O governo federal oficializou nesta segunda-feira (12/05/25) a criação do Grupo de Trabalho (GT) responsável por executar e acompanhar o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA). A medida foi publicada no Diário Oficial da União e marca o início da operacionalização de um projeto ambicioso: investir R$ 23 bilhões em quatro anos para transformar o Brasil em referência global no uso estratégico da IA, especialmente em políticas públicas.
O plano foi lançado em julho do ano passado, durante a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. Entre os principais objetivos estão a modernização tecnológica de diversos setores, o desenvolvimento nacional de processadores de alto desempenho e a atualização do supercomputador do Laboratório Nacional de Computação Científica, que deverá operar com energia renovável e se posicionar entre os cinco mais potentes do mundo.
O GT terá duração de quatro anos e será formado por representantes de 15 órgãos e entidades, como os ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (que coordena o grupo), Casa Civil, Fazenda, Educação, Justiça e Segurança Pública, entre outros. A atuação do grupo inclui monitorar a execução do PBIA, propor ajustes ao plano e apresentar relatórios anuais ao Comitê Interministerial para a Transformação Digital (CITDigital).
Além da coordenação estratégica, a resolução permite a criação de subgrupos técnicos e a participação de especialistas externos, inclusive da sociedade civil, sem direito a voto. A proposta é ampliar o debate e integrar múltiplos saberes à construção de soluções inteligentes, que tenham impacto direto na vida do cidadão.

IA no mundo: onde está o Brasil nessa corrida
Enquanto o Brasil estrutura seu plano nacional, potências como Estados Unidos e China já disputam a liderança global no setor. Os EUA destinam bilhões de dólares ao desenvolvimento de IA, com forte apoio de empresas como OpenAI, Google e Amazon, além de iniciativas do governo para regular e fomentar a tecnologia. A China, por sua vez, tem metas ambiciosas para se tornar líder em IA até 2030, integrando algoritmos avançados a setores estratégicos como segurança, transporte e saúde. A União Europeia também avança com marcos regulatórios e fundos bilionários voltados à inovação e à ética no uso da inteligência artificial.
Nesse cenário, o PBIA representa um esforço para que o Brasil não fique à margem dessa transformação e aproveite a inteligência artificial como motor de desenvolvimento, inovação e melhoria dos serviços públicos. Embora o investimento nacional ainda seja modesto frente aos gigantes globais, o foco estratégico no setor público pode se tornar um diferencial, com aplicações diretas no cotidiano da população.
Possibilidades práticas de uso da IA no setor público
Com a integração de diferentes órgãos, as possibilidades de aplicação da inteligência artificial se multiplicam. No Ministério da Fazenda, por exemplo, a IA pode ser usada para detectar fraudes fiscais com mais precisão e agilizar auditorias. Já no Ministério da Gestão, algoritmos podem automatizar processos licitatórios e mapear gargalos na prestação de serviços públicos.
Na área da educação, o Ministério da Educação pode usar a tecnologia para identificar evasão escolar em tempo real, personalizar o ensino em plataformas digitais e otimizar políticas públicas com base em dados de desempenho.
O Ministério da Saúde poderia empregar IA na triagem automatizada de pacientes, gestão de filas do SUS e predição de surtos com base em dados regionais. No Ministério do Meio Ambiente, a tecnologia pode auxiliar no monitoramento de áreas desmatadas via satélite, controle de queimadas e gestão inteligente de recursos naturais.
A presença da Capes e do CNPq no grupo também reforça o elo entre pesquisa, formação de especialistas e aplicação prática. Essas instituições podem fomentar a criação de centros de excelência em IA no país, aproximando universidades e o setor produtivo.
Com a participação do BNDES e da Finep, o plano ainda tem potencial de se tornar um motor de desenvolvimento econômico e inovação, financiando startups e projetos que busquem soluções nacionais para problemas estruturais.
Ao ampliar a capacidade de prever, planejar e executar políticas públicas com base em dados, o PBIA pode representar um marco na modernização do Estado brasileiro. A depender da forma como for conduzido, poderá colocar o país em uma nova posição no cenário global da transformação digital.