Por *Camila Kleis Rodacki | Imagens: WRodacki 2020
Oferecer manutenção para os patrimônios históricos é um dos principais meios de fortalecer a cultura de uma cidade. No entanto, edifícios antigos e obras de arte possuem detalhes construtivos de alta complexidade, dificultando sua reprodução ou registro.
Realizar um projeto “as is – projeto da estrutura como está até o momento” é um processo oneroso e que despende muitas horas de trabalho, mas que mesmo assim, ao final, não é possível ter todos os detalhes registrados com fidelidade. Isso se dá por diferentes motivos: anotações desorganizadas ou mal interpretadas, erros de manuseio dos equipamentos utilizados, medidas obtidas em diferentes níveis, inclinação de elementos que não são consideradas, entre outros fatores que compõem a realidade de uma estrutura.
Por essa razão, o uso do escaneamento a laser 3D para registro destes elementos históricos está a cada dia mais disseminado. Além de capturar as dimensões geométricas com precisão milimétrica, ainda oferece uma característica de reflectância do material e uma réplica digital 3D, aumentando a gama de estudos e análises que podem ser produzidos.
A Ponte de Ferro (Aldo Pereira de Andrade) em Blumenau, é um desses monumentos históricos que se tornam o cartão postal do local. A estrutura foi construída com aço importado da Alemanha em 1929, tendo como função servir de passagem para o trem que fazia ligação com o porto da região. Entre 1971 e 1991, a ponte ficou desativada por ordem judicial e passou por uma restauração e adaptação para ser utilizada para trânsito de veículos e pedestres. Desde então, ela funciona normalmente sem grandes intervenções em sua estrutura.
O levantamento da ponte, que possui 315 metros de extensão e 18 metros de altura, foi realizado com um escâner da marca FARO Technologies que tem um alcance de 150 metros. Foi um dia em campo para obter uma precisão global da estrutura de 4 centímetros e uma precisão local milimétrica. O resultado obtido é demonstrado na figura 1.
Estrutura sob diferentes óticas. Uma delas é a extração de elevações, cortes longitudinais e transversais, plantas baixas e simulações que possibilitam a análise da estrutura e de seu projeto.
Outra possibilidade são os mapas de intensidade e de elevação. Uma das informações extraídas pelo escâner é o grau de reflectância do material: quanto mais escura a superfície, menor este valor. Através desta análise é possível identificar diferentes materiais, umidade, corrosão, entre outros. Enquanto o mapa de elevação indica a altura dos pontos em relação uns aos outros, oferecendo uma ideia de escala. A figura 3 apresenta os dois tipos de mapas.
A visualização das fotos obtidas com o próprio escâner, motivo pela qual a nuvem de pontos possui as cores reais da estrutura, também oferece subsídios para a tomada de decisão. Trata-se de uma avaliação visual feita na estrutura com o objetivo, por exemplo, de analisar as manifestações patológicas presentes na estrutura e planejar as intervenções necessárias.
Uma das grandes vantagens é possuir a estrutura em mãos com um registro tão completo que possibilita a sua visualização de diferentes ângulos, com todos os cantos e detalhes que a compõem, sem necessidade de retornar ao local para extrair novas informações.
Além das aplicações mencionadas, é possível também importar a nuvem de pontos em outros softwares que possibilitam estudos mais avançados e específicos, de acordo com a necessidade. Um exemplo é a modelagem da estrutura com base na nuvem de pontos, que pode ser usada para a criação de um projeto de restauração.
O escaneamento a laser 3D é uma ferramenta poderosa que potencializa o poder de decisão dos envolvidos pela diversidade de estudos e análises que oferece com um único levantamento, o que o caracteriza como um agente estratégico de grande valor.
* Autora do texto é Sócia-proprietária na WRodacki