Um dia e lugar para pais e filhos, livres de preconceitos, de total inclusão

Por Claus Jensen, com fotos de Marlise Cardoso Jensen

No último sábado (7/04/18), o bairro Itoupava Central foi a sede da inclusão em Blumenau. Um encontro que já está em sua 5ª edição, reuniu crianças portadoras de várias síndromes como down, autismo, e tantas outras com alguma deficiência cognitiva. Todos curtiram uma bela tarde de sol no gramado do quintal da família Strelow, com cerca de 800 m², localizado na Rua Carlos Roesel, e cercado de árvores.

 

 

Simone Gadotti Strelow e seu marido Andréas, pais de dois filhos autistas, são os principais organizadores do evento que teve a colaboração de muitos amigos, além do apoio financeiro de pessoas e empresas. Simone destacou a presença de visitantes vindos de Timbó (SC) e outras cidades. Pelas pulseiras distribuídas, estima-se que cerca de 370 pessoas vieram ao evento.

“Hoje teve a Festa da Família em todas as escolas estaduais, o que acabou prejudicando a vinda de mais blumenauenses. Tivemos o prazer de receber a escritora Andréa Werner, que tem o blog “Lagarta Vira Pupa”, e é autora de dois livros. Mais uma missão cumprida. A partir de amanhã começamos a pensar no próximo [risos]”, comentou Simone.

 

 

O casal disse que Andréas é responsável pela montagem e por cuidar dos filhos. Nicolas, o caçula, foi o mais atingido pelo autismo, é hiperativo, e exige muita atenção. Simone faz o trabalho de divulgação do evento, junto com outros integrantes da equipe de voluntários, que participaram de programas de TV e rádio.

“O objetivo é ver as famílias trazendo os seus filhos para todos curtirmos juntos essa tarde. Qualquer coisa que você faz sempre dá trabalho e é muito gratificante ver todo mundo feliz aqui”, comenta Andréas. Os brinquedos (piscina de bolinhas, cama elástica, tobogã inflável, etc) ficaram espalhados no jardim, em vez de concentrados mais próximos da mesa de café, como foi nas outras edições.

 

 

As crianças e os pais curtiram muito, alguns até relaxaram deitando sobre o pano que trouxeram para entrar no clima de piquenique. “Claro, eles ficam de olho nos filhos, mas ao mesmo tempo estão à vontade porque sabem que não vai ter aquele olhar diferente. Todos estão aqui unidos nessa causa comum”, finaliza Andréas.

A realização de um evento nessas proporções só é possível graças a uma grande corrente do bem. Tem empresários que ajudam e preferem ficar no anonimato. A ajuda dos amigos e parentes também são essenciais para fazer esse dia acontecer.

Diferente do ano passado, em 2018 não terão dois piqueniques, devido ao esforço necessário para sua realização, como a busca de recursos. Além disso, abril coincide com o mês do autismo, data estabelecida no dia 2. O próximo Piquenique da Inclusão está programado para o dia 6 de abril de 2019.

 

 

A escritora, jornalista e blogueira Andréa Werner veio de São Paulo e tem um projeto semelhante chamado Pupanique. “A ideia surgiu depois que meu filho sofreu preconceito em uma piscina pública. Na época morava no exterior, e em uma dessas vindas para o Brasil, quis fazer o evento para tirar as mães de casa, e levá-las à um espaço público, realizando um piquenique inclusivo. Eu reparei que as mães autistas tem dificuldade de tirar seus filhos de casa. Não só por causa do comportamento imprevisível, mas pelo preconceito mesmo. O autismo é uma deficiência que não está no rosto. Às vezes a criança tem uma crise sensorial, quando se joga no chão, e quem olha, acha que ela é malcriada. Daí olha para os pais de forma ruim”, comentou Andréa..

Ao promover o piquenique, a ideia era deixar seus filhos entre iguais, além de permitir que as famílias confraternizem e se conheçam. “Fizemos a primeira edição em Belo Horizonte, depois em São Paulo. O último evento reuniu 600 pessoas. Teremos outro no dia 15 (abril)”, disse Andréa.

A escritora também palestrou para pais no Shopping Park Europeu com o tema “A vida pós autismo”. No evento ela conta a trajetória do filho autista desde os 2 anos, quando foi diagnosticado, até os 10 anos, a idade atual. “Nela eu conto o que aprendi nesse período. Mas o maior aprendizado veio com a experiência de outras mães. Meu objetivo é mostrar para as mães, que por mais que seja difícil esse início, um processo de luto, por ser tão diferente daquele filho que idealizou. Isso passa, você começa a entendê-lo melhor e aprende como ajudá-lo. As coisas começam a clarear e você pode voltar a viver. Eu mostro que isso é possível, basta apenas mudar algumas coisas em nossas atitudes. Nós aprendemos muito mais com eles, do que o contrário,” destaca Andréa.

 

 

O último livro, “Meu amigo faz iiii”, pode ser adquirido direto no espaço virtual, já que todos foram editados e lançados de forma independente, por isso não dá para encontrá-los em livrarias. “Esse livro é para que as crianças pudessem entender o coleguinha diferente. Eu conto sobre a Bia que tem um amigo que não fala, mas faz o tempo todo “iiiiii”. Isso deixa ela intrigada, quando pergunta à professora que a orienta a anotar as coisas que observa nele”, disse a autora.

Muitas mães acabaram comprando o livro para dar de presente aos amigos dos filhos autistas na sala. Algumas professoras disseram que depois da leitura, as crianças identificaram amigos na sala, com as características do personagem do livro. “Tenho recebido um feedback, de que isso tem ajudado muito as crianças a entenderem seu coleguinha diferente”, finaliza.

Andréa disse que lançou o livro para ajudar nessa transição em que o autista poderá estudar em escola regular. A obra quer ajudar as crianças a aceitarem a diferença do colega como algo natural.