Por Ana Paula Müller
Neste Brasil de tantas desigualdades, temos que passar o tempo todo de olhos abertos e numa cobrança contínua pelos nossos direitos. Caso contrário, se por um momento desviamos o olhar ou silenciamos a cobrança, é na cara dura que tentam tirá-los de nós.
Em Blumenau um triste exemplo é a permanente luta das famílias de crianças com deficiências, para manter o segundo professor na sala de aula de seus filhos, principalmente daqueles de 5 anos ou menores.
Os governantes falam em falta de profissionais, mas numa corrente de voz destes pais, ecoa a motivação mais assertiva: a tentativa de baixar gastos da secretaria de educação, tirando o segundo professor das salas da Educação Infantil, os disponibilizando apenas no Ensino Fundamental.
Na prática, as crianças com deficiências entre 0 e 5 anos ficam desassistidas, passando a ter acompanhamento apenas dos 6 anos em diante.
Escolhendo a hora de conceder o que é um direito do cidadão, seja qual for a idade, os nossos governantes estão subjugando direitos, desprezando pesquisas científicas, ignorando especialistas e o mais atroz de todos: desrespeitando a oportunidade destas famílias, que perdem as chances, que seus filhos com deficiências poderiam ter, da progressão mais avançada, neste período da vida tão essencial para o desenvolvimento do ser.
Entre o nascer e quinto ano de vida ocorrem as mais elevadas conexões cerebrais, fundamentais para a formação do ser humano. É a importante, senão a principal, oportunidade que estas crianças possuem de acompanhar e ser incluída com os colegas, de perceber suas habilidades enquanto pessoa, de entender as regras sociais, compreender a vida em comunidade e absorver isto de forma intensificada, no tempo certo.
Se uma criança com deficiência já tem obstáculos de aprendizado devido sua condição, está havendo aí um adiamento nas possibilidades de evolução, quando na verdade, considerando a lógica no processo de desenvolvimento, estudos e casos reais, seria este período o mais fértil e favorável para o desenvolvimento, a ponto destas crianças, em alguns casos, não precisarem do aporte do segundo professor adiante.
* Ana Paula Müller – Fonoaudióloga atuante há mais de 15 anos no diagnóstico e no tratamentos do TEA