Por Claus Jensen
Ari Germer, ex-presidente do Sindetranscol e atual diretor financeiro do sindicato dos trabalhadores do transporte coletivo de Blumenau, conversou comigo por telefone nesta segunda-feira (18/12/17), sobre os atuais protestos e paradas no transporte público. Além do texto transcrito, tem o áudio com a conversa integral para quem preferir.
O assunto são as constantes paralisações dos trabalhadores, que buscam uma solução para o impasse do transporte coletivo. Ari que era presidente do sindicato quando foi declarada a caducidade do contrato com o Consórcio Siga, reclama da falta de acompanhamento da administração municipal nas negociações.
OBlumenauense: Qual é a previsão de paralisações para os próximos dias?
Ari Germer: Paralisação é quando paramos em determinado horário. O que nós estamos fazendo são alguns protestos, indignados pela falta de negociação da empresa (Blumob). Nós já tivemos três reuniões no tribunal, e como não é campanha salarial, e sim questão de negociação, colocamos 5 cláusulas a mais para garantir os direitos dos trabalhadores. Vou te dar um exemplo. A partir do dia 11 de novembro, a homologação deixou de ser obrigatória no sindicato. A própria empresa reconhece que está um pouco perdida (em relação ao assunto). Mesmo com a nova lei, a homologação continua sendo feita no sindicato.
O juiz e desembargador propôs fazer uma nova cláusula para atender os dois lados. Ela diz que qualquer alteração ou modificação, tem que ter o aval do sindicato. Então falamos para ele: “Vamos levá-la para a categoria, porque nós defendemos essa cláusula que o senhor propôs”. Elas foram aprovadas por uma assembleia com quase 800 trabalhadores. Não é questão de dinheiro. É de manter os direitos. Nós sequer discutimos qualquer valor. Estamos fazendo esses protestos para chamar (a empresa) à negociação. Se eles (Blumob) garantirem a convenção ou o acordo coletivo, então assinamos e resolvemos. Porque só de boca, não dá para fazer.
OBlumenauense: Então o grande impasse é a empresa sentar e oficializar esse acordo que vocês tiveram?
Ari Germer: Desde o primeiro ano do sindicato, nós sempre protocolamos o nosso ROL com o SETERB, na prefeitura, o órgão público responsável pelo transporte, para que pudesse acompanhar as negociações. Quem no final vai pagar o preço da tarifa é o passageiro, certo? Por isso nós gostaríamos que alguém da prefeitura fiscalizasse essa negociação. Nós temos uma comissão de trabalhadores que acompanha, junto com o sindicato dos patrões. Além do Seterb não acompanhar desde o começo, quando chega no final, ainda começa a atrapalhar. Cadê a responsabilidade do prefeito? Mesmo que seja uma permissão, tinha que ter alguém do poder público acompanhando. É isso que me deixa indignado. Eles aumentam a passagem, e sequer dão a garantia de terem fechado a negociação com os trabalhadores. Os protestos estão sendo feitos para garantir nossos direitos.
Uma coisa que não entendo, antes o valor da tarifa no domingo era de meia passagem. Com a entrada da Piracicabana Blumob, ela começou a ser cobrada inteira. A empresa também quer limitar os aposentados a só quatro passes por mês. Eles estão dando as cartas e a prefeitura está concordando com tudo. Tiraram quase 90 horários de ônibus e ninguém reclama. As estações (de pré-embarque) eram para abrir, assim os passageiros das ruas República Argentina e Dois de Setembro não precisavam ir até a Fonte (terminal) para pegar outro ônibus. Podiam embarcar já na Avenida Beira Rio. Antes, nas estações, tinha fila de ônibus na Beira Rio.
OBlumenauense: Então o maior impasse nas negociações está na garantia dessas cláusulas?
Ari Germer: Quando o prefeito quebrou o contrato do Consórcio Siga, com a caducidade, ele poderia ter confiscado as quatro garagens (das empresas de ônibus do consórcio). A empresa que ganhasse o edital, já teria elas prontas para trabalhar, nem que fosse com uma ou duas, mas a cidade tinha todas. A prefeitura deu uma garagem de presente (para a Blumob) na Ponte do Salto, e um terreno ao lado do Terminal do Aterro e outro no da Fonte, para deixarem os ônibus. Enquanto isso, a garagem da empresa Glória, onde trabalhei 18 anos, está sendo depredada.
OBlumenauense: No período da manhã e tarde ocorreram novos protestos. Todo dia terá um?
Ari Germer: Enquanto nós não resolvermos a situação, todo dia terá um protesto de 30 a 40 minutos. Na minha opinião, o prefeito, que é a pessoa mais importante da cidade, instituiu uma agência que tem o direito de aumentar a passagem. Essa empresa que está aí dois anos, já aumentou a tarifa quatro vezes. Quando começaram, a tarifa passou de R$ 3,35 para R$ 3,65, com quatro estações na planilha, 25 articulados, ônibus de piso baixo e de motor traseiro. Agora, só temos mais 21 carros com motor traseiro, o resto são todos dianteiros, ônibus altos fora de padrão. Eu não entendo onde está o caderno técnico. O Seterb está prevaricando de novo. Os ônibus de piso baixo que nós tínhamos, mais modernos e de melhor acessibilidade, hoje tem quase 70 cm de altura.
A minha família e os meus amigos andam de ônibus. Mas nessa situação que está, com horários sendo tirados, aumento da passagem, daqui há pouco não vai ter mais rua para andarmos de carro ou moto. Vai ficar intransitável.
OBlumenauense: O que você diria para a população que tem reclamado sobre os transtornos que os protestos causam?
Ari Germer: Eu queria pedir a compreensão das pessoas porque o que nós estamos lutando, é para evitar um grande desemprego na cidade de Blumenau. Essa questão das reformas trabalhista e da previdência, vai gerar muito desemprego. Nós vamos voltar ao tempo em que o motorista fará dupla função. Não podemos aceitar isso, porque é um retrocesso. Estávamos trabalhando até pouco tempo atrás com ônibus de duas portas.
Hoje posso afirmar com todas as letras, que nosso objetivo não é fazer greve. Queremos que os passageiros entendam, que buscamos na negociação, a garantia de nossos direitos. Não estamos fazendo nada de ilegal. A reforma (trabalhista) diz que vale o negociado sobre o legislado. Se negociarmos dessa forma, que não pode fazer a homologação fora do sindicato, de não alterar as conquistas dos últimos 10 anos, já era para ter assinado essa convenção. Eles não querem fazer isso.