A história que revela um procedimento inédito no Estado de Santa Catarina e que pode ser o primeiro passo para salvar muitas vidas, começou com uma paciente de 30 anos que foi recebida pela Equipe de Emergência da ACSC-Hospital Santa Isabel, vítima de um infarto grave.
Após os procedimentos convencionais serem aplicados, a paciente não apresentou nenhuma melhora, pelo contrário, o coração estava perdendo a contractilidade, ou seja, a força e sozinho não conseguia mais executar a função de bombear o sangue. Portando o rim, fígado e pulmão também estavam sendo afetados e ela havia chegado a um pré-óbito.
A Equipe de Cirurgia Cardíaca formada pelos chefes do serviço Dr. Frederico Di Giovanni e Dr. Everton Luz Varela, com apoio do residente em cardiologia Dr. Tadeu Augusto Fernandes, inconformados com a possibilidade de perder a paciente, buscaram recursos e executaram no dia 26/02/16, juntamente com demais membros da equipe, incluindo enfermeiros e técnicos de enfermagem e a presença do Dr. Sérgio Veiga Lopes, convidado da equipe de transplantes de Curitiba, o implante do primeiro coração artificial biventricular paracorpóreo do Estado de Santa Catarina.
Este coração artificial paracorpóreo, que fica fora do corpo, realiza uma assistência circulatória, mesmo que não haja pulsação ou batimentos cardíacos, através de dois consoles, um para o ventrículo direito e outro para o esquerdo, servindo como uma ponte enquanto ela melhorara e atinge um equilíbrio para receber um novo coração. Está ligado a paciente através dos principais vasos do coração, são quatro cânulas que usam o sangue que passa pelo coração, sugando para fora do corpo e após passar pelos consoles, devolve. Desta forma irriga a artéria aorta e a artéria pulmonar, estabelecendo um bombeamento para todo o organismo, realizando o trabalho do ventrículo direito e do esquerdo, ou seja, funciona mesmo como um coração artificial.
Esta tecnologia é comum em países como Estados Unidos, Inglaterra, França e Alemanha, inclusive o coração artificial utilizado na paciente é americano. Infelizmente devido ao alto custo que pode chegar a 200 mil reais, ainda não é muito habitual no Brasil e não está disponível ao Sistema Único de Saúde de Santa Catarina. Uma realidade que pode mudar, pois segundo os chefes do serviço de cirurgia cardíaca, Dr. Varella e Dr. Frederico Di Giovanni a intenção é encaminhar um projeto para o governo do Estado para que isso seja uma ferramenta diária, imprescindível em um hospital como o Santa Isabel, que já possui um viés transplantador e é referência em transplantes. Dr. Tadeu Fernandes complementa citando o projeto que já foi aprovado no Estado do Paraná, uma esperança a mais para que os pacientes de Santa Catarina também sejam beneficiados com a aprovação do projeto no Estado.
A paciente está evoluindo muito bem e a expectativa agora é para que ela receba a doação de um coração ideal e compatível que virá através da SC Transplantes. Esta importante agência tem acesso a lista única de pacientes e a doação nacional, portanto o novo órgão pode vir de qualquer estado do Sul do Brasil. É uma corrida contra o tempo, pois após o coração ser retirado do doador tem apenas 4 horas para a realização do implante.
Até a mídia local tem ajudado, pois o incentivo a doação de sangue e órgãos é primordial para salvar esta jovem de 30 anos e muitas outras vidas.
Texto: Leticia Venera | Fotos: Hospital Santa Isabel