Audiência pública defende distribuição da ‘laringe eletrônica’ pelo SUS

 

Por Letícia Schlindwein

Pessoas acometidas por câncer de laringe que tiveram o órgão retirado e, consequentemente, perderam a fala, podem voltar a se comunicar de forma relativamente barata com um equipamento chamado “laringe eletrônica”.  A distribuição gratuita do aparelho pelo Sistema Único de Saúde (SUS) foi defendida durante audiência pública, requerida pelo senador Dalirio Beber (PSDB-SC), na Comissão de Assuntos Sociais (CAS), nesta quinta-feira (14/9/17).

O equipamento, segundo a vice-presidente da Associação de Câncer de Boca e Garganta (ACBG), Melissa Ribeiro Medeiros, custa em torno de R$ 1,7 mil, podendo chegar a R$ 1,3 mil, dependendo da negociação. Ele é posicionado externamente próximo à garganta da pessoa operada, que tem um buraco na traqueia por onde passou a respirar, e produz uma voz metalizada, sem variação de entonação, mas perfeitamente compreensível. O aparelho, destacou ela, quebra um silêncio de anos e reinsere o cidadão na sociedade.

Beber levou o pleito ao Ministro da Saúde, Ricardo Barros, que respondeu positivamente às reivindicações da ACBG. O ministro garantiu que vai acatar a distribuição do equipamento, desde que o recurso não fique 100% de responsabilidade do SUS. “Devemos ter o parecer favorável na reunião do Conselho, que acontece amanhã, mas será uma decisão tripartíade”, disse Barros.

“É uma voz que não tem entonação, não consigo me emocionar, brigar, cansa um pouco os ouvidos, mas é uma voz possível, que quebra um silêncio de anos de vários laringectomizados. Posso não gostar, não me identificar com ela, mas ela é necessária”, afirmou Melissa, usuária do produto importado por ela dos Estados Unidos há três anos.

A ACBG já fez o pedido de inserção à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), mas ainda não obteve resposta. O representante do Ministério da Saúde, Sandro Martins, afirmou que o processo deve ser analisado em breve pelos especialistas e, na opinião dele, não deve ter uma tramitação complicada na comissão, já que os preços não são exorbitantes.

“A tecnologia é disponível e de segurança e eficácia bastante conhecidas. Vai, pelos custos e pelo tempo de existência, ter impacto orçamentário modesto, frente a outras incorporações que são vistas na comissão. Não antevejo que haja uma trajetória muito difícil”, observou ainda.

Prevenção

A fonoaudióloga da ACBG, Luciara Giacobe, explicou que anualmente são acometidos por câncer de laringe cerca de 7.350 pessoas por ano, sendo 6.360 homens e 990 mulheres, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Desse total, 4.141 morrem, quase sempre esperando pela radioterapia, que é rara e falha no SUS, disse.

Os sobreviventes, que perdem a voz, passam a respirar por um buraco na traqueia chamado estoma. Eles enfrentam problemas para engolir alimentos, dificuldades respiratórias e de olfato, problemas emocionais e alteração na qualidade de vida. Não poderão nunca mais, por exemplo, tomar banho de piscina ou de mar, já que há risco de a água entrar pelo estoma, causando pneumonia e outras complicações.

Causas

Luciara defendeu o investimento em políticas públicas de prevenção, já que a causa do câncer de laringe quase sempre é externa: fumo, bebidas alcoólicas e infecções pelo vírus do HPV. Sugeriu ainda palestras nas escolas, campanhas nacionais e pediu a aprovação de um projeto do deputado Valdir Colatto (PMDB-SC) que cria o Dia Nacional do Laringectomizado, em 11 de agosto.

Atendimento

Ela solicitou também atenção ao acolhimento e acompanhamento psicológico e fonoaudiológico dos sobreviventes, que precisam reaprender a usar os músculos para produzir a fala, seja pela voz esofágica, pela laringe eletrônica ou pela prótese traqueosofágica. Essa prótese é ofertada pela saúde pública, mas seu preço na tabela do SUS precisa ser reavaliado, observou. O ideal é que as duas tecnologias fossem ofertadas, pois há pessoas que não têm condições anatômicas de receber a prótese, disse ainda.

Ministro da Saúde vem para Blumenau e Criciúma

Durante a audiência com o Senador Dalírio Beber,  o ministro Barros aceitou negociar a ampliação do custeio do Hospital Materno-Infantil Santa Catarina, desde que o Governo do Estado e os municípios vizinhos também contribuam.  O pedido veio do secretário de Articulação Nacional, Acelio Casagrande, dos deputados federais Valdir Colatto e Geovânia de Sá, do prefeito de Criciúma, Clésio Salvaro e do presidente da Amrec e prefeito de Cocal do Sul, Ademir Magagnin.

O acordo entre União, Estado e Municípios será construído na próxima semana, quando o assessor Especial do ministro, Sérgio Luiz da Costa, fará visita técnica e reunião de trabalho em Criciúma, envolvendo os secretários de Saúde e prefeitos de toda a região. São aproximadamente 64 municípios que utilizam a estrutura do Hospital Santa Catarina: a cada quatro pacientes atendidos, três são de fora da cidade.

No dia 6 de outubro,  o ministro Ricardo Barros, deve visitar Chapecó e Blumenau.