Por Claus Jensen | Imagens: Prefeitura de Blumenau
Na noite desta quarta-feira (13/05/20), após serem passados todos os dados a respeito da evolução da Covid-19 em Blumenau, foi apresentado um vídeo mostrando como foi a experiência de conviver com a doença. O relato foi da Secretária de Educação, Patrícia Lueders, umas das 196 pacientes recuperadas, dos 438 casos positivos registrados no município.
Na manhã do dia 18 de abril, um sábado, ela estava bem, mas quando chegou próximo das 18h, começou a sentir dores fortes no abdômen. Primeiro ela achava que pudesse ser pedra nos rins e jamais imaginou que fosse Covid-19. Mas as dores foram aumentando, ela começou a sentir falta de ar e começou a ter febre. “É uma febre diferente, interna, que não se apresenta no termômetro”, disse Lueders.
A secretária foi ao pronto atendimento do hospital onde passou por exames. A tomografia detectou a doença nos pulmões infectados, que apresentava o padrão de árvore em brotamento (PAB).
No hospital ela foi orientada pela médica, que independente do resultado, positivo ou negativo, o isolamento teria que ser radical. Quando voltou para casa começou o isolamento total com a família. “Meu apartamento é pequeno e tive que me isolar no quarto. Tomei a decisão mais difícil da minha vida: me ausentar do meu filho de 10 anos. Ele ainda não tem a maturidade de ver a mãe acamada, não poder beijá-la e abraçá-la. Isso foi muito difícil.”
Na terça-feira (21/04) Patrícia fez o primeiro teste rápido que tinha dado falso negativo. Dois dias depois, a contraprova confirmou a infecção com o novo coronavírus.
A secretária se manteve firme e disciplinada no seu isolamento, o que evitou contaminar seu filho e marido com Covid-19. Apesar disso, por orientação médica, o esposo também ficou em isolamento por 14 dias, já que passava a ser um caso suspeito. Ambos ficaram no apartamento, enquanto o filho ficou com familiares.
“Os três primeiros dias, foram os piores da minha vida. Apesar da oxigenação no meu sangue estar muito boa, os pulmões estavam infeccionados. Fiquei em observação, mas não cheguei a ser internada”, disse a secretária, que ficou com medo de morrer.
Lueders disse que o vírus atacou seu organismo muito rápido. Ela estava com muita dificuldade para respirar, não conseguia dormir e em determinados momentos teve dificuldade de levantar da cama. A partir do quarto dia, o corpo começou a reagir e a sensação de mal estar foi passando.
“É o sintoma de uma virose forte, você continua com muita dor no corpo, mas pelo menos não tem mais falta de ar. Com isso também já consegui me alimentar melhor”, comentou. Foram 14 dias em que ficou sem paladar e olfato.
O marido deixava as refeições na porta e Patrícia só saía do quarto para tomar banho. Havia todo um cuidado para evitar a contaminação de talheres e toalhas. O apartamento só tem um banheiro e o casal teve que fazer uma divisão total.
A equipe da vigilância epidemiológica mantinha contato por telefone para monitorar a recuperação de Patrícia, principalmente durante a fase de febre. Se a falta de ar continuasse, ela teria que voltar ao hospital. Os profissionais da saúde seguiam um protocolo de perguntas, já que cada corpo reage de uma forma diferente em relação ao novo coronavírus.
Patrícia ressaltou que quando chegou próximo do fim do isolamento, ela fez questão de permanecer em casa para que todo o período fosse cumprido. “É difícil, você fica com seu psicológico afetado, o filho está longe. Imagine ficar tanto tempo em um quarto pequeno e não ter contato físico com ninguém. Claro, você tem o celular, pode-se comunicar por vídeo chamada, mas quem me conhece, sabe que sou uma pessoa muito sensível. Eu valorizo toque, valorizo o abraço, a relação interpessoal, isso me fez muita falta.”
No período de isolamento ela buscou várias alternativas para ocupar o cérebro e evitar que o lado psicológico afetasse a recuperação. Ela aproveitou para ler.
Entre as grandes lições que ficaram, foram a disciplina em manter o isolamento social, usar álcool em gel para higienização das mãos e a máscara para evitar a contaminação.
“Se você for uma pessoa suspeita de estar com a Covid-19, fazer o isolamento total é fundamental. Agora, que eu vivenciei a doença, depois de todo sufoco e dificuldade que passei, fico triste em ver as pessoas achando que está passando [pandemia] e é algo banal. Apesar de todo trabalho que a prefeitura e a secretaria de saúde têm feito, elas acham que são super-heróis e não serão contaminadas. Gente, o vírus é sério! Sexta-feira eu estava muito bem, e no sábado hospitalizada,” finalizou a secretária.
Confira a entrevista completa: