Texto: Claus Jensen | Entrevistas e fotos: Marlise Cardoso Jensen
O dia 28 de junho de 2016 foi um dia histórico para a medicina em Santa Catarina. Na data, o Hospital Santa Isabel de Blumenau tinha realizado o milésimo transplante de fígado, um procedimento muito complexo. No primeiro semestre do ano, foi o hospital que mais realizou transplantes do órgão no país, superando os números de outros tradicionais.
Essas conquistas tem atraído cada vez mais pessoas não só do Estado, mas do Brasil com a esperança de uma vida nova. Apesar de toda a crise e dificuldades enfrentadas na realização dos transplantes, a equipe multidisciplinar do HSI, com o apoio da SC Transplantes, tem dado esperanças e salvado vidas.
Nesta terça-feira (30/8/16) todas essas conquistas foram comemoradas, primeiro com uma missa na Capela do Hospital às 19 horas, que teve a participação da Irmã Analuzia Schmitz, Diretora Geral do Hospital Santa Isabel. Depois os convidados foram recepcionados às 20 horas no Salão Cristal do Hotel Plaza Hering. Estavam as equipes do ambulatório de transplantes e transplantados; da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de órgãos e tecidos para transplantes; do Centro Cirúrgico, Coordenador da SC Transplantes e transplantados.
OBlumenauense teve o privilégio de estar entre esses convidados e foi representada por Marlise Cardoso Jensen. Como toda luta e conquista tem histórias, fomos em busca das que estão por trás desses números. Conversamos com três pessoas que tem muito a ver com esses resultados.
O primeiro é o Dr. Joel de Andrade, Coordenador da SC Transplantes, que é organismo estadual que regula toda e qualquer doação de transplante no Estado. Nenhum órgão ou tecido é liberado sem que passe pela SC Transplantes. “Essa regulação vai desde identificar o potencial do doador, cumprindo todas as etapas até deixá-lo em condições de ser doado, a distribuição dos órgãos perfeitos por critérios técnicos através de sistemas informatizados, que informam quem irá receber um rim doado hoje” comenta. Essa avaliação leva em conta a compatibilidade genética, idade, tipo sanguíneo, etc; para todos os órgãos.
“Nós somos o órgão regulador. Os hospitais transplantadores fazem parte do sistema e são essenciais para que ele funcione. Existe uma sinergia com o Hospital Santa Isabel, porque há projetos de melhorias das doações no Estado de SC, que tem ligação direta com o HSI há mais de 5 anos”, finaliza Dr. Joel.
O chefe do Serviço de Transplantes no Hospital Santa Isabel é Dr. Marcelo Nogara. Para ele esse milésimo transplante, representou um marco importante para o hospital, Blumenau e Santa Catarina. “Somente quatro serviços de transplantes chegaram a essa marca, porque é um dos procedimentos mais complexos da medicina atual. Isso só mostra a credibilidade do hospital e alto conhecimento de grande complexidade”, ressalta o médico.
Juliano Petters é o Diretor Executivo do Hospital Santa Isabel, e passa por ele as decisões administrativas e financeiras. Ele lembrou que tudo isso foi possível em 1980 com o primeiro transplante renal, e ainda hoje é um dos mais realizados.
“Depois veio o transplante hepático, coração, pâncreas, pâncreas e rim conjugado, córneas, etc.. A evolução tecnológica é praticamente diária, nem dá para acompanhar tudo que acontece. Nosso ponto forte é o corpo clínico, a parte técnica, que é desde a cirurgia, do pré e pós-cirúrgico, a enfermagem e os cuidados de todos os profissionais envolvidos”, destaca Petters. Ele também lembra que o ponto principal de tudo, é a conscientização em relação a doação, porque sem isso, nada seria possível.
Olga Marcondes mora em Blumenau, mas é de São Paulo. Ela ficou 6 anos na fila de espera no seu estado e quando já estava perdendo as esperanças, seu médico disse que a única oportunidade dela viver era ir à Blumenau. “Isso foi em novembro de 2008, no meio da enchente. Quando recebi o diagnóstico, dois dos meus três filhos estavam casados, hoje todos estão. Eles ficaram assustados e disseram que estava louca, afinal como eu iria para uma cidade que estava inundada, o helicóptero não pousava, enfim, no meio da enchente. Como você vai sair de São Paulo e ir para uma cidade que nem sabe onde é direito?”
Mas Olga já conhecia Blumenau como turista, quando vinha para o Litoral catarinense, mas não fazia ideia da estrutura que a cidade oferecia. O marido insistiu e disse: “Nós vamos!” Quando chegaram ao Hospital Santa Isabel foram informados que naquele momento não daria para resolver nada, somente depois da enchente.
“Nós deixamos passar as festas do ano novo e viemos para fazer uma consulta com o Dr. Marcelo [Nogara] no dia 5 de janeiro de 2009. O médico disse: Se quiser ficar, já fique, porque está com todas as condições para fazer transplante” lembrou Olga. Mas ela disse que primeiro iriam tratar da situação da casa que tinham em São Paulo, para depois voltar à Blumenau.
Na hora, o marido de Olga perguntou ao médico qual era a expectativa de tempo para esse transplante acontecer, afinal sua esposa já tinha esperado 6 anos. O Dr. Marcelo falou tudo que eles queriam ouvir: “Eu garanto que em menos de seis meses”. Mas foi muito mais rápido, o transplante aconteceu em apenas 40 dias. Olga lembrou que é de praxe um transplantado ficar próximo ao local da cirurgia para acompanhar a evolução do quadro clínico. “Permanecemos em Blumenau por quatro meses e acabei me apaixonando pela terra. Depois voltamos novamente para São Paulo, resolvemos tudo por lá e agora moramos aqui”, lembrou com alegria.
Questionada sobre como Olga lidou com a dúvida sobre o sucesso da cirurgia, ela disse que quem recebe um diagnóstico de transplante de fígado, sente que a hora da morte chegou. “Dr. Marcelo costuma dizer, que no rim, coração, pulmão você pode ficar na máquina, mas se o fígado entrar em falência, você não vive mais. E eu já estava muito mal quando eu tive a notícia do transplante. O médico disse que eu tinha um prognóstico com remédios, mas eu sabia que tinha um determinado tempo e depois iria piorar. Depois disso, coloquei nas mãos de Deus, porque morrer era certo e o transplante uma chance” finaliza a mulher que vive há 8 anos com um fígado novo.