Por *Prof. Dermes
“Escrever é fácil. Você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca ideias.” (Pablo Neruda) Brincadeiras à parte, escrever não é apenas atividade de inspiração, mas também de raciocínio, organização, planejamento e trabalho braçal.
Com o intuito de compartilhar experiências com todos aqueles que prestam ENEM e concursos públicos, bem como vestibulares e outros processos seletivos, publicaremos uma série de pequenos artigos com reflexões e sugestões.
Os quatro passos
São quatro passos para uma boa redação e, por extensão, para a resolução, de qualquer exercício: 1. Leitura atenta da proposta. 2. Projeto de texto (é preciso saber para onde ir se quiser mudar o caminho). 3. Rascunho e 4. Texto final. Não adianta correr, queimar etapas: a resolução começa na leitura da proposta, do enunciado. Aliás, segundo as estatísticas, a maioria dos erros de resolução ocorre não por desconhecimento do conteúdo, mas por problemas de interpretação de textos.
Lugar-comum: algo a ser evitado
Lugar-comum é uma expressão consagrada pelo uso, que se tornou desgastada. Exemplos:
O Brasil tem uma natureza exuberante (escreve-se isso desde 1500).
Vimos por meio desta (embora no cotidiano a expressão seja utilizada adequadamente no serviço burocrático, no caso de o processo seletivo solicitar uma carta, a expressão deve ser evitada).
Senso comum e ausência de ideias próprias
Senso comum é a reprodução de uma idéia, consagrada pelo uso, porém, sem base científica e/ou na realidade. Vale lembrar que “base científica” também se refere às Ciências Humanas.
Exemplos:
Todo velho é sábio. (Será mesmo? A idade concede sabedoria, ou as experiências?)
Toda criança é inocente, ingênua. (Será mesmo? O que se entende por inocência e ingenuidade? Manifestam-se em todos os níveis? Estudos de Psicologia e Psicanálise contestam essa tese em muitos pontos… O que dizer do protagonista do filme O Anjo Malvado, de 1993?)
Muitas vezes, senso comum é utilizado também como sinônimo de consenso, sem a carga de alienação argumentativa atribuída acima.
Título
É a carteira de identidade do texto. Assim como na cédula de identidade cabem dados sobre sua identificação, foto e assinatura, no título devem aparecer de forma concisa a idéia central do texto. De forma sedutora, naturalmente. Dessa forma, use com equilíbrio trocadilhos e recursos poéticos os mais variados. Títulos genéricos como “As eleições no Brasil”, além de não serem atraentes, não delimitam o tema. Vale a pena “praticar” títulos, mesmo quando o modelo de prova que você fará não o exigir.
Epígrafe
Nenhuma prova de Redação a exige. No entanto, atribui elegância intelectual ao texto. Prefira versos da MPB ou de poemas, trocadilhos bem feitos, provérbios e citações que não pertençam ao senso comum etc. Em tempo: não se esqueça das aspas (neste livro, substituídas pelo itálico) e da referência ao autor (Carlos Drummond de Andrade, Provérbio popular nordestino etc.).
No próximo texto trataremos de conceitos como Dialética e definiremos o perfil do leitor dos textos dos candidatos, o qual não deve ser confundido com a figura da pessoa física do professor.
Abraço!
Ademir Barbosa Júnior (Prof. Dermes) é professor de Literatura, Redação e Interpretação de Textos. É Mestre em Literatura Brasileira pela USP, onde também se graduou em Letras. Desde 1991 leciona do Fundamental à Pós-graduação e compõe bancas de diversos processos seletivos, tendo passado pela Fuvest, pelo ENEM, dentre outros. Autor com mais de 70 livros e 38 revistas especializadas publicados no Brasil e em Portugal e com traduções para diversos idiomas, é apaixonado pelo que faz. Contato: ademirbarbosajunior@yahoo.com.br