Profº Dermes: O diálogo como mediação de conflitos

Por Prof. Dermes

Numa época em que se costuma expulsar da vida pessoal, presencial ou a distância, todo aquele que discorda de algo, com apenas um clique, falar de diálogo e dialogar torna-se ais do que nunca necessário. Nesse sentido, apresento abaixo algumas sugestões para favorecer as relações interpessoais, fruto de pesquisas e reflexões das quais resultaram o livro “Meditações, autoconhecimento e dicas para o diálogo” (São Paulo: Anúbis, 2016), bem como o Workhop “O diálogo como mediação de conflitos”, que coordeno em escolas, empresas, grupos de apoio e outros.

1. Argumentar com alguém nervoso é como tentar convencer alguém alcoolizado a deixar o vício. Assim como é preciso aguardar um momento de sobriedade para a conversa com o viciado, também é preciso um momento de suavidade e lucidez para argumentar.

2. Um adulto deve evitar dizer a uma criança algo como “Não fale assim comigo! Não sou seus coleguinhas de escola!” Inconscientemente a criança pode achar que para os coleguinhas da escola tom de voz excessivamente alto, agressões e outros estão liberados.

3. Não generalize. O fato de uma sua vizinha dirigir mal não significa que todas as mulheres dirigem mal. Aliás, esse preconceito machista-patriarcal é facilmente desfeito, dentre outros, pelo fato de companhias de seguro cobrarem menos para motoristas do sexo feminino em virtude do menor índice de envolvimento em acidentes de trânsito.

4. Não descaracterize ou ofenda o interlocutor. Dedique-se à argumentação, não à ofensa.

5. Diferenças não precisam ser divergências e precisam ser respeitadas. Se numa assembléia de condomínio, por exemplo, a maioria decide pintar determinada área de azul e você prefere amarelo, vai-se mudar por esse motivo? Quando, de fato, houver diferenças ou divergências irreconciliáveis, aí sim, o desapego e o distanciamento certamente ocorrerão. Quanto mais amoroso for o processo, melhor.

6. Diplomacia e argumentação, paciência e saber ouvir não são técnicas de manipulação, mas estratégias para desenvolver a empatia. Não se usam tais recursos para impressionar ou amedrontar, mas para ligar um coração ao outro. Uma voz de veludo não significa necessariamente fraqueza emocional. Pelo contrário, denota domínio interior.

7. Seja objetivo (a). Em vez de soltar ao vento a todo instante um “Nossa, como o lixo está cheio!”, se precisa de ajuda, peça diretamente ao outro, que pode estar distraído, aéreo, com o foco em outras questões.

8. “Já falei mil vezes!”, diz alguém irritado. Que tal dizer pela 1001ª., com calma, atenção e talvez mudando a estratégia de comunicação. Corre-se o risco de dar certo…

9. O escritor Richard Simonetti afirma o quanto seria interessante se todos tratassem os familiares como tratam as visitas. De fato, comumente, se uma visita quebra um copo, os donos da casa soltam um “Não foi nada!” e ainda fazem questão de limpar o estrago. No caso de um familiar, muitas vezes, começam uma grande tempestade pelo copo d´água…

10. “Quem desdenha quer comprar.” Falar mal de outrem geralmente traduz insatisfações próprias. “Quando Pedro fala de Paulo, mais sei de Pedro do que de Paulo.” (Freud)

11. A linguagem corporal não é engessada, uma camisa de força. Ao contrário do que dizem revistas de paquera, não é sempre que alguém mexe nos cabelos depois de olhar para você que existe interesse afetivo-sexual. Pode ser caspa…

No próximo artigo veremos representações e arquétipos a respeito da força construtiva ou destrutiva da palavra.
Em tempo, nas palavras do arcebispo anglicano sul-africano Desmond Tutu, “Meu pai sempre dizia: não levante a sua voz, melhore os seus argumentos.”

 

Ademir Barbosa Júnior (Prof. Dermes) é professor de Literatura, Redação e Interpretação de Textos. É Mestre em Literatura Brasileira pela USP, onde também se graduou em Letras. Desde 1991 leciona do Fundamental à Pós-graduação e compõe bancas de diversos processos seletivos, tendo passado pela Fuvest, pelo ENEM, dentre outros.

Autor com mais de 70 livros e 38 revistas especializadas publicados no Brasil e em Portugal e com traduções para diversos idiomas, é apaixonado pelo que faz. Contatos: ademirbarbosajunior@yahoo.com.br