Por Márcia Pontes
O André, 22 anos (motociclista), o Alexandre, 25 anos (pedestre atropelado por uma motoneta) e a Larissa, 19 anos (motorista na habilitação provisória) nos deixaram em cerca de uma semana, vítimas fatais de acidente de trânsito no mês em que toda a sociedade se mobiliza para chamar à atenção para a violência, mortos e feridos no trânsito. Junto com eles também morreram em acidentes o Jorge, 22 anos; o Rodrigo, 19 anos; o Carlos, 21 anos, e o Valmor, 51 anos.
Eles não são números: eles são vidas que se foram cedo demais, antes da hora. Blumenau precisa urgentemente implantar um Programa de Prevenção e de Humanização do Trânsito, fazer as orientações chegarem de forma massificada à população e, mais do que tudo, estabelecer parcerias com a sociedade organizada em todos os seus setores para um trabalho forte ao longo de todo o ano.
Essa semana já tivemos o questionamento sobre se o Maio Amarelo não seria um movimento inócuo ou até de faz-de-conta, como chegou a afirmar o leitor de um jornal local. O fato é que o Maio Amarelo é um movimento que nasceu, justamente, para chamar à atenção a sociedade para a epidemia de acidentes que assola o país há anos. O Maio Amarelo não tem poder de caneta para tentar mudar alguma coisa. É um movimento que busca incansavelmente reunir toda a sociedade civil organizada, poder púbico, instituições, organizações, cidadãos, imprensa, todos em torno da causa da atenção pela vida para que juntos, comecemos essa mudança.
Esposas não conseguem fazer com que seus maridos dirijam sóbrios; pais não conseguem fazer com que seus filhos não bebam e dirijam ou que não peguem carona com motoristas que beberam e dirigiram. Amigos não conseguem fazer com que seus amigos ou irmãos não cometam imprudências. Gestores públicos não conseguem fazer com que a segurança no trânsito seja prioridade máxima, abraçada em nível de gestão por todas as pastas e secretarias em parceria com a sociedade em nível de políticas públicas e é para isso que o Maio Amarelo existe: um movimento mundial que coloca em foco essas e outras questões relacionadas à segurança das pessoas no trânsito.
O Maio Amarelo existe para lembrar aos governantes que em suas cidades, estados e no nosso país devemos implantar programas de humanização do trânsito e planos de prevenções de acidentes com educação para o trânsito, informação e orientação cheguem à todas as camadas e classes e extratos sociais para que eles aprendam comportamentos e práticas seguras no trânsito.
O Maio Amarelo existe para lembrar que as pessoas não são números, elas são vidas que vão embora cedo demais e que muitas famílias continuarão chorando seus mortos e feridos se a sociedade, protagonista dos acidentes, das mortes e da violência no trânsito, não fizer alguma coisa.
Precisamos envolver cada vez mais a sociedade, as famílias, as instituições, o poder público, cada cidadão para que compreendam que não se mede a violência no trânsito pela quantidade de mortes que não tivemos em determinado mês, mas sim pela quantidade de feridos e de mortes que poderemos ter enquanto continuarmos de mãos atadas e sem políticas públicas voltadas para a prevenção de acidentes.
Precisamos de muito mais do que ficar esperando o telefone tocar para levantar da cadeira e ir recolher corpos.
Precisamos de muito mais do que releases bem escritos anunciando que em abril não morreu ninguém no trânsito ou de discursos futuristas dizendo que se continuarmos assim estaremos bem. Porque quem vive a causa da atenção pela vida 24 horas e de dentro para fora sabe muito bem que se não tivermos um plano de prevenção de acidentes de trânsito que comece pela orientação à população, às famílias e pela união de toda a sociedade organizada e poder público continuaremos contando mortos e sendo hipócritas, tratando acidente de trânsito como fatalidade.
Temos que começar reformando o pensamento e começar a pensar, a formar a cultura para a segurança viária de que acidentes são evitáveis e só se evita acidentes quando os cidadãos têm autocuidados e o poder público em parceria com a sociedade faz a sua parte gerando essas informações para autocuidados e as disseminando fortemente na sociedade o ano todo!
Acidentes não acontecem: são provocados!
Acidentes não são inevitáveis: podem ser evitados com autocuidados e educação para o trânsito à população!
Eles não são números: são vidas que foram embora cedo demais e poderiam ser poupadas!
É possível sim fazer plano de prevenção de acidentes: é o dever do poder público e da sociedade civil organizada em parceria, trabalhando forte em parceria o ano todo, com ações organizadas, contextualizadas, sem a visibilidade e os holofotes de maio!
As famílias precisam ser orientadas e trazidas como parceiras!
Precisamos saber o quanto investimos em segurança das pessoas no trânsito na cidade e em programas de humanização do trânsito. Precisamos saber o quanto investimos em prevenção!
Precisamos sair do campo das falácias cotidianas e costumeiras em relação aos acidentes de trânsito, mortos e vítimas, tratando o que pode ser evitado como fatalidade e comemorando quando se carrega menos alças de caixão em um mês, uma semana ou um ano inteiro!
Pessoas estão morrendo, se ferindo, se mutilando, e outras continuarão morrendo, matando, se ferindo, ferindo os outros, se mutilando e mutilando os outros enquanto a sociedade não acordar!
É para isso que o Maio Amarelo existe: para juntos, e no âmbito da responsabilidade de cada um, começarmos a mudar essa história. Para que não continuemos contando mortos, feridos e sequelados o ano inteiro.
Reduzir acidentes ou comemorar que reduziu acidentes é muito pouco! É desrespeito com quem perdeu a sua vida e a vida de seus queridos em via pública. Não queremos reduzir acidentes. Queremos prevenir, ser proativos, evitar, ensinar as pessoas a terem autocuidados, a se protegerem no trânsito e a sobreviverem à esse genocídio sobre rodas, à essa epidemia de sofrimento e dor para todos. É isso que todos nós precisamos entender e praticar. Todos, no âmbito da responsabilidade individual e coletiva.