Febratex Summit debate inovação e alta performance para a indústria têxtil

 

 

 

Blumenau está recebendo a primeira edição do Febratex Summit, promovido pelo Febratex Group, uma das principais promotoras de feiras têxteis na América Latina. O evento promove um debate sobre inovação, alta performance, mudança geracional, novas tecnologias, processos disruptivos e cases de sucesso para desenvolver e transformar o setor têxtil. No primeiro dia, que aconteceu ontem, o evento reuniu cerca de 550 profissionais.

 

Lojas Renner e o futuro da moda

A visão da Renner para o futuro da moda foi o primeiro tema apresentado na manhã desta quarta-feira (6/11/19), pela diretora de operações Fabiana Taccola. A receita bruta da Renner em 2018 foi de R$ 11,4 bilhões. Atualmente, são mais de 21 mil colaboradores e 600 mil clientes circulando todos os dias nas 570 lojas. Fabiana ressaltou entre os diferenciais competitivos o posicionamento consistente, o olhar atento para a mudança do comportamento do consumidor e a busca pelo encantamento do cliente.

Sobre as novas tendências e novos comportamentos, Fabiana citou pontos como: personalização, agilidade, omnichannel, consciência sustentável, compartilhamento, experiência, parcerias e digitalização. “Hoje o cliente se relaciona com a marca, ele cocria, ele participa. É importante darmos essa abertura e nos relacionarmos com ele”, apontou. Segundo a diretora, a Renner tem acompanhado essas tendências, utilizando self checkout, venda móvel, RFID, inteligência artificial para sortimento e alocação, ontologia, reconhecimento de imagem, blockchain, customização e personalização.

 

 

 

Megatendências incontornáveis

“O mundo já não é o que era”, observou o diretor geral do Citeve, de Portugal, Antônio Braz Costa. O consumidor digitalizado, compartilhamento de roupas, hibridização (associação de produtos físicos a um serviço) e a exigência de mais design, performance, rapidez e flexibilidade foram algumas das tendências apresentadas por ele.

Além disso, de acordo com o especialista, os jovens querem mais experiências e menos coisas. “No futuro haverá em grande escala a possibilidade do design ser feito no momento da compra”, acrescentou. Com relação à geopolítica, Braz Costa afirmou que a América Latina não cresceu em termos de produção têxtil na última década, ao contrário da Ásia e da Europa. Agora, segundo ele, é a vez da África, onde o custo da mão de obra é barato.

Braz Costa também mencionou a desmaterialização de processos, que vai reconfigurar o setor nos próximos anos, a necessidade de preocupação com o meio ambiente (água, energia e reciclagem), e alternativas ao algodão, como a utilização de fibras celulósicas e poliéster.

 

Parceria indústria e universidade

Lourival Flor, fundador da Golden Technology, fabricante de produtos químicos para a indústria têxtil, falou sobre as parcerias firmadas pela empresa com as universidades nos últimos 20 anos. Segundo ele, a academia pode contribuir entendendo os problemas enfrentados pelas empresas e buscando soluções por meio de inovações disruptivas. “Se nos fechamos na indústria somos levados a produzir mais do mesmo. Mas, as empresas que estão vencendo por inovações têm trabalhado em inovação disruptiva”, observou.

 

Comunicação conectada

Comunicação conectada foi o tema abordado por Mário Neves, presidente da NSC Comunicação. Ele citou o Data Driven – dados como diretriz para produção, monetização e distribuição de conteúdos – como indispensável para todo tipo de empresa. Também falou sobre a renovação da televisão a partir de 2006, com o ecossistema digital. Neves prevê para até o ano de 2023 a TV 3.0, com mídia programática direcionada a cada espectador. Quanto a outras plataformas, destacou a importância da curadoria das informações, com apuração precisa.

 

Pessoas e tecnologias

Anderson Lourenço, da Silmaq. “Nós somos comerciais, temos sede de colocar tecnologia de ponta no mercado e entendemos que isso só é possível com muito informação, acessível a todos os tamanhos de empresas. Pessoas e tecnologia caminham juntas, lado a lado”, assinalou. Lourenço acredita que o grande desafio da indústria 4.0 é ter pessoas capacitadas para lidar com a tecnologia, que tenham domínio sobre os dados. “Sem pessoas, até o negócio mais tecnológico do mundo quebra”, acrescentou.

 

Inovação e propósito na Cia. Hering

Elisangela Chitero, responsável pelas áreas de Comunicação Institucional, Cultura e Sustentabilidade da Cia. Hering, contou que neste ano a empresa teve o desafio de revisar o seu propósito, que hoje é: facilitar escolhas, descomplicar a vida”. A empresa, que completa 140 anos em 2020, reinventou o modelo de negócio entre 2000 e 2006. O ano de 2018 foi o grande marco do ponto de vista digital.

Também representando a Cia. Hering, Andrea Ribeiro falou sobre novas áreas que estão nascendo na empresa: a área de pesquisa voltada para a busca de oportunidades e uma área técnico/criativo que engloba design gráfico e têxtil. “A área de inovação não pensa só produtos, mas também serviços, plataformas, outros produtos, etc. Ela promove a criação de produtos e serviços que solucionem ou discutam problemas de nosso tempo, com foco em sustentabilidade econômica, ambiental e social “, apontou.

 

O consumidor de 2035

A especialista em tendências e comportamento Andrea Bisker, da Spark:off, focou a apresentação em quatro pontos: demografia, panorama inclusivo, perspectivas de luxo e futuros sustentáveis. A demografia serve para entender como as pessoas vão evoluir. Até 2035 teremos mais de 1,5 milhão de pessoas com mais de 100 anos (o triplo de 2019). Uma das tendências são as famílias multigeracionais, com lares onde haverá várias gerações morando juntas. “É uma geração que vai ignorar as marcas que fingem que os consumidores são invisíveis”, afirmou.

Quanto à inclusão, citou marcas que tem abraçado a diversidade, não apenas dos produtos, mas dentro da empresa. Sobre o luxo, falou do plástico, que em 15 anos será um material de luxo. Com relação à sustentabilidade, Andrea apontou: ‘Sabemos que nenhuma marca sozinha vai resolver o problema de sustentabilidade”. Também apresentou o exemplo da Blue City Rotterdam, um pequeno ecossistema de empresas que utilizam as sobras umas das outras, e de empresas que disponibilizam roupas por aluguel, como Banana Republic.

 

Omnichannel

Carlos Busch, da Salesforce, falou da rapidez com que o mundo tem mudado e como as empresas devem se adaptar e oferecer uma experiência excelente ao cliente. “A disrupção não vem em formato de elefante, ela vem em formato de formiga”, brincou. Na opinião dele, a tecnologia é o meio, não o fim. “As pessoas hoje querem personalização e estar sempre conectadas”. Por isso, as empresas precisam se conectar em todas as áreas.

 

Startups e a indústria têxtil

Beny Fard, CEO da Spin falou sobre a relação das indústrias com as startups, principalmente relacionado a dados, tecnologia, fidelização e confiança dos clientes e dos colaboradores e, sobre a indústria 4.0. “As empresas precisam ter a visão que assim como as startups, as indústria precisam se reinventar rapidamente, e passar pelo processo de errar, aprender, repetir e acertar” comentou.

Fard ainda explicou da importância de realinhar as organizações com foco nas pessoas, pensando em métodos para mantê-las engajadas. Outro ponto destacado pelo palestrante foi o novo consumidor, os gamers, um público, ágil, fiel mas que precisa ser conquistado pelas empresas. “É preciso mais atenção das companhias para este público, principalmente para entender o que essa nova geração espera do mercado”.

 

Estímulo à agrofloresta

Como a indústria têxtil pode regenerar as florestas? O tema foi abordado por Beto Bina e Pedro Saldanha, da Farfarm. Bina acredita que a cadeia produtiva pode utilizar um resíduo que seja positivo. “Nós consideramos uma empresa que gera cadeias produtivas, regenera a natureza e promove desenvolvimento social”, explicou.
Através do estímulo à agrofloresta, a Farfarm pretende vender tecidos sustentáveis, oriundos de fibras vegetais, para empresas que queiram investir ou fabricar produtos de matéria prima realmente sustentável. Saldanha contou que a agrofloresta usa as espécies para colaborarem umas com as outras. “Precisamos sair de uma cadeia produtiva exploratória para um momento onde oferecemos trabalho e dignidade para as pessoas”, apontou Bina.

 

Indústria têxtil técnica

Stephan Verin, da empresa UP-TEX, falou sobre como transformar uma indústria tradicional em uma indústria têxtil técnica. Verin, iniciou falando que o produto têxtil está em todos os lugares, por vezes onde nem percebemos.
Verin explicou que há quatro pilares de inovação técnica no setor têxtil técnico da europa.

E, que atualmente há uma grande tendência na europa, que se trata do eco-têxtil, relativo a sustentabilidade.
“Se uma empresa pretende avançar é preciso buscar inovação, buscar tendências, novos tipos de substâncias químicas.Não é uma questão de novas máquinas e sim, de pensar fora da caixa’, comentou.

Verin também mostrou alguns produtos criados pela Eura Materials, e afirmou que o Brasil possui diversos produtos que podem ser utilizados na área sustentável.

 

Novidades que ampliam a sustentabilidade na moda

Angela Bozzon, da empresa ABVTEX, falou sobre as novidades que ampliam a sustentabilidade na moda. Ao iniciar sua apresentação, Angela explicou os valores e a missão da empresa, bem como as marcas associadas. Juntos, a ABVTEX e as associadas faturam cerca de R$ 62 milhões.

A empresa possui um programa de certificação em sustentabilidade, e, desde 2010 já promoveu mais de 20 mil auditorias em empresas de todo país.

Angela explicou que neste ano o programa passou uma mudança, pois, foi verificado que o consumidor está mais consciente e exigente. A responsabilidade social e ambiental na moda, ainda é visto como algo novo, mas, está ganhando relevância no Brasil nos últimos tempos.

As mudanças no programa, proporcionaram maior uniformidade de critérios, benchmarking internacional, reconhecimento dos participantes e desenvolvimento do setor.

 

O que é a tecnologia de impressão digital?

Gerardo Gordon, da Epson, abordou as tecnologias de impressão digital e como elas influenciam o mercado da moda.

A indústria da moda está em desenvolvimento, e esta evolução está indo em duas direções, para baixo ou em crescimento. Um exemplo do que está indo para baixo, são as produções, elas estão diminuindo, pois há fatores como, substituição, tempo, globalização e custo da otimização. “Os clientes estão exigentes, querem algo único, querem flexibilidade, qualidade e customização, ou seja querem algo único”, explicou Gordon.

Todas estas mudanças e evoluções, estão ligadas à impressão digital, fazendo com que as estruturas atuais se adaptem. “A impressão digital influencia no design, no fabricante, podendo produzir o que lhe é exigido e, nas vendas, tornando-as mais eficazes com base nesta tecnologia”, relatou.

 

Lei da moda

Thays Toschi, da OAB SP, abordou o tema, “quando direito e a moda se encontram”. A advogada contou a história do Fashion Law, que surgiu em dezembro de 2011, com o objetivo de unir o universo jurídico e o da moda. Em 2014 iniciou-se os primeiros cursos neste segmento. Thays falou quais são as três características do Fashion Law. “Ele é um ramo mercadológico do direito, com interdisciplinaridade e multidisciplinaridade”, explica.

 

O futuro da cadeia têxtil

Jorgen Lindahl, da empresa Greentex abordou o futuro da cadeia têxtil. O palestrante explicou os produtos da Greentex, os diferentes tecidos e os pacotes que são oferecidos às empresas, todos voltados a sustentabilidade. “Todos os produtos possuem certificações e se preocupam com o meio ambiente”, relatou.

 

Painel – o case do setor têxtil em Portugal, e o sucesso do Made From Portugal

Os palestrantes Paulo Vaz, Miguel Pedrosa, Ana Silva e José Manuel realizaram o painel ATP.
Paulo Vaz, iniciou o painel fazendo uma apresentação sobre a evolução do setor têxtil português. Os números apresentados mostraram que 10% das exportações de mercadorias nacionais se referem a indústria têxtil de Portugal. Vaz ainda apresentou os indicadores de crescimento do país na cadeia têxtil.

“Algo que deve ser sempre colocado em primeiro plano são as pessoas, sem elas não é possível fazer nada, elas são um fator psicológico e sociológico. Elas devem acreditar que as coisas são possíveis de acontecer. Trata-se de um contexto sensorial”, explicou.

Após sua apresentação, Vaz deu início ao painel, fazendo uma pergunta para Miguel Pedrosa sobre a indústria 4.0. “A indústria 4.0 é um processo contínuo, e nós vivemos em um universo de diversidades. Algo importante hoje, é suprir as expectativas de nossas clientes, envolvendo atividades de pesquisa e desenvolvimento. Dando um nível elevado ao nosso produto”, explicou.

José Manuel respondeu sobre como funciona a sustentabilidade aplicada no grupo Valerius. “Nós percebemos que a crise causou um dano, e, nós precisamos nos reinventar, pois a indústria têxtil não podia parar. Então, nós precisamos iniciar um processo de tratamento das peças, sem que elas prejudicassem o planeta. Pensamos sempre em deixar um futuro melhor para todos e , pretendemos que até 2025, 50% dos nossos produtos seja sustentável”, contou.

Ana Silva falou sobre a empresa Tintex, que é uma empresa reconhecida mundialmente pela inovação. “Desde sempre percebemos que precisaríamos trabalhar em um produto próprio. E, começamos a fazer algumas parcerias com empresas próximas. O que nos fez ser reconhecidos mundialmente, foi a inovação tecnológica e a produção de malhas de forma sustentável e responsável. Nossa estratégia incorporou a sustentabilidade a todos os níveis, desde o fio até os produtos químicos”, relatou.

Para finalizar, todos fizeram uma análise sobre a cadeia têxtil de Portugal, cada um com sua visão sobre a perspectiva de cada empresa em que representaram.

 

Opinião do público

O público presente no primeiro dia do Febratex Summit pode conhecer as inovações e tendências do mercado, como é o caso da equipe do Senai de Blumenau. Dalila Leite Mendonça de Carvalho, gerente executiva SESI/SENAI, regional Vale do Itajaí, comentou que o objetivo da equipe técnica e pedagógica da entidade, ao participar do evento, é fazer a conexão do Senai, sobretudo dos cursos técnicos e de qualificação, com as tendências da indústria têxtil. “Para nós, significa uma grande contribuição para a reformulação dos cursos, a fim de que eles estejam alinhados com o que o mercado está demandando”, apontou.

“Pela primeira edição do Frebratex Summit posso afirmar que é um evento de extrema importância para a sociedade e para a indústria têxtil. O conteúdo abordado nas palestras são passados de forma transparente, convidativa e com uma linguagem que abrange tanto e público têxtil como os profissionais da moda. Quero destacar o conteúdo passado pela Fabiana Taccola, diretora de operação das Lojas Renner, que de forma transparente falou sobre a visão da empresa para o futuro da moda de forma sustentável. É bacana ver empresas desse porte com essa consciência sustentável, afinal, não adianta ter apenas um produto bacana, uma confecção interessante e que gere vendas, sem saber os impactos ambientes que isso oferece ao mundo. Então, trazer essa consciência para o têxtil e falar sobre isso é muito válido”, comentou Liana Medeiros, consultora de imagem e especialista em estilo.

O presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis de Blumenau, (Sintex), José Altino Comper, destacou a importância de trazer esse tipo evento para cidade, ainda mais por profissionais com ampla experiência na área têxtil. “Os palestrantes trouxeram cases das suas respectivas empresas e áreas de atuação, bem como novos conhecimentos sobre inovação, business e sustentabilidade na indústria têxtil. O Febratex Summit certamente proporciona a oportunidade de conhecer novas ideias e modelos de negócio”, opinou.