O piscicultor de Indaial, Michael Hosch, acaba de colher os resultados da primeira safra da criação de tilápias na propriedade. Com três viveiros, dois produtivos e um reservatório de água para reposição, o investimento feito em maio do ano passado resultou em 30 toneladas de peixe comercializadas nas agroindústrias locais. Número suficiente para classificar a atividade como principal sustento da família no Município.
Michael é um dos produtores atendidos pelo programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) na piscicultura do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC), órgão vinculado à Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc).
O programa, em parceria com os Sindicatos Rurais de Benedito Novo, Jacinto Machado e Ireneópolis, já atendeu desde 2016 140 piscicultores de 18 municípios do Estado: Benedito Novo, Apiúna, Doutor Pedrinho, Rio dos Cedros, Indaial, Timbó, Ascurra, Rodeio, Turvo, Jacinto Machado, Praia Grande, Santa Rosa do Sul, Sombrio, Ermo, Morro Grande, Araranguá, Porto União e Irineópolis. O objetivo é acompanhar a produção, auxiliar os piscicultores no trabalho de campo e orientá-los no gerenciamento das atividades e na gestão dos negócios.
“O programa me auxiliou desde o começo com instalação dos viveiros, compra dos alevinos, assessoria para contratar a melhor linha de crédito e todo o manejo. Se não fosse pela ATeG certamente não teria conseguido fechar o primeiro ciclo com esse resultado”, projeta Michael, que planeja ampliar a produtividade, alcançando duas safras dentro de 14 meses.
Outro piscicultor que está comemorando os resultados da produtividade é Maurício Konkol, de Irineópolis, Norte catarinense. Através do programa ATeG, ele transformou em renda a atividade que era apenas para consumo. Em um ano construiu cinco viveiros, três deles produtivos e fechou a primeira safra com a comercialização de 1,2 tonelada de tilápias. A estimativa para este ano é fechar duas safras com a venda de 2,5 toneladas do peixe. “A ATeG traz toda a técnica e nos ensina a ter ‘olho clínico’ na atividade para melhorar o manejo e a produção”, relata Maurício ao comentar que o preço dos insumos é o maior entrave para aumentar a rentabilidade no setor.
Em todo o Estado, segundo a coordenadora estadual do programa, Paula Araújo Dias Coimbra Nunes, a assistência técnica e gerencial tem alcançado resultados relevantes para a cadeia produtiva da piscicultura. A meta para este ano, segundo ela, é ampliar o atendimento com a formação de novos grupos no Estado.
“O programa acompanha de perto os produtores, capacitando-os sobre os diversos aspectos da cadeia, como manejo e instalação dos viveiros, análise e controle da qualidade da água, alimentação e crescimento dos peixes, além do planejamento gerencial das propriedades. São técnicas que qualificam a produção e melhoram a produtividade, por isso, queremos ampliar o alcance”, destaca Paula.
TRABALHO DE CAMPO
Os técnicos do programa ATeG, Luciano de Souza, Pedro Filipe Rey e Darlan Guolo Varela, que atendem os produtores nas regiões do Vale do Itajaí, Sul e Norte, respectivamente, afirmam que os desafios da atividade são a melhor organização da cadeia, a redução de custos de produção e a maior qualificação técnica. “É importante que os piscicultores encarem a atividade rural como sua empresa rural. Isso vai fazer com eles aumentem a produção e a rentabilidade”, observa Luciano, que assessora 29 produtores de oito municípios do Vale do Itajaí.
De acordo com o técnico, em 2018 a turma produzia 293 toneladas de peixes por safra anual (95% tilápia e 5% jundiá) e conseguiu ampliar a produtividade em 95% no primeiro ano de ATeG, passando para 577 toneladas que movimentaram R$ 2,8 milhões no mercado regional. Deste total, 70% têm venda direta para frigoríficos da região e o restante abastece o mercado local. “Para a segunda safra, estimamos um aumento de 40% na produção”, prevê Luciano.
Os números resultam das técnicas aplicadas nas propriedades. O programa conseguiu reduzir em 14,5% a taxa de conversão alimentar (kg de ração/kg de peixe produzido), diminuindo em 11% os custos da produção, já que os insumos respondem por 80% dos gastos com a atividade. “O ideal é 1,1kg a 1,2kg de ração para produzir 1kg de peixe. A nossa média baixou de 1,7 para entre 1,3 e 1,4”, detalha o técnico ao destacar que o controle efetivo sobre a qualidade da água, a temperatura, a adubação, a quantidade de oxigênio, a genética dos peixes, as proteínas da ração e quantidade de nutrientes impacta diretamente no crescimento e desenvolvimento dos peixes.
“Por isso estamos indicando aos produtores para que todos tenham termômetro e oxímetro para medir temperatura e quantidade de oxigênio nos viveiros. Níveis abaixo ou acima do ideal provocam estresse, redução da alimentação e da conversão alimentar, tornando os peixes mais suscetíveis a doenças”, explica Luciano.
O controle destes aspectos impactou no aumento da produtividade, por meio da redução do período de safra no Vale do Itajaí. Os produtores que até então tinham safra anual ou fechavam um ciclo a cada 14 meses, reduziram 30% do período e passaram a cultivar uma safra a cada nove meses. “As melhorias trouxeram crescimento mais rápido”.
MELHORES ÍNDICES
O técnico Darlan Guolo Varela atende 30 piscicultores de seis municípios do Extremo Sul catarinense. A região está iniciando o programa e divide a produção de tilápias com as culturas de arroz e banana. Os peixes são comercializados entre R$ 4,80 e R$ 5,10 ao kg diretamente das propriedades para agroindústrias do Estado e a estimativa da próxima safra é alcançar 270 toneladas.
O desafio dos piscicultores, segundo Darlan, é baixar os custos de produção, através de melhorias no controle de manejo e arrastamento, além da melhor compra dos insumos. “Estamos com nove meses de programa, fazendo todo o planejamento de organização das propriedades, adequações das instalações, análise dos viveiros e melhoria do manejo que impactarão no aumento da produtividade. A projeção é alcançar duas safras a cada 14 meses”, ressalta o técnico ao detalhar que as tilápias são comercializadas para a indústria ao atingirem 700 gramas, com crescimento médio padrão estimado em 100 gramas por mês.
“A estiagem prejudicou os produtores da região. Com falta de água nos açudes, os peixes comeram menos e estão levando mais tempo para crescer”. Uma das soluções para acelerar o crescimento, segundo o técnico, está no melhoramento genético que reduz a taxa de conversão alimentar.
Na região do Planalto Norte, o técnico Pedro Rey atende 24 propriedades em três municípios, com produção média de 80 toneladas por ano de tilápia (70%), carpa e jundiá. A maioria dos produtores tem a atividade como secundária e divide o cultivo com o tabaco. Em quase dois anos de ATeG, eles aumentam a produtividade em 50%, com potencial para triplicar a produção. Os resultados vieram após investimentos em reforma e construção dos viveiros, controle de qualidade da água e melhor gerenciamento dos negócios.
“Além do aprimoramento técnico nas propriedades, a atividade tem como desafios a melhoria do acesso ao mercado, a busca da organização do setor, aliada a políticas públicas de incentivo para desenvolver a atividade na região”, sublinha Pedro.
MERCADO
De acordo com dados da Síntese Anual da Agropecuária Catarinense 2018-2019, elaborada pela Epagri/Cepa, Santa Catarina é o terceiro maior produtor de tilápias do Brasil, ficando atrás do Paraná (123.000 toneladas) e de São Paulo (69.500 toneladas). O Estado produz 38.338 toneladas das 50.462 toneladas totais de peixes. A movimentação econômica da piscicultura na última safra alcançou R$244 milhões – R$ 177 milhões só de tilápias.
O presidente do Sistema FAESC/SENAR-SC, José Zeferino Pedrozo, destaca que o filé agrega valor à tilápia e gera maior rentabilidade aos piscicultores, o que explica a fatia maior do mercado à espécie. O peixe representa 55,4% da produção nacional e 6,67% da mundial, colocando o Brasil como quarto maior produtor de tilápias no mundo, com 400.280 toneladas.
O estímulo à produção técnica e a maior qualificação da atividade são para o dirigente as maiores contribuições do programa ATeG. “Não seríamos destaque sem o fortalecimento dos produtores, base de toda a cadeia. A assistência técnica e gerencial tem feito toda a diferença no desenvolvimento das propriedades e no desempenho social e econômico dos piscicultores”, enfatiza Pedrozo.
O superintendente do SENAR/SC, Gilmar Antonio Zanluchi, afirma que o programa dá mais segurança aos produtores e fomenta o progresso econômico do setor no Estado. “O agronegócio é a principal atividade econômica catarinense e por isso é fundamental criarmos mecanismos que garantam maior produtividade e renda aos produtores e trabalhadores rurais. É isso que temos muito orgulho de dizer que a ATeG faz”.