Que nossos oceanos viraram um grande lixão não é novidade. Isso reflete diretamente na natureza, já que está cada vez mais comum encontrar quem vive debaixo e em cima da água com restos da sujeira da humanidade no estômago. Mas sempre tem situações que chamam a atenção.
A equipe do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) recolheu no dia 12 de fevereiro, uma ave migratória na praia de Mariscal, em Bombinhas (SC). Ela estava totalmente desnutrida, pesando 215 gramas, metade do peso médio de um bobo-pequeno saudável.
Apesar de ser encontrada viva, logo em seguida morreu por inanição e outras complicações. Na necrópsia havia apenas resíduos sólidos no estômago, inclusive embalagens plásticas. Ou seja, nada da alimentação natural da espécie como fragmentos de peixes ou lulas.
As lesões observadas na necropsia sugerem morte por síndrome caquexia (grau extremo de enfraquecimento), devido à atrofia generalizada de vísceras e órgãos associada à ausência de conteúdo alimentar, que foi substituído pela ingestão do lixo. A nefrite parasitária e os diversos exemplares de ectoparasitas encontrados no corpo sugerem ainda uma deficiência imunológica.
Apesar disso, não se pode afirmar se a queda na imunidade está associada à presença dos resíduos ou se é decorrente da extensiva migração da espécie. É possível que a causa tenha vários fatores e decorra de ambas as situações.
Os bobos-pequenos viajam quilômetros de distância das ilhas do Atlântico Norte, onde se reproduzem, até o Hemisfério Sul, passando pelo litoral do Brasil e Argentina para descanso e alimentação. Também há registros na costa da África do Sul.
Mesmo tendo hábitos oceânicos e migratórios, o Puffinus puffinus é uma ave pequena de em média 35 centímetros de comprimento.
Dados e fotos: PMP-BS