Situado próximo à cidade de Detmold, na Renânia do Norte-Vestfália, existe um grande monumento chamado Hermannsdenkmal, ou Monumento a Hermann, que é uma das estruturas mais icônicas da Alemanha. Este monumento foi construído em homenagem a Arminius, conhecido em alemão como Hermann, considerado por muitos historiadores como o primeiro herói germânico.
Arminius, foi um líder tribal dos queruscos, um dos muitos povos germânicos que habitavam a região entre os rios Reno e Elba durante o primeiro século d.C. Ele ficou conhecido por desempenhar um papel crucial na história ao liderar as tribos germânicas contra as forças do imponente Império Romano na histórica Batalha da Floresta de Teutoburgo, em 9 d.C. Tácito, celebre historiador romano, o definiu como o “Libertador da Germânia”.
GERMÂNIA, COMO ERA A REGIÃO DA ALEMANHA NA ÉPOCA?
No primeiro século d.C., as tribos germânicas estavam distribuídas ao longo da Europa Central e Setentrional, ocupando territórios que hoje correspondem a partes da Alemanha, Escandinávia, Polônia e Países Baixos.
As tribos germânicas viviam em vilas e comunidades autossuficientes, organizadas em clãs e lideradas por chefes tribais. A economia era baseada principalmente na agricultura, na criação de gado e no intercâmbio comercial limitado.
Entre as principais tribos estavam os Cheruscos, habitando a região do noroeste da Alemanha, e os Suevos, um grande grupo que incluía tribos como os Marcomanos, Quados e Semnones. Os Marcomanos estabeleceram-se na Boêmia, enquanto os Quados ocupavam territórios na atual Áustria e Eslováquia. Outras tribos importantes incluíam os Vândalos, originalmente localizados ao sul do Mar Báltico, e os Lombardos, localizados entre os rios Elba e Oder (antes de migrarem para a Itália), além dos Catos, que habitavam o vale do Reno e ficaram conhecidos por sua organização militar, e os Frísios, que ocupavam as áreas costeiras do Mar do Norte e eram habilidosos comerciantes e marinheiros.
Os Góticos, que viviam originalmente ao norte do Mar Negro, teriam migrado do sul da Escandinávia e, nos séculos seguintes, se dividiram em Visigodos e Ostrogodos. Enquanto os Burgúndios se deslocaram para a região da atual Borgonha, na França. Anglos e Saxões, originários do norte da Alemanha e Dinamarca, começaram a colonizar a Grã-Bretanha, tornando-se ancestrais dos anglo-saxões.
Embora frequentemente em conflito, essas tribos também formavam alianças e migravam em resposta a pressões externas e oportunidades, influenciando significativamente a configuração política e cultural da Europa naquela época.
O PRIMEIRO ALEMÃO
É importante ressaltar que pouco se sabe sobre a vida de Arminius antes de sua histórica revolta contra Roma. O conhecimento baseia-se exclusivamente em fontes romanas e achados arqueológicos, pois os germanos não possuíam uma tradição escrita. Assim, alerto ao leitor que pesquisar mais sobre nosso herói, a percepção que o relato histórico é contado pelo inimigo, no caso, os romanos.
Nascido por volta do ano 18/17 a.C., Arminius era filho de Sigimer, líder da tribo querusca, e foi criado em um contexto de aliança com o Império Romano. Ainda jovem, Arminius foi enviado a Roma como refém, parte de uma estratégia romana de assegurar a lealdade das tribos germânicas.
Como parte dessa relação, Arminius e seu irmão Flavus serviram por longos períodos como líderes de tropas auxiliares germânicas (ductor popularium) no exército romano, onde receberam treinamento militar. Esse contato próximo com as táticas romanas seria decisivo para sua atuação futura, mas também alimentou seu ressentimento contra a dominação estrangeira,. Entre 4 e 6 d.C., Arminius participou de campanhas romanas na região da Panônia (atual região da Hungria e Áustria). Durante esse período, adquiriu cidadania romana, o título de cavaleiro e aprendeu latim.
Por volta de 9/8 d.C., Arminius foi transferido para o Reno, onde serviu sob o governo de Publius Quinctilius Varus. A missão de Varus era transformar a Germânia Magna (as terras tribais a leste do Reno) em uma província romana. Embora as tribos estivessem relativamente pacificadas após as campanhas de Tibério entre 4 e 5 d.C., Varus tentou implementar leis romanas, impôs tributos pesados e tratou os nativos como escravos, fomentando o descontentamento.
Arminius encontrou sua tribo dividida e sob crescente pressão das autoridades romanas. Ele rapidamente organizou alianças com outras tribos germânicas, explorando o descontentamento generalizado com o controle romano. Embora oficialmente estivesse a serviço de Roma, Arminius secretamente planejou um levante, provando sua habilidade diplomática e estratégica ao reunir um exército de tribos dispersas e muitas vezes em conflito.
A BATALHA DA FLORESTA DE TEUTOBURGO
O ponto culminante de sua rebelião foi a lendária Batalha da Floresta de Teutoburgo, em 9 d.C. Quando o governador Varus avançava para o território dos queruscos até o rio Weser, Arminius liderou uma emboscada magistral contra três legiões romanas. Usando o terreno a seu favor e aproveitando-se da vulnerabilidade do exército romano em território desconhecido, Arminius infligiu uma derrota devastadora.
A batalha durou 3 dias, as legiões 17ª, 18ª e 19ª, além de seis coortes e três alas de auxiliares, foram completamente destruídas. Varus vendo seu exército dizimado pela rebelião, se suicidou.
Após a derrota romana, todos os acampamentos romanos ao leste do Reno foram destruídos. Arminius ordenou que as cabeças dos soldados romanos mortos fossem exibidas em lanças para desmoralizar os inimigos sitiados. A cabeça de Varus teria sido cortada e enviada a César Augusto.
As consequências da Batalha da Floresta de Teutoburgo foram profundas e duradouras. A derrota interrompeu a expansão romana na Germânia e consolidou o rio Reno como a fronteira natural do Império. O evento também teve implicações políticas, pois reforçou a percepção de que a Germânia era incontrolável.
Segundo Tácito, Arminius justificou sua luta em nome da liberdade, da glória e das tradições germânicas.
MÁRTIR DA RESISTÊNCIA GERMÂNICA
Após a vitória, Arminius foi saudado como um herói entre as tribos germânicas, mas sua luta estava longe de terminar. Roma, determinada a vingar a derrota, enviou o general Germânico para liderar campanhas na região. Durante esses confrontos, Arminius enfrentou desafios crescentes, tanto externos quanto internos. Um dos momentos mais difíceis foi o sequestro de sua esposa, Thusnelda, por tropas romanas. Grávida na época, ela foi levada para Roma, onde seu filho, Thumelicus, seria criado como refém.
A perda de sua esposa e filho devastou Arminius, mas também fortaleceu sua determinação. Ele continuou a liderar resistência contra Roma e a tentar unificar as tribos germânicas, embora com dificuldade. Sua busca por maior autoridade e sua ambição de ser reconhecido como rei geraram descontentamento entre os próprios aliados.
Em 21 d.C., Arminius foi traído por membros de sua própria tribo e assassinado. Sua morte marcou o fim de uma era de resistência organizada à Roma, mas seu legado permaneceu.
Historiadores romanos, como Tácito, lembram-no como o libertador da Germânia, e até hoje ele é celebrado como um símbolo de resistência e liberdade.
ARMÍNIUS OU HERMANN: ORIGEM DO NOME
A investigação sobre o verdadeiro nome de Arminius é uma das questões mais discutidas no estudo de sua figura. Fontes antigas, como Estrabão e Dião Cássio, utilizam a grafia “Armenius”, enquanto Veleio Patérculo refere-se a ele como “Arminius”. É possível que “Arminius” seja uma latinização de um nome germânico, como “Hermann”, que significa “homem do exército” ou “guerreiro” em alemão.
Durante o período de Augusto, era comum que não-romanos adotassem o nome da família romana que lhes concedia cidadania. Arminius, tendo servido como oficial nas forças romanas, pode ter recebido seu nome dessa forma. No entanto, a conexão exata entre “Arminius” e nomes romanos ou germânicos permanece incerta. Portanto, o nome Arminius parece ser originalmente romano e não derivado de um nome germânico.
O nome “Hermann”, amplamente associado a Arminius e derivado do termo germânico Charioman (“homem do exército”, equivalente ao latim dux belli), é geralmente atribuído a Martinho Lutero. Lutero afirmou: “Se eu fosse poeta, celebraria ele. Amo-o de coração”. No entanto, o primeiro registro do uso de “Hermann” também pode ter sido feito pelo historiador bávaro Johannes Aventinus, em 1526.
O fato é que seu nome germânico é desconhecido.
HERMANNSDENKMAL: MONUMENTO DE RESISTÊNCIA E UNIDADE ALEMÃ
Durante o século XIX, quando o nacionalismo alemão estava em ascensão, a figura de Arminius foi transformada em um herói nacional. Ele passou a simbolizar a resistência à dominação estrangeira e a busca pela unidade alemã. O Hermannsdenkmal, Monumento a Hermann, foi concebido nesse contexto.
A construção do Hermannsdenkmal foi iniciada em 1838 sob a direção do arquiteto Ernst von Bandel e concluída apenas em 1875, coincidindo com o 1800º aniversário da batalha. Bandel acreditava que a batalha no Bosque de Teutoburgo ocorreu ali. A decisão de construir o monumento na Grotenburg foi tomada por razões estéticas e práticas.
O monumento, com uma altura total de cerca de 53 metros, simboliza não apenas a resistência germânica, mas também o espírito de unidade nacional que se tornou central para a identidade alemã no século XIX. A estatúa de bronze de Arminius ergue uma espada em direção ao leste, em direção à antiga fronteira do Império Romano. A espada de sete metros do Hermannsdenkmal carrega a inscrição: “A unidade alemã é minha força – minha força é o poder da Alemanha.”
Arminius conseguiu unificar povos com diferenças culturais e linguísticas significativas, promovendo um senso de propósito comum: resistir à expansão romana. Podemos afirmar que se Arminius não tivesse vencido a batalha, a liberdade desses povos não existiria e todos teriam se tornado romanos!
Tácito presta uma homenagem significativa a Arminius: “Certamente ele foi o libertador da Germânia, alguém que desafiou Roma, não em seu início, como outros reis e comandantes, mas no auge do poder do império; lutou batalhas indecisas, mas na guerra permaneceu invicto… Até hoje, as tribos cantam sobre ele”.
Clay Schulze (@clay.schulze) é Presidente Do Centro Cultural 25 de julho de Blumenau e integrante do Männerchor Liederkranz, Coro Masculino Liederkranz do Centro Cultural 25 de Julho de Blumenau