Pratos à base de peixe ganham a mesa do catarinense nesta época mais do que em qualquer outro período do ano. É na Quaresma que a tradição orienta os cristãos a preferir a carne branca. E em Santa Catarina há uma espécie campeã de preferência: a tilápia.
A cada 10 quilos de peixes de água doce produzidos no Estado, oito são tilápias. No Brasil, esse índice supera os 60%. Ela é de fácil cultivo e cresce tão rápido quanto se reproduz. À mesa, pode ser servida de diversas maneiras. Por isso também é apreciada por profissionais da cozinha.
“A tilápia virou um peixe da moda porque o filé é carnudo, tem sabor neutro e a espinha fica concentrada bem no meio, fácil de remover. Os cozinheiros e as pessoas em casa têm descoberto cada vez mais a versatilidade da tilápia” analisa o chef alemão Heiko Grabolle, do restaurante Biergarten Pomerânia.
O próprio Heiko desenvolveu um prato especial para a Quaresma em Pomerode, cidade referência nacional em tradições de Páscoa e que promove a Osterfest — até 31 de março, sempre de quinta a domingo, das 10h à 20h.
Segundo o chef, a tilápia é um ingrediente que conecta as cozinhas brasileira e alemã. Ela também é comum em restaurantes do país europeu, não raro importada de produtores daqui. No Biergarten Pomerânia, que celebra a atmosfera descontraída dos bares alemães, ela é servida à milanesa, acompanhada de maionese ou batatas fritas.
Saúde
Por ter sabor suave, sem odor forte e baixo teor de gordura, a tilápia é ideal para uma refeição leve saudável. É um alimento rico em proteínas, mas com quantidade baixa de carboidratos. Contém vitaminas A, B e D, cálcio, ferro, zinco e o ácido DHA, do tipo ômega-3.
Economia e tradição
Segundo dados da Epagri, Santa Catarina tem 31 mil produtores de peixes. No Biergarten Pomerânia, as tilápias vêm de lagoas localizadas no bairro Testo Rega, em Pomerode. A família Gaulke possui os reservatórios há 25 anos, mas somente há cinco transformou os peixes em negócio, com estrutura para abate, controles sanitários e clientela regular.
Na Quaresma de 2023 a família vendeu 12 toneladas de peixes, beneficiados em postas ou filés. “As tilápias representam 95% das nossas vendas” conta Lore Wachholz Gaulke, que trabalha ao lado do marido, Rubens.
Lagoas secas
Mas a maioria dos aquicultores catarinenses é amadora (93%), tem a atividade como um complemento de renda. Aspecto que também traz um componente cultural para o cultivo de tilápias. Conforme a Semana Santa se aproxima, produtores de menor porte se preparam para a tradição de secar as lagoas.
Num só dia, todo o peixe (a maioria tilápias) é retirado para abastecer vizinhos, comunidades do entorno e feiras do peixe vivo. Ou seja, para grande parte do Estado, uma única espécie de peixe une religiosidade, economia, gastronomia e cultura.