O biólogo formado na FURB e mestre em botânica pela UFSC, Luís Funez de 25 anos, costuma fazer excursões pela mata na região de Blumenau, em busca de espécies de plantas diferentes. No dia 18 de novembro de 2014, ele caminhava pelo trilho do trem, na região conhecida como Subida, em Apiúna. Ele entrou em uma trilha menor e certa planta chamou sua atenção.
Foram feitas fotos e Luís trouxe uma muda para Blumenau, onde analisou e compartilhou a novidade com os amigos. Cerca de oito meses depois, soube que se tratava do exemplar de uma Saranthe ustulata, da família Marantaceae, planta típica do Brasil e tem como primo mais famoso os caetés, muito usados em jardins. A espécie é tão rara, que não há registro da existência dela em outro lugar no mundo.
Em 1890, um exemplar da planta foi coletado pelo naturalista alemão Fritz Müller, quando morava em Blumenau. Na época ela foi enviada para Berlim, na Alemanha, ao Herbário da cidade, onde foi registrada e catalogada. Chegou a segunda guerra mundial, e um bombardeio destruiu o exemplar, que foi considerada extinta, já que nunca mais teria sido encontrada.
Mas afinal, se é tão rara, como foi possível identificar que se tratava da mesma descoberta por Fritz Müller? Um desenho minúsculo em um livro muito antigo mostrava as características da Saranthe ustulata. A identificação teria possível através dele, além de relatos disponíveis. Passaram 126 anos entre o primeiro registro e o último em Apiúna.
O biólogo também descobriu que uma espécie de óleo da planta atrai as formigas, que por sua vez a semeiam pelo solo. Se fossem pássaros, a abrangência da área semeada da espécie seria mais ampla, mas uma formiga cobre uma área muito menor.
Agora vem um grande desafio: preservar a espécie. Na região onde foi encontrada existem casas e a Usina de Salto Pilão muito próximas. E aí vem a pergunta: quantas outras espécies raras ainda existem e que não foram descobertas? Isso mostra a importância trabalho de biólogos como Luís Funez, que fazem essas incursões na natureza e trazem essas boas surpresas.
Em pesquisa na internet, achei o registro da mesma espécie (Saranthe ustulata, família Marantaceae), com um desenho de Thornam Eichler, datado de 1890, no livro Flora Brasiliensis. A obra do século XX, foi escrita entre 1840 e 1906 por naturalistas alemães e austríacos.
O livro é de grande importância para a biologia por catalogar 22.767 espécies em 2.253 gêneros, incluindo todas as espécies vegetais conhecidas até então e mais 5.689 outras novas para a botânica na época. Além das descrições taxonômicas, todas em latim, a obra contém 6.246 litografias, que ajudam na identificação de espécies.