Por Claus Jensen, com imagens de Marlise Cardoso Jensen
Na noite desta sexta-feira (24/11/17), a casa do eletricista Almir Boos, de 58 anos, brilhou na Rua Domingos Reichert, nº 186, no bairro Progresso. Depois de trabalhar durante seis meses para recuperar 60 mil lâmpadas de LED, todas doadas, elas finalmente contornaram a sua casa com luzes. A rua já ficou famosa no país em 2016, depois que Almir apareceu no programa “Encontro com Fátima” (TV Globo), da jornalista Fátima Bernardes.
No início de uma subida da rua, no nº 170, o acesso ao trânsito de veículos foi interrompido, para que as centenas de pessoas pudessem ocupar tranquilamente a via, onde crianças com gorros noéis brincavam. Nelas havia aquela felicidade pueril que se perdeu com o tempo, depois que celulares, tablets e jogos viraram a brincadeira preferida. No carrinho de pipoca, uma voluntária distribuía gratuitamente a iguaria.
Moradores de Blumenau e outras cidades, vizinhos e integrantes da família Boos, foram prestigiar o evento. Dona Elsa, de 86 anos, mãe de Almir, que veio de Brusque para morar em Blumenau aos 18 anos, estava muito orgulhosa do filho e admirava sua dedicação. O outro filho dela, especial, de 62 anos, vítima de paralisia infantil que deixou sérias sequelas na mobilidade e comunicação, recebia muito carinho de todos, comendo a pipoca que também gentilmente oferecia a todos que se aproximavam. Almir tem quatro irmãos e duas irmãs.
De repente, as luzes se acenderam e depois de uns 25 minutos, a família Dias cantou seu belo repertório. No intervalo de uma música, um vizinho chamou Almir e lhe fez uma homenagem por toda alegria que traz para a rua, com a casa iluminada. A cena foi assistida pelo público, repórteres, cinegrafistas e comunicadores presentes no evento.
Num pequeno espaço, Papai Noel recebia as crianças, as ouvia e distribuía balas. Atrás dele, um pequeno presépio doado, lembrava que a data era cristã.
OBlumenauense: Quanto tempo foi dedicado para instalar toda essas 62 mil lâmpadas recicladas?
Almir Boos: Quando eu chegava do trabalho para casa, pelas 17h30min, 18h ou 19h; às vezes ficava trabalhando nessas lâmpadas até meia-noite, todos os dias, de fevereiro até julho. Não tive, sábado, domingo ou feriadão. Para mim isso é uma terapia. Passo uma borracha em tudo e me concentro naquilo. Fico sentado horas no fim de semana trabalhando, e quando algo não dá certo, saio, tomo uma água e depois volto.
OBlumenauense: O que significa para você Natal e todo esforço para o que vimos nesta noite?
Almir Boos: Perdi meu pai muito cedo, com 15 anos de idade. Eu sempre gostei de Natal e sempre tínhamos um pisca-pisca na casa. Me inspirei nisso. Quero resgatar um pouco desse Natal antigo, mas sempre trabalhando com o reciclado. Recebi material de empresas, lojas, particulares, prédios e clubes.
OBlumenauense: Que sentimento vem ao coração quando vê o sorriso dessas crianças?
Almir Boos: É tudo para mim. Minha mãe comentou essa semana, que nossa casa nunca ficou enfeitada assim. Pensa em alguém orgulhoso ao ouvir isso. Ver essas crianças brincando e se divertindo, é o verdadeiro espírito do natal. Hoje ele está muito comercial.
Ano passado acompanhei o exemplo de algumas crianças. Uma delas, depois de ganhar os seus presentes, falou ao pai: esse iô-iô é o presente que sempre quis ganhar. Não era um brinquedo eletrônico, um celular ou um tablet. Era um simples iô-iô que ele tem guardado e brinca até hoje. Outro exemplo é meu vizinho que às vezes fica até tarde da noite brincando com o cata-palitos com a filha.
OBlumenauense: Dessas lâmpadas, quais foram as que mais lhe deram trabalho?
Almir Boos: O LED em contato com a água estraga muito fácil. Então lacrei com cola quente todas as lâmpadas na parte onde entra o fio, para que não danificassem. Mesmo assim não fica perfeito e algumas estragam. Aqui em Blumenau nós temos o problema com a umidade, fazendo com que oxide muito fácil. Eu gastei 6,5 kg de cola quente. As micro lâmpadas não precisam ser lacradas. Mesmo assim eu coloco para que durem mais tempo, principalmente as que estão nos coqueiros. Todo esse trabalho é o que mais tira tempo.
OBlumenauense: Você teve a colaboração de pessoas?
Almir Boos: Sim, quero destacar o Sr. Davi, que trabalha na G-Light, um grande parceiro, além do Luciano. A empresa doou 80% de toda iluminação. Sem ela, eu não teria conseguido 60 mil lâmpadas, talvez no máximo 30 mil. Depois de receber o material doado, consertei tudo. Se dava problema, consertava novamente, até ficar perfeito.
No começo, eu não tinha noção do que era consertar um LED. Se estragava, eu jogava fora. Comecei com uma chave teste e hoje já recupero muito rápido. O Davi fez um aparelhinho com uma mangueira de LED, que eu colocava no neutro e ficava testando. E quando a mangueira queimava, ele fazia outro. Hoje tenho um aparelho para lâmpada e outro para micro-lâmpada.
Depois que fui ao programa da Fátima Bernardes, o pessoal da G-Light decidiu me ajudar com as doações. Por exemplo, em 2016 eu tinha 3 renas, agora são 20. Alguns cordões com lâmpada não tinham mais conserto, então troquei por outras que havia arrumado. Hoje as renas grandes tem 200 lâmpadas enquanto as menores tem 100. Agora eu sei montar, antes não sabia.
OBlumenauense: Já pensou em quantas lâmpadas irá instalar no ano que vem?
Almir Boos: Ainda não. No ano passado eu queria montar 30 mil para 2017. Aí já tinha conseguido 40 mil e hoje estou com 60 mil. Eu sempre dependo de doações.