Adeus a Dom Angélico: Primeiro bispo de Blumenau morre aos 92 anos

Figura histórica da Igreja Católica, e amigo do Presidente da República, ele será velado em São Paulo e sepultado em Santa Catarina.

Fotos: Catedral São Paulo Apóstolo (Soni Robinson Witte) e Dom Angélico (Arquidiocese de Blumenau) | Montagem: OBlumenauense

A comunidade católica e admiradores se despedem de Dom Angélico Sândalo Bernardino, bispo emérito de Blumenau, que faleceu na noite desta terça-feira (15/04/25), aos 92 anos. A notícia foi confirmada pela Arquidiocese de São Paulo, cidade onde o religioso morava atualmente e atuou por muitos anos.

Dom Angélico vinha enfrentando problemas de saúde. Desde novembro do ano passado, passou por um período de internações e cirurgias no Hospital Santa Catarina, na capital paulista. Mais recentemente, estava recebendo cuidados em casa, na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na Vila Zatt, onde veio a falecer.

Despedida em São Paulo e Santa Catarina

Os detalhes do último adeus já foram definidos. Seguindo um pedido do próprio Dom Angélico, haverá um velório em São Paulo nesta quarta-feira (16), a partir das 8h, na Paróquia Nossa Senhora Aparecida (Praça Vinte e Cinco de Novembro, 53, Vila Zatt). Às 15h, o Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Pedro Scherer, presidirá a missa de corpo presente.

Depois da cerimônia em São Paulo, o corpo será trasladado para Santa Catarina. A chegada a Blumenau está prevista para as 10h de quinta-feira (17), na Catedral São Paulo Apóstolo. Uma missa de exéquias (funeral) será celebrada às 14h, seguida pelo sepultamento na cripta da própria Catedral. Essa prática segue uma tradição da Igreja: o bispo emérito é sepultado na diocese onde “se aposentou”.

A Diocese de Blumenau expressou seu pesar em comunicado: “Com profundo pesar, a Diocese de Blumenau comunica o falecimento de Dom Angélico Sândalo Bernardino. Unimo-nos em oração a todos os que partilham deste momento de luto, especialmente aos familiares, amigos e fiéis que caminharam com ele ao longo de sua vida e ministério”.

Uma Trajetória Marcante

Nascido em Saltinho (SP) em 1933, Dom Angélico teve uma vida dedicada à fé e às causas sociais. Estudou filosofia e teologia, e também jornalismo, sendo ordenado sacerdote em 1959. Atuou como padre em Ribeirão Preto (SP) até 1974.

Sua atuação ganhou destaque quando se tornou bispo-auxiliar da Arquidiocese de São Paulo em 1975, cargo que ocupou até 2000. Na capital paulista, especialmente na Zona Leste, ficou conhecido por seu trabalho incansável pelos direitos humanos, ao lado de figuras como Dom Paulo Evaristo Arns. Ele denunciava a violência do Estado (especialmente durante a ditadura militar), marchava com trabalhadores, incentivava a comunicação popular e lutava pelo direito à moradia. Foi um dos representantes do setor progressista da Igreja, participou da campanha pelas Diretas Já (1984) e teve papel importante na descoberta da vala clandestina do Cemitério Dom Bosco em 1990. Sua vida foi retratada no documentário “Dom Angélico e o Grito do Povo”, do Instituto Vladimir Herzog.

Em 19 de abril de 2000, foi nomeado o primeiro bispo da recém-criada Diocese de Blumenau, onde permaneceu até 2009, quando sua renúncia foi aceita por limite de idade. Durante seu tempo em Santa Catarina, também presidiu o regional Sul-4 da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Após a renúncia, retornou a São Paulo.

Amizade com Lula e Repercussão

Dom Angélico era um amigo de longa data do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A amizade começou nos anos 70 e 80, durante as greves dos metalúrgicos no ABC Paulista. O bispo celebrou o casamento de Lula com a primeira-dama Janja em maio de 2022, além de ter casado filhos e batizado netos do presidente. Em abril deste ano, Lula e Janja fizeram uma visita ao bispo já debilitado. Em 2018, a pedido de Lula, celebrou um ato ecumênico em memória da ex-primeira-dama Marisa Letícia.

Ao lamentar a morte, Lula relembrou o amigo nas redes sociais: “Ao longo de nossas vidas, dividimos muitos momentos e histórias. […] Fiquei muito feliz de poder reencontrar meu amigo de longa data. Que Deus esteja contigo, Dom Angélico”. O presidente também destacou uma frase marcante do bispo: “Amai-vos e não armai-vos’ era sua lição para todos nós”.

O padre Júlio Lancellotti, conhecido por seu trabalho com a população de rua e também amigo de Dom Angélico, postou uma mensagem de despedida: “Dom Angélico está no céu, com os anjos louvando a Deus. Gratidão por tudo, querido amigo dos pobres”.