Da Märzen à Oktoberfestbier: a historia das cervejas da Oktoberfest de Munique

Na coluna Hallo Heimat, Clay Schulze explora o caminho até o estilo atual de cervejas da Oktoberfest, profundamente ligado à tradição bávara e à evolução do gosto por lagers ao longo dos séculos.

Imagem: Philipp Kester @bavarikon / Biblioteca Municipal da Baviera

Quando a palavra “Oktoberfest” aparece em um rótulo, muitas pessoas assumem que se refere a um estilo específico de cerveja. No entanto, a história por trás do nome é um pouco mais complexa. O caminho até o estilo atual de cervejas da Oktoberfest está profundamente ligado à tradição bávara e à evolução do gosto por lagers ao longo dos séculos.

O estilo de cerveja Märzen tem suas origens na Baviera, provavelmente antes do século XVI, e é uma das mais importantes dentro da cultura cervejeira alemã. Tradicionalmente associada à Oktoberfest, a Märzen foi, por muitos anos, a cerveja servida durante o famoso festival em Munique. Hoje, o estilo Oktoberfestbier tomou seu lugar nas festividades, mas a Märzen ainda é reverenciada por sua história, sabor encorpado e papel no desenvolvimento das cervejas sazonais de outono.

A Origem da Märzen e o Decreto Bávaro de 1553

A Märzen foi criada em resposta a uma ordenança bávara decretada em 1553, que limitava a produção de cerveja ao período entre 29 de setembro, o Dia de São Miguel, e 23 de abril, o Dia de São Jorge. Durante o verão, a produção de cerveja era proibida, uma vez que as altas temperaturas aumentavam o risco de fermentação inadequada e comprometiam o sabor. Para contornar essa limitação, as cervejarias produziam em março uma cerveja de maior teor alcoólico e moderado nível de lúpulo e malte, que poderia ser armazenada em caves frias até o outono.

Essa cerveja, que se tornaria conhecida como Märzen, foi descrita como “marrom-escura, encorpada e amarga”, e representava uma bebida forte o suficiente para suportar o longo período de armazenamento. Ela era estocada em barris de madeira e mantida em caves recheadas com gelo e palha até que o verão passasse. Somente após esse período, ela era servida em festivais, particularmente no outono, quando as festas de colheita começavam e, mais tarde, na Oktoberfest.

Imagem: Philipp Kester @bavarikon / Biblioteca Estadual da Baviera

Supostamente, a Märzen foi servida como cerveja do Oktoberfest pela primeira vez em 1867. A cerveja Lager e Sommer reservada para a Wiesn foi esgotada prematuramente devido a um verão muito quente, e Michael Schottenhamel I (proprietário da Festhalle Schottenhamel, a mais antiga tenda) teve que servir a Märzen, que a Cervejaria Franziskaner-Leist havia produzido no estilo vienense – o que rapidamente se tornou muito popular.

Imagem: Philipp Kester @bavarikon / Biblioteca Estadual da Baviera

A Evolução da Märzen e a Criação da Oktoberfestbier

Embora a Märzen tenha sido a cerveja oficial da Oktoberfest por muitos anos, o estilo das cervejas servidas no festival mudou ao longo do tempo. A partir da década de 1950, as cervejarias de Munique começaram a produzir um estilo mais claro e leve, com o objetivo de agradar a um público mais amplo. Essa nova versão, conhecida como Oktoberfestbier, era uma lager de coloração dourada, mais fácil de consumir em grandes quantidades durante o festival, mas ainda com a alma da cerveja tradicional.

Hoje, a principal diferença entre Märzen e Oktoberfestbier reside na intensidade do sabor e na coloração. A Märzen continua sendo uma cerveja mais encorpada e maltada, com um teor alcoólico entre 5,8% e 6,3%, e uma cor que varia do âmbar ao cobre. Já a Oktoberfestbier é mais suave, com uma coloração mais clara e um perfil de sabor menos intenso, geralmente com um teor alcoólico em torno de 5,9% a 6,2%.

Imagem: Philipp Kester @bavarikon / Biblioteca Estadual da Baviera

As Cervejarias de Munique na Oktoberfest

A Oktoberfest, o maior festival de cerveja do mundo, segue uma tradição única: apenas as cervejarias de Munique podem servir cervejas no evento. Atualmente, seis grandes cervejarias estão autorizadas a fornecer suas cervejas exclusivas durante o festival, e cada uma delas, além de trazer uma rica história e tradição, produz sua Oktoberfestbier.

Augustiner Bräu München- A cervejaria mais antiga de Munique foi fundada em 1328 pelos monges da Ordem Agostiniana. Durante a Oktoberfest, a cervejaria serve sua cerveja especial de 6,2% de álcool (2023) em várias tendas, incluindo a Augustiner Festzelt e a Fischer Vroni. Uma curiosidade: a Augustiner ainda é armazenada em barris de madeira de 200 litros.

Hacker-Pschorr- Reconhecida mundialmente pelas suas tradicionais garrafas ‘rolhadas’, suas raízes remontam a 1417, hoje a Hacker-Pschorr se tornou uma das principais cervejarias de Munique no século XVIII. As marcas Hacker e Pschorr foram separadas por gerações, mas reunificadas em 1972. A cerveja Hacker-Pschorr de 6,0% (2023) é servida nas tendas Hacker Festzelt e Pschorr Festzelt Bräurosl, além de pequenos estandes de comida como o Fisch Bäda.

Hofbräu München- Fundada em 1589 como uma cervejaria ducal sob Wilhelm V, a Hofbräu é mundialmente conhecida graças ao icônico Hofbräuhaus, um dos principais pontos turísticos de Munique. Hoje, a produção de sua cerveja é feita em Munique-Riem, e sua versão Oktoberfestbier, com 6,2% de teor alcoólico (2023), é uma das mais fortes do festival, sendo servida no Hofbräuzelt.

Löwenbräu München- A Löwenbräu, cuja história remonta ao final do século XIV, tornou-se uma das maiores cervejarias de Munique no século XIX. Com sede na Nymphenburger Straße, é famosa por seu leão gigante que “bebe cerveja” e chama os visitantes para sua tenda, a Löwenbräu-Festzelt. A Löwenbräu Wiesntrunk tem 6,1% de álcool (2023) e também é servida no Schützen-Festzelt.

Paulaner Brauerei München- A mais jovem das cervejarias de Munique, fundada em 1634 pelos monges da Ordem Paulaner, ganhou fama com sua cerveja bock, baseada em uma receita do monge Barnabé. Hoje, a cervejaria está localizada em Munique-Langwied e a cerveja Paulaner Oktoberfestbier, com 6,0% de teor alcoólico (2023), é servida em várias tendas, incluindo a Paulaner Festzelt e o Armbrustschützenzelt.

Spaten- Fundada em 1397, a Spaten é a criadora da famosa Münchner Hell, lançada em 1894. Hoje, a Spaten pertence ao grupo InBev e serve sua cerveja de 5,9% de teor alcoólico (2023) em tendas como o Festhalle Schottenhamel, onde o prefeito de Munique tradicionalmente dá início à Oktoberfest com o primeiro barril.

A Importância da Proteção Geográfica

Desde 2022, a cerveja Oktoberfestbier carrega o selo de “Indicação Geográfica Protegida” da União Europeia. Isso garante que a cerveja servida no festival é genuinamente fabricada em Munique, preservando a autenticidade e a tradição local. Ou seja, outras cervejarias que produzem essa receita, utilizam o nome de Festbier.

A Märzen é uma cerveja de grande importância histórica e cultural, representando o elo entre as tradições cervejeiras antigas e a evolução moderna que culmina na Oktoberfestbier. Seja como uma Märzen robusta ou uma Oktoberfestbier mais leve, ambas trazem consigo a rica tradição das cervejarias de Munique, que continuam a moldar a cultura cervejeira global com suas receitas únicas e celebradas. Ao erguer um caneco em homenagem à Oktoberfest, você está saboreando séculos de história e excelência.

Agora chega de história e vamos beber algumas boas cervejas na Oktoberfest Blumenau. Prost!

Clay Schulze (@clay.schulze) é Presidente Do Centro Cultural 25 de julho de Blumenau e integrante do Männerchor Liederkranz, Coro Masculino Liederkranz do Centro Cultural 25 de Julho de Blumenau