Aipim da Terra Preta de Itajaí busca selo de origem e pode virar referência nacional

Cultivado em solo rico em matéria orgânica de origem marinha, tubérculo ganha força com apoio de produtores, Univali, Sebrae, Epagri e prefeitura no processo para obter Indicação Geográfica.

Solo é rico em matéria orgânica e produz aipim mais nutritivo devido aos compostos fenólicos | Foto: Divulgação/Epagri

Macio, adocicado e de preparo rápido, o Aipim da Terra Preta de Itajaí pode conquistar o reconhecimento como Denominação de Origem (DO), um dos tipos de Indicação Geográfica (IG) concedidos pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Cultivado em solo poroso e escuro, rico em matéria orgânica marinha, o produto tem características únicas que vêm sendo estudadas e documentadas por um grupo formado por agricultores, instituições de pesquisa e órgãos públicos.

O movimento para obter o selo começou a ganhar forma em 2019, quando o agrônomo e extensionista da Epagri, Antônio Henrique dos Santos, identificou o potencial do tubérculo e participou de um seminário na Assembleia Legislativa de Santa Catarina sobre Indicações Geográficas. O solo diferenciado, formado a partir da decomposição de fauna marinha milenar, chamou atenção pela presença de restos de conchas e cor escura — como um sambaqui natural —, o que reforça o vínculo do aipim com a região.

O trabalho coletivo se intensificou em janeiro de 2025, com a formação de um comitê envolvendo a Cooperativa de Produtores (Cooperar), agricultores da Colônia Japonesa, Epagri, Univali, Sebrae e a Prefeitura de Itajaí. A iniciativa teve apoio imediato da gestão municipal, que encaminhou a proposta à Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária, com objetivo de garantir o financiamento do projeto.

Para celebrar a nova safra e apresentar os avanços do processo, um evento foi realizado na Cooperar, na localidade de Rio Novo. Participaram os 17 produtores envolvidos, representantes das instituições parceiras, o prefeito Robson Coelho e o vice-prefeito Rubens Angioletti. Após a colheita simbólica, a Univali preparou pratos com base no aipim, como um creme com couve e presunto de parma, além de bombocado com goiabada.

A pesquisadora Albertina Xavier da Rosa Corrêa, química da Univali, coordena os estudos laboratoriais que visam comprovar a superioridade nutricional e sensorial do produto. Serão analisados indicadores como compostos fenólicos, fibras, açúcares, amido e teor de cinzas. Os resultados devem ser divulgados nos próximos seis meses.

Segundo o pesquisador da Univali Evandro Luis Pasa, que atua desde 2023 na articulação do projeto, o diferencial do produto precisa ser comprovado tecnicamente para garantir o selo de DO. Além do solo, entram na análise fatores como a história do cultivo, o modelo produtivo e a organização dos agricultores.

O Sebrae também tem papel fundamental no processo. Atua desde a formalização jurídica da Cooperar até o desenvolvimento de novos produtos com o aipim, indo além da versão descascada e congelada. A consultora Ester de Jesus, especialista em desenvolvimento territorial e IGs, explica que será criado um conselho regulador e elaborado o caderno de especificações técnicas. “A documentação precisa provar o nexo causal entre o produto e o local de produção. Para isso, faremos plantações comparativas em áreas com solos diferentes, como Navegantes e Luiz Alves”, afirma.

A expectativa é de que o dossiê com todos os dados técnicos, históricos e geográficos esteja pronto até outubro. Com isso, o pedido de registro poderá ser protocolado junto ao INPI até o fim de 2025. Se aprovado, o Aipim da Terra Preta de Itajaí poderá se tornar uma nova referência nacional de produto com Denominação de Origem, fortalecendo a agricultura familiar e ampliando o valor agregado do cultivo local.

Com informações de Renata Rosa, jornalista bolsista da Epagri/Fapesc