) da 15ª edição do Ironman Brasil Florianópolis, válido pelo campeonato latino americano.
O desafio nesta prova é nadar 3,8 Km, pedalar 180 Km e correr a pé outros 42,192 Km. O trajeto dá duas voltas em torno de Florianópolis, partindo de Jurerê, indo até quase o aeroporto e depois repetindo esse trajeto.
De acordo com Camila, neste ano estarão competindo 2.200 atletas, onde a categoria profissional larga um pouco antes. Enquanto eles vivem disso, os amadores vão para lá completar as provas e se superar. É o caso de Camila, que ressalta: “Não vou para ganhar. Ganho de mim mesma, supero o meu limite.”
OBlumenauense: É a primeira prova de Ironman que você participa?
Camila Ern Leduc: Inteira sim, mas já fiz dois meios Ironman, onde não cheguei a ter colocação expressiva. O importante é completar a prova, que é a metade da distância, ou seja, 1,9 Km de natação, 90km de bike e 21km de corrida. A primeira que participei foi o Challenge em Florianópolis, em dezembro do ano passado. A outra foi em Brasília no mês de abril deste ano, na capital federal. O Ironman 70.3 Brasília, é o campeonato latino americano de meio Ironman.
OBlumenauense: Como começou seu envolvimento com o Ironman?
Camila Ern Leduc: Estou envolvida com o esporte desde pequena, assim como toda minha família. Eu fui atleta de natação desde criança e durante toda a adolescência, só parei na época da faculdade. Depois que me formei, comecei a correr de novo com meu pai. Foi nas competições de Triathlon que conheci o meu marido que também é atleta, onde acabei entrando de vez nesse mundo. Mas eu entrei mesmo em 2013, depois que ganhei uma bicicleta. A partir daí comecei a juntar os três esportes: voltando a nadar, já estava correndo e comecei a pedalar.
No início eram só provas menores, os chamados Triathlon Shorts. São distâncias menores, que duram em torno de 1h à 1h30min. Observando os outros competirem, fomos em busca de desafios maiores. Tanto meu marido (Yan Leduc) quanto meu pai (André Ern), já tinham feito as provas inteiras do Ironman. Aí decidi fazer a inscrição para o inteiro.
OBlumenauense: O seu pai compete profissionalmente?
Camila Ern Leduc: Não, sempre foi amador. O pai começou a fazer Triathlon faz uns 10 anos. Meu marido também, mas eu só o conheci há 6 anos, quando fui assistir uma prova do meu pai em Cabeçudas. Daí começamos a namorar e acabou em casamento.
Hoje eu só compito de forma amadora, tenho minha profissão e trabalho. Sou representante comercial, trabalho com compra e venda de medicamentos. No ano passado meu pai completou toda a prova do Ironman, um presente que ele se deu de 50 anos. Meu marido já fez 4 vezes e está indo para a 5º.
OBlumenauense: A informação de que você é a única mulher de Blumenau a competir em uma prova do Ironman procede?
Camila Ern Leduc: Confere! Acompanhamos estas competições desde o começo, sempre fomos do meio do Triathlon através do meu pai e todos os amigos que fazem Ironman. O pessoal é bem unido, conhece todo mundo. Por isso sabemos que nunca teve um mulher da cidade participando desta modalidade.
OBlumenauense: Como é a sua rotina de treinamento? Afinal tem que ter um condicionamento físico muito bom para esse tipo de prova.
Camila Ern Leduc: Pesado, porque tem que ter muita disciplina e determinação. Para mim há uma facilidade a mais, pelo fato do meu marido também treinar e não termos filhos. Eu treino praticamente todos os dias ao meio dia e a noite, sem exceção.
OBlumenauense: Como é a sua rotina de treinamento? Afinal tem que ter um condicionamento físico muito bom para esse tipo de prova.
Camila Ern Leduc: Varia entre natação, pedal, corrida e musculação. Geralmente nas segundas-feiras faço um treinamento mais leve, só musculação, porque viemos dos treinos mais pesados do final de semana. Na terça-feira nado ao meio dia e faço bike à noite; enquanto na quarta geralmente pratico uma corrida. Como eu tive uma lesão no joelho por causa da sobrecarga de atividades, estava correndo somente dentro da água. Quinta repete com natação e pedal, enquanto na sexta geralmente faço musculação e uma corrida mais longa. No sábado e domingo, acontecem os treinos mais longos, onde saímos para pedalar na rua com distâncias que variam de 100km à 160km.
OBlumenauense: Quais os trajetos que normalmente vocês fazem de bike?
Camila Ern Leduc: Blumenau é bem complicada para pedalar. Por isso usamos a bicicleta somente no final de semana, enquanto nos outros dias pedalamos na academia. Não vamos às ruas porque é muito perigoso. Daí pedalamos uns 40km em direção à Pomerode, saindo do trevo da BR-470, e seguindo pela Rua Werner Duwe, onde o acostamento é bem tranquilo.
Também pedalamos pelas Ruas das Missões, República Argentina, Silvano Cândido da Silva Sênior, aquela que vai para a BR-470. Um circuito que geralmente começa na Teka. Mas também só é possível ir aos domingos, já que tem menos movimento. Mesmo no sábado é bem complicado. E não dá para ir sozinha, tem que ser em grupo. Como em algumas ruas não tem acostamento, temos que pedalar na pista e aí o pessoal toca encima mesmo. O grande problema é nas ruas das Missões e República Argentina. Apesar da pista dupla, os carros avançam no ciclista que está na via.
OBlumenauense: Então o que dizem nessas campanhas desenvolvidas sobre a falta de respeito do motorista em relação ao ciclista, conferem totalmente com a realidade. Não é exagero, certo?
Camila Ern Leduc: A gente procura participar de todas essas campanhas, porque é bem complicado para nós que estamos na rua. Nesse ano um colega que estava treinando sozinho, acabou sendo atropelado por um ônibus na Rua República Argentina, perto da Concessionária Strasbourg. O motorista do carro que vinha atrás dele testemunhou que o ônibus foi de propósito em cima do ciclista.
Apesar de ter a ciclovia, mas não tem calçada, ela acaba dividindo as duas funções. Nós que treinamos com velocidade de 40 km/h, não temos como andar na ciclovia porque tem buraco, pessoas caminhando e crianças. Neste trecho em especial, os motoristas vão encima mesmo dos ciclistas, achando que nós deveríamos estar na ciclovia. Mas existe uma lei que determina a velocidade máxima de 25 Km/h em ciclovias, só que a maioria das pessoas não sabem disso. Foi exatamente o que aconteceu com nosso amigo, que quebrou a bicicleta e se machucou bastante. Felizmente não fraturou nada.
OBlumenauense: Qual foi a melhor colocação que você conseguiu como atleta?
Camila Ern Leduc: Em provas menores de Triathlon aqui na região, eu já fui campeã na minha categoria (25-29 feminino). Foi o caso de Balneário Camboriú que já ganhei. Nas provas da FETRISC (Federação de Triathlon de SC), geralmente fico entre as três primeiras posições.
OBlumenauense: Qual competição você ficou em primeiro?
Camila Ern Leduc: Foi no GP Winter, um Triathlon Short lá em Balneário Camboriú. Mas nessas provas maiores, é mais difícil. Essas que nós geralmente participamos são mais regionais, tem em torno de 300 atletas. Já nas nacionais participam de 1 mil a 1.500 atletas, um nível bem maior. Eu que sou amadora, não tenho pretensão de competir com os profissionais.
Na categoria 18-24 é a que tem menos pessoas, porque é um esporte que exige muito preparo psicológico e disposição de tempo. Na faixa dos 35 até os 50 anos, tem muita gente que pratica o Triathlon.
OBlumenauense: Você pensa em ser profissional?
Camila Ern Leduc: Não, na verdade é mais um esporte, um hobby que a gente leva meio que como profissional porque exige muito tempo e determinação.
OBlumenauense: O seu pai, aos 50 anos, também tem essa rotina de preparo?
Camila Ern Leduc: Sim, treina bastante, mas agora é um pouco menos. Porque existe um ciclo, que começa em janeiro com o Ironman, em que ficamos 100% focados. Depois, durante o ano, ele continua treinando, mas sem a mesma intensidade. É uma vez por dia, no sábado ou domingo, mais leve, para hobby mesmo.
OBlumenauense: Mesmo assim é um vida dedicada ao esporte.
Camila Ern Leduc: Sim, totalmente. Em vez de ficar em um churrasco até às 3h da manhã, vamos dormir cedo, porque temos que treinar no outro dia. Temos o mesmo objetivo. Saímos, jantamos e no máximo às 22h estamos em casa. Uma vida de atleta, mas sem ser profissional.
OBlumenauense: O que poderia ser feito para estimular mais a prática do esporte em Blumenau?
Camila Ern Leduc: Em Blumenau nós temos associação blumenauense de Triathlon, a ABTRI, com cerca de 70 associados. A grande maioria que treina esse esporte na cidade está na associação, onde todos competem, cada um no nível e categoria, prova curta ou longa. Hoje são doze homens no Ironman e eu sou a única mulher. Nós sempre procuramos incentivar o Triathlon através de provas ou treinos coletivos. Para a pratica a natação tem diversas opções, como o SESI ou clubes. Eu sou associada do Bela Vista (Country Club) e minha mãe tem academia de natação, Acqua e Sports, onde treino na piscina aquecida no inverno. Na corrida, dá para correr na rua tranquilo
Mas falta estrutura principalmente para o ciclismo. Na Rua Silvano Cândido por exemplo, está ficando difícil, porque como estão construindo o presídio, tem muito movimento de caminhões e a pista está cheia de barro. Acredito que depois de pronto, o movimento irá aumentar mais ainda. Nossa melhor opção será na Rua Werner Duwe, onde o acostamento é largo, tem pouco movimento e os motoristas não ficam próximos às bikes.
OBlumenauense: Com que periodicidade vocês se reúnem para os treinos coletivos?
Camila Ern Leduc: Nós temos um grupo no WhatsApp e combinamos de acordo com o tempo de cada um, mas evitamos ir sozinhos, até pela segurança. No mínimo tem 2 ou 3 pessoas. Mas às vezes juntam até 20. Cada um faz a sua distância de acordo com seu ritmo. Depois todos se juntam no retorno ou em algum posto de combustível para tomar uma água ou um energético.
OBlumenauense: E como vocês vão para o evento neste final de semana com o grupo?
Camila Ern Leduc: Cada um se vira sozinho, vai com seu carro e escolhe hospedagem. Mas nós geralmente ficamos em uma pousada de Florianópolis, onde alguns alugaram apartamentos. Mas depois ficamos todos juntos.