Ainda filhotinha, a lontra Valentina foi encontrada sozinha, com ferimentos no corpo e muito debilitada em uma zona rural de Santa Catarina. Espécie ameaçada, não sabia nem se alimentar ou se defender e, por isso, embora seja um animal silvestre, precisou de cuidados veterinários para sobreviver.
Assim como ela, há várias espécies silvestres ou que correm risco de extinção, que sofrem atropelamentos ou ferimentos e os fazem precisar de cuidados humanos. Um dos mais antigos centros de atendimento com esse foco, o Bioparque Zoo Pomerode realiza o trabalho há nove décadas e, ao longo desse período, chegou a registrar até 100 atendimentos por ano. “Por sermos um ambiente de cuidado, sempre fomos procurados pela população e os órgãos responsáveis”, explica o procurador da Fundação Hermann Weege, Maurício Bruns.
O trabalho desenvolvido no local é focado na recuperação das espécies de forma com que elas possam retornar ao seu habitat. Bruns conta que, por isso, buscam realizar um tratamento respeitando os hábitos de cada espécie, que garanta uma melhora significativa. Após receber a alta veterinária, o órgão ambiental competente é acionado para que o retorno do animal ao seu ambiente seja realizado. “Mantemos o histórico sobre a área onde foi encontrado, para que a liberação seja em local próximo”, comenta.
Para oferecer socorro às espécies encontradas, o Centro de Cuidado Animal do Bioparque Zoo Pomerode conta com estrutura ambulatorial para atendimento e internação e uma equipe formada por médicos veterinários, biólogos, zootecnistas e tratadores.
Equipe precisa ensinar o que uma “mamãe” ensinaria
No entanto, há situações que impedem o retorno das espécies ao habitat, como quando sofrem sequelas, por exemplo, de locomoção ou visão. É o caso de animais encontrados com alguma lesão de membro. Ou ainda quando são resgatados filhotes e não sabem as técnicas de autodefesa em ambiente selvagem ou formas de buscar o próprio alimento. Exemplo disso é o Mango, pequeno tamanduá-mirim que precisou ser “adotado” pela equipe de técnicos da instituição. “Nossa função é simular o que a mãe faria, como aleitar, ensinar a comer sozinho, proteger e, até mesmo, aquecer”, explica o Zootecnista do Bioparque, Matheus Montanari. Conforme o crescimento do Mango, a equipe irá iniciar a sua adaptação para convivência com os outros três tamanduás-mirins do Zoo Pomerode.
Acolhimento de espécies ameaçadas e vulneráveis
Entre os animais que receberam suporte do Bioparque Zoo Pomerode nos últimos anos, centenas foram apontados pelos órgãos ambientais como espécies ameaçadas ou vulneráveis, como o bugio-ruivo Alexsander, encontrado na rua sem conseguir se mover por uma fratura nos ossos do quadril e ferimentos no dorso. Após oito meses de um tratamento delicado, o primata se recuperou e hoje vive ao lado da fêmea Nina, com quem teve cinco filhotes.
Atendimento para animais do Brasil
Considerado o maior zoológico de Santa Catarina, o Bioparque Zoo Pomerode acolhe animais de outras regiões do país, tendo registrado atendimento para espécies resgatadas nos três estados do Sul, além do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Mato Grosso, Maranhão, Amazonas, Bahia e São Paulo, de onde vieram as onças-pardas Coco (macho) e Nala (fêmea). Embora resgatados em épocas diferentes, ambos possuem histórias parecidas.
Foram encontrados pela Polícia Militar Ambiental paulista após serem atropelados em fazendas do interior e precisaram passar por meses de tratamento veterinário até a recuperação. “Após sua recepção pelo Bioparque, eles tiveram uma ótima adaptação e hoje vivem em harmonia com outra onça-parda”, explica o biólogo do Bioparque Zoo Pomerode, Anderson Augusto.
Quem procurar?
Caso a comunidade identifique algum animal silvestre ferido, deve procurar os órgãos indicados para o resgate, como o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), ligado ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Polícia Ambiental ou o Instituto do Meio Ambiente dos estados.
Foto: Divulgação/Zoo Pomerode