Representantes da Acaprena e IAB se reuniram no Morro do Aipim para mostrar alternativas contra a venda

Fotos e texto: Luciano Bernz

Uma grande discussão se formou na cidade desde o dia 15 de maio, quando a prefeitura anunciou a construção do novo Setor 4 na Vila Germânica, a revitalização do Biergarten e a venda do Restaurante Frohsinn no Morro do Aipim. Na ocasião, foi divulgada pela administração pública que a intenção é efetuar a venda do imóvel garantindo por lei a sua utilização turística. Mas que este objetivo, no entanto, ainda seria discutido com os conselhos municipais de Turismo, Planejamento, Politicas Culturais e Patrimônio.

Desde então aconteceram muitas manifestações contrárias a venda deste imóvel. Na manhã desta quarta-feira (20), nossa equipe esteve no Frohsinn, onde estavam também o presidente do IAB- Instituto de Arquitetos do Brasil – Núcleo Blumenau, Anderson Buss e o vice presidente da ACAPRENA – Associação Catarinense de Preservação da Natureza, o ambientalista e professor Lauro Bacca. Cerca de oito horas depois desta entrevista, aconteceu o incêndio.

As duas entidades são contrárias a venda alegando que o local é um patrimônio da cidade de Blumenau. Conversamos sobre o assunto primeiro com Lauro Bacca e em seguida, entrevistamos Anderson Buss do IAB.

 

Lauro Bacca -Acaprena

O prof. Lauro Bacca, deu uma declaração dizendo que a ACAPRENA também é contra a venda e algumas curiosidades sobre a história do Morro do Aipim.

A nossa associação é totalmente contra a venda do terreno ou parte dele. Não podemos resolver um problema de eventual dificuldade administrativa do município, apenas livrando-se do pepino. É uma incoerência, uma cidade como Blumenau, que tenta abrir novos espaços públicos como o Parque das Itoupavas e outros necessários para uma população que tem crescido bastante. Uma cidade que tem se verticalizado de forma muito acelerada, nos últimos 20 anos. Essa verticalização significa que, uma porcentagem expressiva da comunidade hoje mora em apartamentos. Crianças nascem e crescem em apartamentos. Então, diante desta realidade, que não era a realidade de Blumenau há 20 anos atrás, nós temos um contingente populacional enorme, que vai precisar valorizar cada vez mais os espaços livres, em contato com a natureza.

A prova disso é o Parque Ramiro Ruediger, que parecia tão grande quando foi inaugurado e hoje está pequeno para tantas pessoas que procuram esta área aberta. Vale ressaltar que é a única área aberta de Blumenau. Essa área do Morro do Aipim, está em pleno centro da cidade. É histórica. Todo esse terreno, não só aqui no Frohsinn, mas ao redor, foi doado pelo filho do Dr. Blumenau à comunidade. Há muita história por traz dessa mata de eucaliptos no morro ao lado, como a do combate à malária na cidade.

Houve uma época, há 60 ou 70 anos, que toda essa mata próxima ao centro foi derrubada, para tentar afastar o mosquito transmissor da malária da comunidade de Blumenau, que se concentrava basicamente aqui no centro. Nessa simples pedreira, essa escarpa, que faz fronteira com a Rua Itajaí, também tem história. Aqui houve uma exploração de pedras para amolar ferramentas agrícolas na época dos colonizadores. A pedreira pertenceu ao Dr. Blumenau, e se não me falha a memória, ao filho dele também. O próprio prédio do Frohsinn é resultado de um grupo de empresários que se reuniu para esta construção, obedecendo as mais legítimas técnicas de construção do enxaimel.

Então, nossa associação não pode concordar com a venda de um patrimônio histórico da cidade. Concordamos que haja uma concessão, um contrato de comodato à iniciativa privada que saberia gerir isso melhor que o poder público. Mas jamais privatizar uma área que é publica. Esta área é de Blumenau, não é da prefeitura, de um prefeito ou de uma administração A,B ou C.

Esperamos que essa medida seja revista, para evitar incorrer em mais um gravíssimo erro como tantos outros cometidos aqui em Blumenau. Gostaria de aproveitar e esclarecer mais algumas coisas.

Estamos no centro, no Mirante do Morro do Aipim, vendo essa magnifica paisagem. Vendo por exemplo a curva da prainha. Se o governo não tem recursos, porque fizeram um enrocamento na curva da prainha? Ali tem toneladas de rochas jogadas recentemente. E porque, se não é um local de erosão? Porque elevaram o grid da prainha, alterando suas características normais? Enterraram uma fonte luminosa que tinha ali, e que agora deve estar debaixo desse aterro.

Então daqui deste ponto onde estamos protestando contra a venda do terreno do Frohsinn ou parte dele, nós avistamos vários outros equívocos cometidos lá embaixo. Também avistamos alguns prédios que estão sendo construídos na Ponta Aguda, ultrapassando a linha do horizonte. E, ao que tudo indica, está surgindo mais um prédio que vai ficar mais alto até que o morro aqui do Frohsinn, ferindo a paisagem natural de Blumenau.

Eu acho que Blumenau tem que ser repensada. O mundo já despertou para o turismo. E dentro desse turismo está o eco turismo que está bombando no mundo todo. Veja, nós temos esse morro, bem no centro de Blumenau, com possibilidade de usá-lo para caminhadas, corridas, passeios de bicicletas, etc… sem maiores agressões à natureza.
Então, porque privatizar isso, já que o uso pode ser tão grande? Prova disso é o Parque Ramiro Ruediger que já não comporta mais o número de pessoas que estão usufruindo dele. A questão fundamental aqui é: este terreno é do povo! É do blumenauense. E deve continuar sendo.

Anderson Buss - ICAT

Anderson Buss, disse que o IAB- Instituto de Arquitetos do Brasil, está aberto para discutir outras soluções com a prefeitura. O presidente da entidade, disse que é totalmente contra a venda, e lembra que sé é inviável financeiramente para a prefeitura, por que não uma concessão gratuita? Poderia pelo menos manter o espaço ocupado. Acompanhe a entrevista.

O Blumenauense: Anderson, qual é a posição do IAB sobre a venda do Frohsinn?

Anderson Buss: O IAB se posicionou contrário à venda do Morro do Aipim, do Frohsinn, por entender que é um imóvel público e uma referência para a cidade. Já é patrimônio do povo. Quando o Dr. Blumenau doou esse terreno para a cidade, se entende que não gostaria que fosse privado. Caso contrário teria vendido, e não doado. Por isso, entendemos que deve ser mantido público.

Além da edificação que precisa de uma reforma completa, tem o próprio morro, toda essa área de pátio e arredores, que poderia ser feito um parque e reformar o mirante. É um uso que vai além da edificação em si.

O Blumenauense: Uma concessão seria o mais viável?

Anderson Buss: A questão da concessão, pode ser um caminho a partir da hora que a prefeitura defina como sendo válido, e tendo regras claras ao concedente, para que seja utilizado o espaço. Se é inviável financeiramente para a prefeitura, por que não uma concessão gratuita, para pelo menos manter o espaço. Pode ser uma alternativa, já que a prefeitura indica não ter recursos para recuperá-lo. Nas obras de recuperação, o maior custo é com a edificação, que poderia estar incluído numa concessão. A parte externa, poderia até ser feita pela Secretaria de Obras.

O Blumenauense: O que o IAB tem feito a respeito?

Anderson Buss: O IAB, emitiu uma carta de posicionamento, elencando porque se coloca contra a venda. Já nos reunimos com outras entidades na Casa do Arquiteto, um espaço aberto esse ano, para discutirmos os assuntos da cidade.

Temos feito alguns debates em relação ao Frohsinn. Inclusive nos colocamos abertos à prefeitura. Como o IAB é uma entidade em nível nacional, temos acesso a vários profissionais que já fizeram intervenções em outras cidades e tem um know how de projetos. Nós estamos abertos caso queiram organizar um seminário ou fórum de debates. Se a prefeitura tiver interesse, temos uma rede de contatos nacional que poderíamos estar trazendo para Blumenau.