Preservar água é uma prioridade da Epagri, uma vez que o recurso natural é indispensável à vida e, consequentemente, para a agricultura. São várias alternativas que os profissionais da empresa criaram, adaptaram ou difundem para permitir a abundância de água nas propriedades rurais familiares, sem grandes investimentos e com garantia de sustentabilidade ambiental.
Proteção de fonte
A proteção de fonte modelo Caxambu surgiu no final da década de 1980 no município de Caxambu do Sul. Foi um trabalho conjunto entre extensionistas da Epagri, o geólogo Mariano José Smaniotto, a prefeitura local e agricultores. Além da colocação ordenada dos materiais na fonte previamente limpa, o modelo tem como importante diferencial a proteção do entorno, que deve ser isolado com cerca e mantido com vegetação para garantir a qualidade da água captada. O trabalho está disseminado por todo o Estado.
Leandro Nestor Hübner, extensionista rural da Epagri em Princesa, conta que a proteção e abertura de fontes, bem como a canalização delas, são ações históricas da extensão. “Com isso, nós temos ajudado muitos produtores a preservar as nascentes, trabalhar com elas de uma forma mais racional, evitando contaminação e tendo água de boa qualidade para oferecer tanto para a família quanto para os animais”.
Márcio Markus, agricultor em Princesa, já ajudou a fazer várias proteções de fontes modelo Caxambu, duas em sua propriedade e pelo menos três comunitárias. “Isso é um trabalho que é feito para o resto da vida”, afirma o agricultor, completando que na sua propriedade tem uma há 12 anos e uma das comunitárias foi construída há quase 20 anos. “É sempre a mesma água, bem protegida, a gente consegue captar toda a água sem perder nada e com uma qualidade excelente”, atesta.
O casal Silvana Ludwig Ross e Círio Ross, de Dionísio Cerqueira, se orgulha de ter em sua propriedade uma fonte que atende 60 famílias. Com a estiagem que atingiu Santa Catarina ano passado, a pior dos últimos 50 anos, surgiu a oportunidade de perfurar um poço. Em Anita Garibaldi, no reassentamento Santa Catarina, o agricultor Adão Lesa teve uma fonte protegida pelo modelo Caxambu há 10 anos, que atende cinco famílias para consumo humano e animal. Ele conta que mesmo na estiagem “a água escorre à vontade”.
A extensionista social Lilian Sbecker, que atua no escritório municipal da Epagri em Capão Alto, explica que a proteção de fontes garante água em abundância e limpa para as famílias rurais, mesmo em períodos de escassez. É o caso da Lucilene de Moraes e Claudio Moraes de Córdova, que trabalham com pecuária mista e lavoura de milho na comunidade de Fazenda dos Moraes. Cláudio relata que depois de três meses sem água durante a estiagem do ano passado, eles procuraram a Epagri para saber o que seria viável para obter água pura para consumo. Segundo Lucilene, foi providenciada a proteção de fonte e instaladas duas caixas de 2 mil litros para armazenamento e distribuição. “Não faltou mais água, graças a Deus e à Epagri”, afirma a agricultora.
O município de Frei Rogério é outro onde a Epagri vem atuando há anos na construção de proteção de fontes modelo Caxambu. Veneranda Faquin Filon, agricultura, secretária municipal de saúde e vereadora por dois mandatos no município, diz que mais de 60 fontes já foram protegidas, alcançando mais de 150 famílias, que hoje têm água em abundância.
Carneiro hidráulico
Para quem já tem uma fonte ou reserva de água, mas precisa bombeá-la de uma parte baixa para outra mais alta da propriedade rural, a Epagri recomenda o carneiro hidráulico. O equipamento é de baixo custo e não usa energia elétrica ou combustível. Ele foi adaptado pelo extensionista da Epagri em Frei Rogério, Élcio Pedrão, que criou um modelo que utiliza peças e conexões disponíveis em lojas de material de construção. A tecnologia social, que é premiada nacionalmente, está difundida por todo o Estado.
Morador de Caçador, o agricultor Fabrício Suzin conta que, com a estiagem, se viu forçado a bombear água morro acima em sua propriedade, onde as vertentes foram secando ou diminuindo muito a vazão. Procurou a Epagri em busca de uma solução e encontrou o Élcio, que fez o equipamento e o instalou em outubro de 2020 na propriedade rural. Em 45 dias, o carneiro hidráulico já havia bombeado cerca de 100 mil litros de água para os açudes da propriedade, calcula o agricultor. “Na falta de chuva, o carneiro hidráulico fez o trabalho dele, dia e noite”, descreve Fabrício.
Água da chuva
Captar e armazenar água da chuva é outra forma eficiente de os agricultores contarem com esse recurso o ano todo, de forma barata e sustentável.
Em São Lourenço do Oeste, o jovem Diogo Dalzóquio investiu na produção leiteira da família após passar por curso da Epagri. Além de apostar na melhoria da pastagem, ele comprou um caixa de água de 10 mil litros e implantou sistema de distribuição para piquetes e para instalações na propriedade, como a sala de ordenha. Mas, com a estiagem recente, o sistema não foi suficiente. Então ele investiu na cisterna, “que resolveu tudo”, revela Diogo.
O agricultor Roque Gasparetto, de Chapecó, tem um aviário onde, há 10 anos, enfrentou problemas graves com falta de água. Naquela época, a Epagri o auxiliou na execução do projeto para construção de cisterna e obtenção de financiamento por meio da Secretaria de Estado da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural. “A água da chuva não custa nada, não precisou abrir poço artesiano, ela sustenta o aviário”, disse. Ele também exalta o modelo de financiamento, com juros subsidiados pelo Governo do Estado.
Mário Jovino Alessio, extensionista da Epagri em Chapecó, afirma que o tema água sempre foi rotina do seu trabalho no município. “Anualmente são planejadas ações em relação à proteção, captação, distribuição e armazenamento de água nas propriedades”, diz, acrescentando que, em períodos de estiagem, essas ações são intensificadas.
No Meio-Oeste, no município de Joaçaba, Leonardo e Cláudia Bonamingo criam 117 mil aves de corte, além de praticarem bovinocultura de corte em menor escala e cultivarem 8 hectares de grãos. Em 2017 construíram uma cisterna, com apoio da Epagri. Cláudia conta que, com a água armazenada, é possível atravessar até três meses sem chuvas fortes, mantendo a propriedade abastecida.
A propriedade de Denilson e Leandra Lovatel, em Ouro, é outra que está se valendo da água captada e armazenada quando chove. Eles produzem 1.100 suínos e em 2017 construíram uma cisterna com capacidade para armazenar 500 mil litros de água captados pelo sistema instalado nos telhados dos galpões que abrigam os animais. A última estiagem eles atravessaram com tranquilidade. Com a água da chuva, mais um pouco da fonte e um pouquinho do poço, não foi preciso perfurar um poço artesiano.
Laércio Zamboni também produz suínos e leite em Ouro e construiu a cisterna em 2020, com incentivo fiscal do programa Menos Juros, da Secretaria de Estado da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural, acessado com apoio da Epagri. Além do aspecto prático, o agricultor lembra da importância ambiental de se captar água da chuva, “para não acabar com os lençóis freáticos da região”, relata.
Políticas públicas
O Governo do Estado, por meio da Secretaria da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural (SAR), desenvolve políticas públicas específicas para fomentar o bom uso e preservação da água, que são executadas pela Epagri. Hoilson Fogolari, coordenador de Políticas Públicas da Epagri, explica que a SAR lançou recentemente dois novos programas com ações voltadas para esse recurso natural. O Investe Agro SC – Água para o Campo, que é de subvenção de juros, e o Prosolo e Água, que é financiamento direto do Fundo de Desenvolvimento Rural (FDR).
O Investe Agro SC – Água para o Campo oferece juros subsidiados em empréstimos para os produtores rurais contraírem empréstimos junto aos agentes financeiros com finalidade de captação, armazenamento, tratamento e distribuição de água para utilização em propriedades rurais. O programa alcança produtores rurais com no mínimo 50% da renda oriunda da agricultura, com limite de até R$ 100 mil por família. O prazo de pagamento é de até oito anos, com subvenção de até 2,5% ao ano.
O programa Prosolo e Água se subdivide em dois projetos. No Água Para Todos poderão ser apoiados agricultores que tenham enquadramento em três regras do Pronaf: renda, mão de obra e exploração do imóvel. Não será preciso cumprir a quarta regra do Pronaf, o que significa que poderão acessar o projeto todos os agricultores com área de terra superior a quatro módulos fiscais, desde que atendam às outras três exigências. O dinheiro poderá ser investido na captação, armazenamento, tratamento e distribuição de água, para utilização na propriedade com dessedentação humana e animal e irrigação. O limite de financiamento oferecido é de até R$ 40 mil por família, ou até R$ 200 mil para projetos coletivos, limitado a R$ 40 mil por família. O prazo de pagamento é de até cinco anos, sem juros. Famílias rurais em situação de vulnerabilidade social e renda que acessarem até R$ 10 mil neste projeto, terão até 50% de desconto para pagamentos em dia.
O programa Cultivando Água e Protegendo o Solo também é voltado para agricultores com as mesmas condições em relação ao Pronaf exigidas no Água Para Todos. O limite é de R$ 15 mil por família, para serem investidos em isolamento e recuperação de mata ciliar, proteção e recuperação de nascentes, terraceamento e cobertura de solo. O prazo de pagamento é de até cinco anos e as parcelas pagas em dia têm até 30% de abatimento.
Fonte: Governo de SC