O Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca da Epagri (Epagri/Cedap) realiza, nos dias 12 e 14 de março, mais uma etapa do projeto de pesquisa para cultivo da macroalga Kappaphycus alvarezii em Santa Catarina. A macroalga produz matéria-prima para as indústrias química e de alimentos e pode representar uma importante fonte de renda para os maricultores do Estado.
A nova etapa do estudo, que vai acontecer na comunidade do Ribeirão da Ilha, em Florianópolis, consiste na medição das macroalgas para acompanhar o desenvolvimento do vegetal na localidade. Há dez anos essa pesquisa vem sendo desenvolvida no Sambaqui, outra comunidade maricultora tradicional da capital catarinense. A ampliação dos estudos de cultivo da Kappaphycus alvarezii para o Ribeirão da Ilha aconteceu em dezembro. “Em fevereiro fizemos a primeira biometria nas algas do Ribeirão e o crescimento foi surpreendente”, comemora Alex Alves do Santos, pesquisador da Epagri/Cedap responsável pelo projeto.
Há dez anos a macroalga vem sendo cultiva no Sambaqui com bons resultados. Entre março e abril o pesquisador pretende instalar cultivos experimentais em Governador Celso Ramos e na Penha. “Tais ampliações estão sendo realizadas por determinação do Ibama, órgão licenciador de espécies exóticas, como condicionante para a liberação dos cultivos comerciais da Kappaphycus alvarezii em Santa Catarina. Atualmente, apenas Rio de Janeiro e São Paulo estão liberados para cultivos comerciais” esclarece Alex.
A macroalga em estudo pela Epagri produz a carragenana, usada como espessante pelas indústrias química e alimentícia. Só em 2015 o Brasil importou 1.836 toneladas de carragenana ao custo de 16 milhões de dólares.
“Como estratégia, pretendemos iniciar os cultivos comerciais da Kappaphycus alvarezii integrados ao de moluscos, diversificando a produção e aumentando a renda dos produtores. Não queremos que ninguém deixe de produzir moluscos. As algas serão a segunda espécie. No futuro, cada produtor poderá avaliar o que é melhor para si, ou seja, continuar com a integração ou partir para o monocultivo de algas”, justifica o pesquisador da Epagri.
Em busca de autorização para cultivo comercial
“Os maricultores estão ansiosos para iniciar na nova atividade, nos cobram semanalmente notícias sobre o assunto”, revela Alex. Para atender a essa expectativa, Epagri e UFSC, parceiras no projeto, atuam também na obtenção da autorização para os cultivos comerciais. Em dezembro de 2018 a Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca de Santa Catarina e a reitoria da UFSC encaminharam ofícios ao governo federal solicitando liberação da atividade. A pedido da Epagri e UFSC, os maricultores, através de suas associações, realizaram a mesma ação.
A Câmara Setorial da Maricultura, foi outra que se manifestou. O próximo passo será acionar a bancada catarinense em Brasília para uma cobrança política, exigindo tratamento igualitário ao Rio de Janeiro e São Paulo. Enquanto essas ações burocráticas são levadas a cabo, os pesquisadores estão realizando a secagem das algas e o armazenamento de um volume maior, que será encaminhado a uma empresa brasileira de processamento, para extração da carragenana.
O grande entrave para iniciar a produção comercial do vegetal marinho em Santa Catarina está nas exigências do Ibama. A preocupação do Instituto é que essa alga, por ser exótica, se alastre pelo mar. No entanto, Alex afirma que já foi amplamente comprovado que esta possibilidade não existe. Diversos artigos científicos de vários pesquisadores nacionais e o próprio experimento em Santa Catarina, que já dura dez anos, embasam essa afirmação. Ele ressalta ainda que esta alga foi introduzida no Brasil em 1995, na região Sudeste do país, e nunca foi observada a emissão de qualquer estrutura reprodutiva.
A alga é nativa de regiões tropicais do continente asiático, como Indonésia e Filipinas, que são maiores produtores mundiais, por isso ela não conseguiu se reproduzir no Brasil. A propagação dela no Brasil é vegetativa. Os plantios e replantios são realizados com pequenos ramos retirados do vegetal. Os ramos rebrotam e crescem em ciclos que variam de 30 a 60 dias, dependendo da época do ano. No verão os ciclos são menores e vão aumentando à mediada que esfria.
“É de conhecimento público que as médias de temperaturas da água do mar dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro são mais elevadas do que em Santa Catarina. Então, se podem cultivar algas lá, deveríamos poder cultivar aqui também. Este é nosso principal argumento técnico quanto à segurança ambiental de cultivo”, descreve Alex. Ele conta que as temperaturas da água do litoral catarinense não permitem cultivo do vegetal durante os meses de junho, julho e agosto.
“Se por um lado, isso é um problema do ponto de vista de cultivo, por outro é uma segurança ambiental. As algas simplesmente param de crescer e morrem em temperaturas inferiores a 18°C. Em nossos estudos, registramos temperaturas de até 13°C no mar de Santa Catarina, momento em 100% das algas morreram”, finaliza o pesquisador.
Fonte: Epagri