Por Marina Melz
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) divulgou recentemente novos e importantes números do mercado das cervejarias artesanais no Brasil. De acordo com a entidade, até junho de 2017 eram 610 cervejarias nesta categoria no país responsáveis pela produção de 7,5 mil produtos diferentes. Só no primeiro semestre, 91 novos registros foram concedidos.
Geograficamente, as produtoras da bebida estão concentradas no Sul (42%) e no Sudeste (41%) do país. O menor índice está no Norte (3%). Entre os estados, o maior número de cervejarias está em São Paulo (122), seguido de Rio Grande do Sul (119) e Santa Catarina (72).
De acordo com Carlo Lapolli, presidente da Associação Brasileira das Cervejarias Artesanais (Abracerva), os dados são reflexo do momento do mercado. “O número de bares e restaurantes com cartas de cervejas e mais variedade de chopes, por exemplo, está crescendo diariamente. O consumidor, antes acostumado a beber apenas rótulos comerciais, está descobrindo que os sabores da bebida vão além disso. E investidores e apaixonados estão apostando nisso como um negócio rentável”, comenta.
Em relação aos índices, Lapolli destaca também que o número de cervejarias é diferente – e menor – do que a quantidade de marcas. “No nosso mercado é muito comum que as cervejarias iniciem como ciganas: uma forma de terceirização da produção. Isso faz com que o consumidor tenha ainda mais opções na hora de escolher”, diz.
O presidente da Abracerva aponta que, para sustentar o crescimento do setor, são necessárias condições igualitárias de competitividade com os grandes grupos cervejeiros (especialmente em relação à carga tributária) e mais conhecimento do consumidor. “Estamos trabalhando para ambos”, afirma.
A partir de janeiro de 2018, as cervejarias com faturamento inferior a R$ 4,8 milhões, poderão aderir ao Simples. O que é considerado pelos especialistas um pequeno passo do Governo Federal para incentivo a essa cadeia produtiva.
Sempre 1% do mercado?
Um dado que chama a atenção do público é em relação à representatividade das artesanais na produção total de cerveja no Brasil. Há muitos anos se fala em cerca de 1% do mercado e o crescimento no número de cervejarias dá a entender que a competitividade está crescendo e o consumo, não.
Carlo Bressiani, diretor da Escola Superior de Cerveja e Malte, única instituição de ensino superior na bebida na América Latina, diz que a interpretação está parcialmente incorreta. “Como mercado jovem e em implantação que é, o setor das cervejas artesanais ainda não tem dados consolidados que nos levem a uma afirmação como essa. Há muito tempo se fala em 1% como forma de arredondar, mas na nossa visão, esse índice já foi de 0,2% há alguns anos e hoje chega realmente próximo a 1%”, diz.
A justificativa para essa defesa está exatamente no boom do mercado nos últimos anos. “Não é possível que o número tenha se mantido estável partindo do pressuposto que houve um aumento muito grande no número de cervejarias e praticamente não existem notícias sobre cervejarias encerrando suas atividades. O que acontecia era, realmente, uma imprecisão nos dados que não nos permitia clareza. Hoje há. E 1% do terceiro maior mercado de cervejas do mundo é um montante que temos que comemorar, óbvio que há espaço para crescimento”, finaliza Bressiani.