A leitura no Brasil vive dias complicados. Segundo a 6ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada nesta terça-feira (19/11/24), o número de leitores caiu drasticamente nos últimos quatro anos. Pela primeira vez, mais da metade dos brasileiros (53%) não leu nem parte de um livro nos últimos três meses, enquanto o percentual de leitores ativos diminuiu para 47%. Essa redução representa uma perda de 6,7 milhões de leitores desde 2019.
Santa Catarina: um destaque no cenário nacional
Enquanto o Brasil enfrenta um cenário de retração no hábito de leitura, Santa Catarina lidera como o estado com maior percentual de leitores: 64% da população declarou ter lido ao menos parte de um livro nos três meses anteriores à pesquisa. Esse índice supera a média nacional (47%) e os percentuais do Paraná e do Ceará (54% cada). Apesar disso, a região Sul (inclui SC), teve queda de leitores, passando de 58% em 2019 para 53% em 2024.
Em contraste, o Rio Grande do Norte teve o menor índice do país, com apenas 33% da população declarando-se leitora. A região Nordeste como um todo apresentou o menor percentual regional (43%), com destaque positivo apenas para o Ceará, que manteve 54% de leitores.
Uma queda expressiva por todo o Brasil
A redução de leitores no Brasil foi registrada em praticamente todas as faixas etárias, classes sociais e níveis de escolaridade. Jovens entre 11 e 13 anos lideram o índice de leitura, com 81%, mas o interesse pela leitura diminui com a idade. Entre os idosos com mais de 70 anos, apenas 32% declararam ler, embora este grupo tenha registrado uma leve alta em comparação a 2019.
Mulheres continuam lendo mais que os homens: 49% contra 44%, respectivamente, mas ambos os grupos sofreram redução em relação à pesquisa anterior.
O declínio da leitura escolar
As escolas, tradicionalmente vistas como locais de incentivo à leitura, estão perdendo relevância. Apenas 12% dos livros lidos no Brasil foram indicados por professores, uma queda em relação aos 13% de 2019. Além disso, as salas de aula foram citadas como espaços de leitura por apenas 19% dos entrevistados, o menor índice já registrado na série histórica da pesquisa.
A média de leitura também caiu
A média de livros lidos no Brasil foi reduzida para 2,04 nos últimos três meses, contra 2,60 em 2019. Livros lidos inteiros ficaram ainda mais escassos: a média passou de 1,05 para 0,82 por pessoa. O Brasil também registrou queda na leitura de livros por vontade própria (de 47% para 43%) e de literatura (de 28% para 25%).
Gosto pela leitura: uma motivação em queda
A principal motivação para ler continua sendo o gosto pessoal, com 24% dos leitores citando este motivo, seguida por distração (15%) e atualização cultural (15%). No entanto, o número de pessoas que afirmaram não gostar de ler subiu para 29%, ultrapassando os que declararam gostar muito (26%). A queda no gosto pela leitura é mais acentuada a partir dos 14 anos, quando começa a perder força como hábito.
Estilos mais lidos no Brasil
Os estilos mais lidos no Brasil, de acordo com a pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, incluem:
- Bíblia e livros religiosos : A leitura motivada por razões religiosas continua relevante, com 22% dos leitores citando a Bíblia ou outros livros religiosos. Esse número mostra uma leve queda em relação aos 24% de 2019.
- Literatura (romances, ficção, poesia, entre outros) : A leitura de literatura por vontade própria também é significativa, mas caiu de 28% em 2019 para 25% em 2024.
- Atualização cultural ou conhecimento geral : Gêneros relacionados à informação, como ensaios, biografias e livros históricos, estão entre os mais procurados por quem lê para se atualizar ou aprender algo novo, somando 15%.
- Livros didáticos : Indicados por escolas ou instituições de ensino, esses livros ainda são uma parcela importante entre os materiais lidos, mas sua relevância é significativa para 12%.
Bibliotecas: presença reduzida no cotidiano
As bibliotecas também enfrentam dificuldades para atrair leitores. Apenas 3% dos brasileiros frequentam bibliotecas regularmente, e 75% afirmaram que nunca vão a esses espaços. Entre os leitores, 10% informaram frequentar bibliotecas sempre e 27% de vez em quando. Escolares e públicas são os tipos mais visitados, enquanto as digitais e universitárias ainda têm pouco apelo.
Os entrevistados indicaram que melhorias no acervo e na localização poderiam aumentar a frequência nesses espaços.
Leitores e não-leitores: um contraste de estilos de vida
A pesquisa mostrou que leitores têm um estilo de vida mais diversificado. Eles realizam, em média, 7,6 atividades de lazer, contra 5,3 entre não-leitores. Enquanto os leitores consomem mais internet, frequentam eventos culturais e praticam esportes, os não-leitores priorizam assistir TV e descansar.
Conclusão: o desafio de resgatar o hábito de ler
O panorama da leitura no Brasil apresenta desafios claros. Com menos leitores, menor média de livros lidos e uma queda no gosto pela leitura, o país precisa de políticas públicas eficazes e de esforços coordenados entre escolas, famílias e instituições culturais para reverter essa tendência.
Santa Catarina lidera como exemplo positivo, mas até mesmo o estado campeão tem desafios a superar. A questão central que fica é: como podemos fazer da leitura um hábito acessível, desejado e constante em um país tão diverso?
Confira a pesquisa completa clicando aqui.