Blumenau e suas histórias: conheça um pouco da Casa Salinger

Foto: Arquivo Histórico Prof. José Ferreira da Silva

 

 

 

 

Foto: Arquivo Histórico Prof. José Ferreira da Silva

 

Por Ana Maria Ludwig Moraes | Historiadora

Precisamos de um espaço só para ele: Gustavo Salinger. Alemão que aportou no Brasil em 1876 e que se instalara inicialmente em Brusque, veio para Blumenau como responsável pela firma de Guilherme Asseburg, de Itajaí, onde também estivera. Aqui abriu sua própria firma, a Gustav Salinger e Cia, com filiais em diversas localidades sob a denominação de Casa Salinger .

Inicialmente com uma grande loja no início da Rua XV de Novembro, onde os produtos oferecidos abrangiam uma extensa gama, como se pode conferir em anúncios publicados no “Blumenauer Zeitung” de 19 de julho de 1884:

 

 

GUSTAVO SALINGER
No atacado —– no varejo
Recomenda seu bem sortido estoque de
produtos finos, manufaturados e de ferro.
Princípios comerciais:
“Vender barato, para atingir elevada quantidade de negócios”
Gustavo Salinger

 

 

 

Comunico aos senhores sapateiros de que recebi vindo do Rio de Janeiro
Couro envernizado, couro de forração e couro de bezerro
de excelente qualidade, bem como tecido adamascado e elástico de seda de alta qualidade.
Gustavo Salinger

 

 

 

Cimento Portland
Em toneis pequenos, chapas de lata, chumbo e pólvora – tudo a preços bastante favoráveis.
Gustavo Salinger.

 

 

 

Compro todos os produtos
coloniais adequados para a exportação mediante
pagamento em dinheiro no ato ou posteriormente
Gustavo Salinger

 

 

 

Máquinas de costura
Reconhecidamente os melhores sistemas, tais como:
Singer, Taylor e Brazileira
Vendo a preços baixados significativamente.
Gustavo Salinger

 

Salinger logo percebeu que trabalhar com produtos coloniais e beneficiá-los era um negócio promissor. No último quartil do século XIX, pode-se dizer que não havia produto colonial com o qual este não trabalhasse. Em uma unidade produtora na Itoupava Seca, beneficiava banha e manteiga, fabricando a latoaria própria para o acondicionamento e exportação. Fazia a escolha e seleção de fumo em folha, produzia então cigarrilhas e charutos, com uma expressiva produção, nestes produtos manufaturados e também vendia o fumo selecionado atingindo a marca de 10 mil arrobas ao ano, o que era uma considerável contribuição ao mercado consumidor e entrada de recursos à Colônia. Ainda, beneficiava arroz em grande escala, tinha uma fábrica de arame farpado e uma serraria que produzia móveis, esquadrias e tacos para assoalhos.

Produzindo e exportando, era também grande importador e possuía praticamente tudo que os artífices, colonos e pequenos industriais poderiam necessitar para incrementar seus negócios. Dava especial atenção às ferramentas necessárias para uso nas lavouras promovendo e facilitando o desenvolvimento da agricultura e pecuária.
Salinger encontrou um parceiro vital para o desenvolvimento e fortalecimento de seus negócios: Pedro Cristiano Feddersen, um imigrante que viera para o Brasil com 22 anos em 1879. Associados, criaram entre outros, uma grande casa comercial em Itoupava Seca com anexos industriais destinados ao beneficiamento de produtos coloniais, preparando-os para a exportação. Estes empreendimentos ficaram sob o gerenciamento de Feddersen e se expandiu enormemente.

Salinger, com apoio de Feddersen, estabeleceu uma razoável cadeia de circulação de mercadorias, produtos e serviços que facilmente o capitalizou. Assim, sua empresa esteve à frente de inúmeras iniciativas de melhorias e criação de infraestruturas necessárias ao desenvolvimento da Colônia.

Podemos nomear entre as mais importantes obras nas quais esteve à frente – a construção de uma estrada de cargueiros rumo ao planalto (importante para o escoamento de produtos coloniais abrindo mercados e competindo com os produtos vindos de São Paulo e facilitaria ainda o acesso daquela região ao transporte fluvial e marítimo), Companhia de Navegação Fluvial a Vapor Itajaí-Blumenau e a Usina do Salto. Note-se que todos estes empreendimentos foram essenciais para o desenvolvimento da Colônia.

Nas iniciativas políticas, culturais e sociais, Salinger também participou ativamente, estando seu nome ligado a diversas instituições culturais, beneficentes e representativas de classe tais como Sociedade Teatral Frohsinn, a Kulturverein , Escola Nova, a primeira Loja Maçônica de Blumenau, Associação Comercial do Vale do Itajaí (posteriormente ACIB)…não raro atuava também como ator nas apresentações de teatro. Exerceu cargos de natureza política e de liderança comunitária, sendo filiado ao Partido Federalista e posteriormente ao Partido Republicano como vereador, delegado de polícia, cônsul honorário da Alemanha.

Gustavo Salinger, com agitada vida política, comercial, cultural e industrial no final do século XIX, viveu ainda até 1920, quando veio a falecer após longa enfermidade.

 

¹ MEMÓRIA POLÍTICA DE SANTA CATARINA. Biografia Gustavo Salinger. 2019. Disponível clicando aqui. Acesso em: 16 de novembro de 2019

² BC 1976 ed 09 pg 348

³ Associação que tinha por objetivo o desenvolvimento da agricultura e pecuária através do compartilhamento de conhecimentos e experiências adquiridas pelos colonos. Ocorriam reuniões semanais onde sempre havia a palestra de um dos associados.