Blumenau e suas histórias: os primeiros moradores

 

 

 

 

Esta quinta-feira (24/09/20) estreia a coluna da historiadora Ana Maria Ludwig Moraes. Através de Blumenau e suas histórias, ela irá compartilhar o resultado de pesquisas realizadas em periódicos, documentos, anúncios referentes ao comércio e formação da Rua XV de Novembro em Blumenau.

“Quinzenalmente publicaremos informações que não são facilmente encontradas a não ser por quem se dispõe a trabalhar com materiais diversos e originais. Inicialmente faremos uma breve contextualização para que o leitor possa se situar no tempo e espaço. Boa leitura!”, descreve a historiadora.

 

 

 

 

 

OS PRIMEIROS MORADORES

Por Ana Maria Ludwig Moraes

Em meados da década de 1840, Hermann Bruno Otto Blumenau, o fundador desta cidade, interessou-se pelos incentivos dados pelo governo brasileiro àqueles europeus que desejassem colonizar suas terras.

Veio pela primeira vez em 1846, e nesta época iniciou suas tratativas para aprovação de um projeto particular de colonização aceito em 1848, após ter sido negado por duas vezes. Aqui conheceu Ferdinand Hackradt que veio a ser seu sócio, o qual instalou-se na foz do ribeirão da Velha, em uma estrutura mínima, com a incumbência de preparar o local para a vinda dos imigrantes que Blumenau traria da Alemanha, dois anos depois. Ao aqui chegar, acompanhado pelos primeiros colonos, surpreendeu-se negativamente ao ver que nada estava feito e que seu sócio havia abandonado o projeto.

Em suas excursões de reconhecimento pela região, Hermann Blumenau ao subir o rio, vindo da Vila de Itajaí rumo à sua Colônia, se deparou com boas casas de madeira serrada, roças de mandioca, cana e milho, alguns engenhos de açucar e farinha cuja produção excedente era comercializada.

Habitando às margens do rio Itajaí Açu, encontrou as famílias de Pedro Wagner e Pedro Lucas, Deschamps, Schramm e Zimmermann que lhe foram de grande auxílio , acudindo-o com víveres e ferramentas, bem como com aconselhamentos e orientações de quem já havia adquirido algum conhecimento e superado diversos desafios.

Estes colonos predecessores de Hermann Blumenau, vieram no final dos anos 1820 para o Brasil, atendendo ao chamado de uma política do Governo Imperial que desejava povoar com europeus a província de Santa Catarina. Contudo, como não tivessem encontrado o previsto para sua fixação nos lotes lhes foram doados na região de São Pedro de Alcântara, logo se dispersaram. A opção para alguns foi a povoação fundada pelo deputado provincial Agostinho Alves Ramos na foz do Rio Itajaí Açu, e mais acima, duas colônias: a do Itajaí Mirim e outra do Itajaí Açu que possuía dois arraiais, do Pocinho e Belchior, estas aprovadas na Assembleia por mérito de Ramos.

 

 

No período em que ficou à frente das tarefas para instalação dos primeiros imigrantes, Hackradt registrou em um livro de anotações contábeis, os nomes daqueles com quem fazia negócios, na compra de mercadorias ou na prestação de serviços. E nestas anotações, constam nomes de brasileiros nativos, indicando que estes aqui já estavam habitando às margens dos rios, ribeirões e clareiras na mata, oriundos de Gaspar, Itajaí, da região do Garcia e da Velha. Assim aparecem os nomes de Marcelino Dias, Julio João Martins, Antonio Joaquim dos Santos, Inácio Dias, Adolfo Guerra, etc.

Muitos destes integravam as milícias, cuja tarefa era impedir confrontos dos indígenas com os colonos, que não raramente acabavam em mortes, outros vieram em busca de melhores terras. Moradores das margens do rio do Garcia, em Camboriú, compraram lotes na região sul de Blumenau, conforme registro, no ano de 1846, sendo reconhecidos como “gente do Garcia”.

Muitos foram os desafios enfrentados por aqueles que acreditaram e empreenderam numa terra desconhecida, mas certamente contaram com a empatia e o espírito humanitário daqueles que os precederam.

Fontes consultadas: Blumenau em Cadernos, ano 1976, ed 06, pg 240; ano 1958 ed 05, pg 91; ano 1958, ed 03 pg 58.