Desigualdade entre homens e mulheres persiste no Brasil, avalia professora da FGV

 

A queda nos indicadores de gravidez entre adolescentes e a ampliação do acesso à escolaridade para mulheres são fatores que indicam melhorias na redução de desigualdades entre gêneros no mercado de trabalho do Brasil. Essa é a avaliação que a professora Carmen Migueles, da FGV EBAPE, faz do estudo “Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil”, divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com o documento, a proporção de mulheres de 15 a 19 anos de idade com ao menos um filho nascido vivo diminuiu de 14,8%, em 2000, para 11,8%, em 2010. Para a professora da FGV, esse é um indicador bastante positivo, pois a maternidade precoce afasta as adolescentes da escola, dificultando a inserção no mercado de trabalho.

Mesmo assim, o país ainda precisa enfrentar muitos desafios para reduzir as desigualdades entre homens e mulheres no mercado de trabalho. A proporção de trabalhadores em ocupações por tempo parcial (até 30 horas semanais) é maior entre as mulheres (28,2%) do que entre os homens (14,1%). Embora sejam mais escolarizadas do que os homens, as mulheres ganham, em média, 75% do que os homens ganham. Esse patamar assegura às trabalhadoras rendimento habitual médio mensal de todos os trabalhos no valor de R$ 1.764. Para os trabalhadores do sexo masculino esse valor passa para R$ 2.306.

As diferenças entre homens e mulheres ainda representam um obstáculo em todo mundo. Mesmo em países ricos, como os Estados Unidos, homens ganham mais do que mulheres. Contudo, no Brasil, a situação é mais dramática, já que as mulheres chefiam 39% dos lares do país e acumulam, além dos afazeres domésticos, a responsabilidade de sustentar a casa.

“Parte considerável das mulheres no Brasil chefia os lares. E, por conta da dedicação ao cuidado da família, com a maior parte da responsabilidade por crianças e idosos, têm maior dificuldade de competir no mercado de trabalho, por efeito da dupla jornada. Por isso ocupam postos menos valorizados, ganhando menos. Em outros países, as mulheres tem a opção de deixar o trabalho para cuidar dos filhos, mas, quando isso acontece, os lares são sustentados pelos homens. Sozinhas, à frente da família, mulheres brasileiras nem conseguem crescer nem tem apoio suficiente para fazer com que os filhos o façam. Nesse contexto, só a redução da natalidade permite a ascenção feminina e a redução da pobreza”, completou a professora da FGV.