Essa é conclusão que chego andando pelas ruas de Blumenau. Nunca vi tanto resíduo (lixo) pelas sarjetas, barranca de rios, calçadas, terrenos baldios, …. Claro que não é um fenômeno exclusivamente Blumenauense, mas éramos uma cidade muito mais limpa do que somos hoje. Eu me questiono onde nos perdemos.
No dia 24 de setembro de 2022 a cidade recebeu um grande presente, o evento “Nosso Rio”. Promovido pela Unimed com apoio de inúmeras entidades como SAMAE, Polícia Militar, Bombeiros, Clube Náutico América, Instituto Água Conecta, entre outros. Foram mais de 100 voluntários para limpar pequenos trechos de nossos rios (Velha, Garcia e Itajaí-açú). Em 3 horas, foram removidos mais de 3000 kg de resíduos (lixo) que estavam em suas margens.
Será que a culpa é do serviço público? Discordo, é impossível o serviço público dar conta do trabalho se todos os cidadãos resolverem eliminar seu lixo pelas vias públicas, como alguns tem feito. Claro que a gestão pública precisa ter equipes de varrição nas ruas e logística para recolher o que é depositado nas lixeiras. Assim, é importante que o lixo seja depositado no local adequado para que possa ser removido, evitando assim a proliferação de vetores de doenças como mosquitos e ratos.
O lixo que geramos é nossa responsabilidade. Quando você consome algo, o descarte adequado faz parte do ciclo do produto que foi adquirido. O nosso conforto está custando caro.
O mundo do descartável está fazendo com que tenhamos resíduos espalhados por todos os lados. Para confirmar, é só buscar uma praia no inverno, pode ser uma mais remota, você encontrará muito resíduo trazido pelo mar como sacolas plásticas, tampas de garrafa, embalagens de alimentos, entre muitos outros.
Como isso acontece? Tudo o que fica pelas ruas, com o vento e as chuvas vai para os rios, que são as áreas mais baixas. E a água desse rio, alcança outro rio maior, ou outros, e chega até a foz deste no mar.
Além do mais, comumente lugares bonitos como trilhas, mirantes, pequenos rios, são buscados para contemplação da natureza, mas lá são deixados resíduos (lixos) que não tem nenhuma relação com a proposta. Para mim, uma completa contradição. Quem quer frequentar um mirante ou uma praia suja?
Quando as garrafas eram de vidro e para beber um líquido fora de casa você precisava parar em um local e consumir a bebida ali mesmo, havia menos latas e garrafas pelas ruas.
O mesmo vale para os alimentos. Será que realmente evoluímos nesse aspecto? Por outro lado, eu me questiono sobre qual é a real dificuldade em levar o próprio resíduo até uma lixeira. Para finalizar, fica a reflexão: qual o mundo você escolhe viver?
Rubia Girardi é química, mestra e doutora em Engenharia Ambiental. Pesquisadora visitante na Universidade do País Vasco (Bilbao, Espanha). Presidente da Comissão Técnica de Assuntos Institucionais e Legais – CTIL e da Comissão Técnica de Enquadramento do Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH/SC). Revisora da Revista de Gestão de Água da América Latina (REGA). Presidente do Instituto Água Conecta. Consultora da Diretoria de Recursos Hídricos e Saneamento (órgão gestor estadual) da Secretaria de Desenvolvimento Econômico Sustentável do Estado de Santa Catarina. Pesquisadora e consultora na área ambiental desde 2014 com projetos na área de governança dos recursos hídricos, saneamento, monitoramento e qualidade de água, tratamento de dados ambientais.