Por Dalton Morishita
“Fui demitido, e foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida!” Por mais estranho que pareça, não é incomum eu ouvir isso dentro de uma sala de entrevista. Ao contrário do que muitos pensam, não existe só ‘um lado ruim’ na perda de um emprego, afinal uma demissão pode sim trazer grandes oportunidades de carreira.
Mas isso só é uma verdade quando os profissionais conseguem colocar o medo e as incertezas desse momento de lado, e enxergar as diversas possibilidades de fazer uma pausa construtiva e reavaliar o planejamento e as decisões profissionais.
O Brasil está, há alguns anos, passando por uma crise econômica, e apesar do primeiro trimestre de 2019 demonstrar uma melhora no otimismo das pessoas e na economia, os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o desemprego no país ainda assustam os profissionais.
O levantamento realizado pela instituição e divulgado em março de 2019 revela que a taxa de desemprego no Brasil está em 12,4%, atingindo um total de 13,1 milhões de pessoas. O atual momento econômico nos coloca dentro do paradoxo do medo e da escassez, onde tendemos a acreditar que uma demissão será o fim da carreira, e que por conta dela nunca nos recolocaremos no mercado.
Sem dúvida aprender a lidar com uma demissão é um grande desafio já que esse costuma ser um momento delicado na vida dos profissionais. Longe de mim dizer que é algo fácil, até porque já passei por isso e sei o quanto mexe com a nossa autoavaliação profissional e autoestima, mas mesmo assim, no meu ponto de vista, até uma demissão pode ser entendida de uma maneira mais otimistas.
É comum conversarmos com pessoas que após terem sido demitidas se sentem traídas pela empresa, e passam a se sentir sozinhas e perdidas por não estarem mais ligadas às pessoas que a cercavam no ambiente profissional. O luto é natural em todo processo de mudança, e o profissional tem que aprender a vivenciar e respeitar todas as fases desse período para, no momento certo, retomar ações proativas em função da vida profissional.
Não tem como se preparar para uma demissão, mas é possível exercitar um olhar mais positivo sobre esse período. Eu gosto de incentivar os candidatos a perceberem o desligamento da empresa como uma oportunidade para fazerem o que eles amam. Dedicar-se a um hobbie, estudar algum assunto que seja de grande interesse, planejar uma viagem com a família que há muito tempo já é postergada e quem sabe até planejar um ano sabático para refletir sobre gostos, escolhas e até para se conhecer melhor, enfim, dedicar-se a prazeres que possam ter ficados esquecidos devido a uma rotina de trabalho exaustiva.
Não existe um passo a passo, afinal cada pessoa tem o seu próprio tempo, e se uns saem da demissão prontos para procurar outro emprego e se dedicarem a novos projetos, algumas pessoas preferem viver uma pausa na carreira. Por isso, eu gosto de pensar em cinco etapas que serão um guia para enxergar as oportunidades de uma demissão.
#1 Reflexão: A primeira certamente é a reflexão, ou seja, entender os motivos do desligamento, fazer uma autoanálise sobre seus pontos fracos e se eles foram os motivos.
Procure relembrar suas conversas com seu ex-chefe, líderes e/ou outros colegas de trabalho para relembrar quais feedbacks construtivos quanto ao seu desempenho no trabalho você pode resgatar. Da mesma forma, caso tenha abertura ou oportunidade pergunte sobre isso para pessoas que são ou que estavam próximas a você. Não é todo mundo que consegue ter uma conversa franca sobre suas falhas na carreira, mas se você tiver essa oportunidade, de ouvir o que outras pessoas apontam sobre seus pontos de melhoria, não desperdice.
Nesse sentido faça algumas perguntas a si mesmo. O que eu fiz de bom enquanto trabalhei nessa empresa? O que eu não fazia tão bem? No que eu poderia ter me dedicado mais? Como eu poderia melhorar? O que eu aprendi de útil nesse ambiente de trabalho? O que eu quero que permaneça na minha vida profissional e o que eu quero mudar daqui para frente? Quais redes de networking eu construí e posso manter?
#2 Viva o luto: A segunda fase diz respeito a viver o luto da demissão. Permita-se ficar triste pelo que aconteceu, dê espaço para as lamentações e para o que você perdeu, mas não deixe que esse luto reduza as suas capacidades e nuca coloque-se pra baixo e duvide da sua capacidade profissional. Mesmo seus pontos de melhoria não descrevem ou reduzem você às capacidades que te faltam. Afinal você pode trabalhar para melhorar todos os seus aspectos e lembrem-se, você também tem qualidades e pontos fortes!
#3 Defina novas rotas: Uma vez superada a fase de fossa, é hora de fazer um planejamento e definir um foco, uma meta. Essa meta pode ser tanto uma empresa dos sonhos, quanto um projeto apaixonante, o aprimoramento de uma habilidade, voltar a estudar, fazer uma transição de carreira ou mesmo empreender. A hora de planejar é o momento de sonhar alto, imaginar aquilo que você ama fazer, aquilo que você tem vontade de realizar e que te faria feliz todos os dias, descobrir o seu propósito e apaixonar-se por ele. Quando temos clareza sobre onde desejamos chegar todas as nossas ações convergem para realização dessa meta.
#4 Parta pra ação: Foco no objetivo, meta traçada e planejamento no papel, faça um plano de ação que te coloque um dia após o outro mais próximo do seu objetivo. Se no planejamento a cabeça está nas nuvens e os sonhos são grandes, no plano de ação os pés estão no chão e é hora de dar um passo de cada vez. Imagine longe, mas execute apenas focando o resultado do dia seguinte. Para manter-se determinado em suas conquistas quantifique suas ações. Estipule uma meta de encontros de networking para fazer toda semana, quanto tempo irá dedicar-se para o envio de currículo, etc. Escolha seus alvos ao invés de atirar para todos os lados e perceba que as vezes o resultado é muito mais sobre qualidade do que sobre quantidade.
#5 Defina a estratégia: Eu costumo comparar a busca por recolocação profissional ao funil de vendas. Se no funil de vendas você precisa atingir um grande número de pessoas na primeira camada para converter a venda de alguns clientes, o funil de carreira é parecido, você deve ligar para inúmeros contatos de networking para que poucos deles aceitem tomar um café e falar sobre carreira. No entanto, mesmo a primeira camada do funil de vendas sendo quantitativa ela não é desqualificada, ou seja, são ‘potenciais clientes’ que realmente se interessam por seu produto, ou seja, para uma estratégia de funil de vendas realmente funcionar ela precisa contar com inteligência na captação dos leads. Dessa forma, sem definição de estratégia não há resultados.
Por fim, a frase “fui demitido, e foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida!” só se torna uma verdade se o profissional estiver disposto a sair da sua zona de conforto e encarar a demissão de uma maneira mais positiva, olhando para as inúmeras possibilidades, ao invés de lamentar-se pelo que ficou para trás. Lembre-se, em toda a crise há oportunidades e, se aquilo (in)felizmente aconteceu algum ensinamento pode ser retirado disso.
* Dalton Morishita é headhunter na Trend Recruitment, graduado em administração de empresas com especialização em Business pela Australian Professional Skills Institute.