Acordei inspirado pelo clima de Natal e resolvi escrever este texto ambientado em Blumenau, com o objetivo de incentivar a criatividade local. Apesar de descrever um lugar e uma situação reais, trata-se apenas de um conto de Natal, ou seja, uma obra de ficção.
Espero que vocês gostem e que ele desperte a criatividade em outras pessoas. Quem sabe, no futuro, ao invés de lermos contos ambientados em lugares europeus, autores locais passem a usar como cenário esta incrível cidade em que moramos.
A capivara ferida e o homem de barba branca
O Desfile de Natal na noite desta segunda-feira (23/12/24) reuniu uma grande multidão na Rua Alberto Stein em Blumenau. Cerca de 300 participantes, com figurinos iluminados e carros alegóricos percorreram as imediações do Parque Vila Germânica.
Depois de assistir ao espetáculo, um casal com seu filho voltou para o carro estacionado próximo à ponte, ao lado do Parque Ramiro Ruediger. A noite estava calma, o som dos últimos risos e conversas do público ainda ecoava ao longe, mas um movimento repentino no mato, perto do Ribeirão da Velha, chamou a atenção da família.
Todos ficaram tensos e com o coração acelerado. Poderia ser qualquer coisa — talvez alguém escondido ou algo que pudesse causar perigo. Porém, ao se aproximarem, perceberam que se tratava de uma capivara.
O animal estava ferido no focinho. Os seus olhos, profundos e assustados, pareciam pedir por ajuda. O mais impressionante era a docilidade que demonstrava, mesmo naquela situação de dor.
Sem saber como agir, trocaram olhares, procurando uma solução. Foi quando um homem apareceu. Ele tinha uma barba branca que reluzia sob as luzes suaves da rua, e seus olhos transmitiam uma bondade indescritível. Trajava uma camisa vermelha e uma calça. Havia algo no seu jeito que parecia mágico, como se o espírito de Natal estivesse nele.
“Coitada, ela só precisa de um pouco de cuidado” disse o homem, com uma voz serena. Ele se aproximou calmamente, ajoelhou-se ao lado do animal e, de sua sacola, tirou um pano limpo e um frasco contendo algo que não foi possível identificar. Com gestos suaves, limpou o ferimento da capivara. Para surpresa da família, o animal não apenas permitiu, mas parecia tranquilizar-se, como se fosse contagiado pela energia do homem.
Depois de limpar o sangue, ele retirou algumas folhas frescas e ofereceu à capivara, que começou a mastigá-las devagar. Era intrigante o que estava acontecendo, como se estivéssemos presenciando algo que ia além do comum. Mas se tratava apenas de alguém cuidando dos ferimentos de um animal.
“O Natal é tempo de cuidar, de compartilhar bondade” disse ele, com um sorriso que aquecia o coração. Antes que alguém pudesse agradecer ou perguntar quem ele era, o homem se levantou, deu um último olhar carinhoso para a capivara e começou a caminhar. Então, como que por mágica, desapareceu subitamente na noite.
Depois um som parecido com tilintar de guizos, acompanhado de um brilho suave. Eles acharam que talvez fosse a luz do farol de um carro vindo na sua direção, mas, ao olhar, não havia nenhum veículo transitando na rua.
A capivara, mais tranquila, se levantou e seguiu calmamente em direção ao ribeirão da Velha e sumiu na vegetação. Ficamos ali, ainda atônitos, com a sensação de que havíamos presenciado algo especial, um pequeno milagre de Natal.