A população idosa de Blumenau cresce a uma taxa média de 4,8% ao ano, indicando um ritmo acelerado de envelhecimento na cidade. No ano 2000, os idosos representavam 7,4% da população, passando para 9,7% em 2010 e atingindo 15,2% em 2022. Com essa tendência, estima-se que, ao final de 2024, a cidade terá mais de 60.190 idosos, ultrapassando pela primeira vez o número de crianças de 0 a 14 anos.
Os dados estão na pesquisa Diagnóstico Social da Pessoa Idosa de Blumenau, divulgada em dezembro de 2024 pela Universidade Regional de Blumenau (FURB) em parceria com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e o Conselho Municipal do Idoso (CMI).
O trabalho traçou um panorama detalhado das condições de vida da população acima dos 60 anos. Os dados mostram um perfil marcado por desafios na saúde, mobilidade, relações familiares e segurança.
Com uma população idosa numerosa e predominantemente feminina, a cidade enfrenta dificuldades no atendimento à saúde, adaptação urbana e no combate à violência contra idosos. Além disso, o estudo aponta que 23,2% dos idosos vivem sozinhos e que 10,4% já sofreram algum tipo de violência, seja física, psicológica, patrimonial ou por negligência.
Onde vivem os idosos de Blumenau?
A pesquisa revelou que 74% dos idosos moram em casa própria, enquanto 14% vivem de aluguel e 12% residem com parentes ou em moradias cedidas. Entre os bairros com maior concentração de idosos, destacam-se: Itoupava Central (9,8%), Velha (7,1%), Garcia (6,1%), Água Verde (5,3%) e Progresso (4,9%).
Por outro lado, os bairros com menor população idosa são Jardim Blumenau (0,4%), Vila Formosa (0,6%) e Boa Vista (0,7%). A pesquisa apontou ainda que 23,2% dos idosos vivem sozinhos, um percentual significativo que indica riscos de isolamento social e vulnerabilidade.
Relação com a família
A maioria dos idosos mantém laços familiares, mas há desafios importantes:
- 56,1% recebem acompanhamento familiar regularmente, mas 43,9% não têm apoio direto da família;
- 51,1% dividem a moradia com até duas pessoas, geralmente filhos e netos;
- 44,9% vivem com apenas mais uma pessoa, geralmente o cônjuge;
- 32,4% recebem visitas ao menos duas vezes por semana, mas 9,3% raramente são visitados.
A maioria dos idosos se sente respeitada em casa: 94,9% afirmam ser tratados com dignidade e 92,7% dizem que sua opinião é levada em conta nas decisões familiares. No entanto, 35% das denúncias de violência contra idosos envolvem negligência e abandono.
Saúde e acesso a serviços médicos
A saúde é uma das principais preocupações da população idosa em Blumenau. O Centro de Saúde do Idoso, que atende cerca de 2 mil pessoas, realiza 1,5 mil atendimentos por mês, mas enfrenta filas de espera e demanda crescente.
As principais doenças registradas entre os idosos são:
A pesquisa revelou que a maioria dos idosos em Blumenau convive com duas ou mais doenças crônicas, o que requer acompanhamento médico contínuo. Os principais problemas de saúde enfrentados por essa população são:
- Doenças respiratórias – 50% da população idosa é afetada por essas condições, que incluem bronquite crônica, enfisema pulmonar e sequelas da Covid-19;
- Doenças cardíacas – 35,5% dos atendimentos a idosos envolvem problemas cardiovasculares, como hipertensão e insuficiência cardíaca;
- Doenças do aparelho locomotor – 32,3% dos idosos sofrem com artrite, artrose e outras limitações que afetam a mobilidade;
- Doenças metabólicas – 31,7% da população idosa tem diabetes, colesterol elevado ou outras condições metabólicas
- Doenças psíquicas e demenciais – 21,9% dos atendimentos envolvem quadros de depressão, ansiedade ou demência, como Alzheimer;
- Traumas por quedas – 16,1% dos idosos; relataram quedas nos últimos meses, sendo que 66,5% tiveram sequelas leves ou moderadas;
- Doenças neurológicas – 7,2% dos idosos sofrem com Parkinson, AVC e outras doenças do sistema nervoso.
Uma doença que surpreendeu os pesquisadores
Um dado preocupante identificado na pesquisa foi o crescimento expressivo dos casos de depressão entre idosos. O estudo revelou que:
- 22,2% dos idosos institucionalizados sofrem de depressão;
- Entre idosos que vivem na comunidade, a depressão é a terceira condição de saúde mais relatada, atrás apenas de diabetes e hipertensão;
- Muitos idosos não recebem tratamento adequado, o que pode levar a um agravamento do quadro, aumentando os riscos de isolamento social e outras complicações
Os pesquisadores destacam que esse aumento pode estar relacionado ao isolamento social, dificuldades financeiras e à perda de autonomia. Diante disso, especialistas recomendam a ampliação de serviços psicológicos e psiquiátricos para essa faixa etária, além de políticas públicas para incentivar a participação em atividades sociais e culturais.
Além disso, o número de geriatras disponíveis na rede pública é insuficiente, dificultando o acesso a tratamentos especializados.
Violência contra idosos: dados alarmantes
A pesquisa identificou que 10,4% dos idosos já sofreram algum tipo de violência em Blumenau. Entre os casos relatados:
- 51,9% sofreram agressões físicas (empurrões, tapas, socos).
- 31,2% relataram ameaças, xingamentos e humilhações.
- 26,6% foram vítimas de abuso financeiro, com apropriação de dinheiro ou bens.
- 14,3% sofreram violência sexual.
- 35% das denúncias envolvem negligência e abandono.
A maioria dos casos de violência ocorre dentro de casa (54,5%), sendo que 32,6% das agressões são cometidas por familiares ou cônjuges. Além disso, 57,1% dos idosos que sofreram violência não denunciaram os casos, o que dificulta o combate a esses crimes.
Mobilidade e acessibilidade
A falta de acessibilidade no transporte público e as condições inadequadas das calçadas são barreiras para a independência dos idosos:
- Dificuldade de embarque e desembarque nos ônibus – muitos veículos não são adaptados.
- Ruas e calçadas em más condições – buracos, desníveis e falta de rampas aumentam o risco de quedas.
- Falta de transporte especializado – poucos veículos adaptados para idosos com mobilidade reduzida.
Além disso, 30% dos idosos relataram que se sentem inseguros ao atravessar as ruas, devido à falta de respeito por parte dos motoristas.
Instituições de Longa Permanência (ILPIs)
Atualmente, apenas 2% dos idosos de Blumenau vivem em ILPIs. A cidade possui 24 instituições cadastradas, mas enfrenta desafios:
- Muitas ILPIs dependem de doações e trabalho voluntário para manter suas atividades.
- Algumas instituições não têm profissionais especializados, comprometendo a qualidade do atendimento.
- A demanda por vagas cresce, exigindo mais investimento público.
O futuro da população idosa em Blumenau
Com o crescimento acelerado da população idosa, a pesquisa reforça a necessidade de políticas públicas mais eficazes. Algumas recomendações incluem:
- Fortalecer a rede de saúde geriátrica, garantindo mais médicos e serviços especializados.
- Criar programas de suporte financeiro e jurídico, protegendo os idosos de abusos patrimoniais.
- Ampliar a acessibilidade urbana, com calçadas adequadas, transporte adaptado e mais travessias seguras.
- Expandir iniciativas de inclusão social, incentivando o envelhecimento ativo e combatendo o isolamento.
- Aprimorar o suporte às ILPIs, garantindo fiscalização e financiamento adequado.
- Ampliar campanhas de combate à violência contra idosos e facilitar os canais de denúncia.
A pesquisa deixa claro que Blumenau precisa se preparar para um envelhecimento cada vez mais acelerado. Com os desafios apontados, a cidade tem a oportunidade de investir na qualidade de vida dessa população, garantindo que os idosos possam viver com mais segurança, autonomia e dignidade.
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