Câmara cria frente parlamentar da industrialização do lixo

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A Câmara de Vereadores de Blumenau realizou na noite desta quinta-feira (10), em conjunto com a Associação dos Municípios do Médio Vale do Itajaí (AMMVI), audiência pública para tratar do lixo. A reunião é fruto das reuniões da Comissão Especial de Acompanhamento da Industrialização do Lixo. Na oportunidade, decidiu-se pela criação de uma Frente Parlamentar.

O encontro foi solicitado pelo vice-presidente da Câmara, Beto Tribess (PMDB), que agradeceu a presença de várias autoridades da região. “O destino dos resíduos sólidos é um dos problemas da humanidade hoje. É nosso meio ambiente, qualidade de vida que está em jogo”.

Afirmou que a quantidade de lixo produzido pelo ser humano diariamente é de aproximadamente 1,2 quilos. Apontou que já existem alternativas para que o lixo não continue prejudicando a vida na terra. Destacou que a industrialização do lixo já é realidade nos países mais desenvolvidos do mundo, onde o gerenciamento é feito por empresas privadas. Lá o lixo é transformado em energia elétrica.

O presidente da Câmara de Vereadores de Blumenau, Vanderlei de Oliveira (PT), parabenizou o projeto apresentado pela AMMVI, mas ressalvou que o projeto não seja só da entidade. “Que abrace a bacia do Itajaí-Mirim ou será parcialmente perfeito”. Afirmou que com a Frente Parlamentar dos Resíduos Sólidos de Blumenau, é possível construir um parlamento de toda a região para levar a discussão com mais profundidade. “Temos que dialogar com todos”.

Vanderlei afirmou que assinou o estatuto da Reciblu em Blumenau. “Quero acompanhar com segurança a formação das cooperativas em Blumenau. Se nós tivermos dúvida em uma virgula vamos fiscalizar”, ressaltou.

O representante de Santa Catarina no Movimento Nacional dos Catadores, Dorival Rodrigues dos Santos, contou que trabalha em Florianópolis há 18 anos. “Somos hoje profissionais reconhecidos. Catador não é invisível, é gente, tem família, é honesto e precisa da inclusão social. Temos 51 cooperativas no Estado”. Disse que apoia o projeto feito em Ituporanga, que transforma lixo em adubo. “Eu mesmo utilizei e plantei uma cebola. Funciona mesmo”. Ao final, pediu mais respeito aos catadores. “Quem criou a coleta seletiva fomos nós”.

Em seguida, o presidente do Samae, Valdair Mathias, contou que Blumenau hoje tem parceria com a Reciblu, investindo mais de R$100 mil por mês. “O Samae tem apoiado a entidade. Sabemos da sua importância”. Sugeriu que os municípios façam o Plano Municipal de Saneamento. “É o pontapé inicial. Em 2013 resgatamos o Conselho Municipal de Saneamento”.

Leonildo Machado, reciclador da Reciblu, disse que a atividade é cansativa, desgastante e pouco remunerada. Contou que nos últimos quatro anos reciclaram muitas toneladas. “Com a retirada deste material, a cidade ficou mais limpa e o Poder Público se beneficiou. Os menos favorecidos fomos nós, catadores. Não queremos assistencialismo, queremos ter condições de ganhar o suficiente para comprar o que quisermos com o suor do nosso rosto”.

O prefeito de Indaial e presidente da AMMVI, Sergio Almir dos Santos (PMDB), afirmou que ficou muito feliz com o debate. Afirmou que a preocupação da entidade é com o lixo e não com retirar trabalho de catadores. “Nós estamos trazendo este debate para juntos construirmos uma solução. Estamos tratando de uma questão ambiental”.

O lixo na região do Médio Vale do Itajaí e a biometanização

O Médio Vale do Itajaí tem uma população de 686 mil habitantes e produz cerca de 138 mil toneladas de lixo por ano, destinados a três aterros sanitários. José Rafael Corrêa, Secretário Executivo da AMMVI, afirmou que, diante deste cenário, a gestão sustentável de resíduos sólidos é urgente.

Uma empresa foi contratada para fazer o diagnóstico dos 14 municípios e apresentou dados importantes, segundo Corrêa. “Em Guabiruba, o crescimento habitacional em dez anos foi de 42%; e o lixo crescia acima da média da população. Em 2011 realizamos o primeiro fórum, em parceria com representantes da Alemanha”.

Desde então, muitas empresas apresentaram projetos já prontos para implantar na região. “Só aceitamos conhecer experiências em que a população era parecida com a nossa região, que trabalhasse com biometanização e que trabalhasse de forma integrada”.

Lembrou que dentro da Política Nacional de Resíduos Sólidos uma das principais metas é a não geração dos resíduos. “Perpassa pela redução dos resíduos, a reutilização, a reciclagem, o tratamento e a disposição adequada dos rejeitos”. Relatou que a Suécia e Alemanha também seguem este programa. “A legislação é muito parecida com a dos países mais desenvolvidos”.

A entidade pretende desenvolver estratégias de educação ambiental, por fóruns e materiais gráficos. “Fizemos um Colegiado de Resíduos Sólidos, que criou grupos de trabalho para tratar desta área. Já se pensa em se fazer um mascote e uma cartilha informativa”.

O projeto a ser aplicado na região precisaria de cinco hectares, sendo 10 mil m² de área construída. Para a usina de biometanização completa seria necessário investimento de R$60 milhões. “Estivemos em diversos Ministérios do Governo Federal buscando recursos. Eles disseram que só apoiam projeto que não tenha queima”.

Dentre as vantagens da biometanização estão: redução considerável do volume de resíduos destinado ao aterro sanitário, inclusão social de trabalhadores, gerando emprego e renda e geração de biogás, energia elétrica ou gás natural (GNV).

Experiência em Ituporanga

O empresário Dirnei Feri ocupou a tribuna para apresentar uma nova tecnologia empregada em um Centro de Processamento de Lixo em Ituporanga, no Alto Vale do Itajaí. O projeto recupera 100% os materiais que compõe o lixo, em especial, os resíduos orgânicos, sanitários e plásticos contaminados. Com a separação dos materiais recicláveis, o sistema permite a obtenção de novas matérias-primas como madeira plástica e, a partir de um processo mecanizado e automatizado de compostagem, gera também adubo.

Diferente dos aterros sanitários, onde o lixo é enterrado, neste Centro o que chega dos caminhões vai para uma linha de triagem, onde são retirados alguns tipos de materiais recicláveis, e o restante segue para a compostagem, onde será transformado em adubo. Ferri explica que o sistema não elimina o custo da disposição de resíduos, mas substitui um método no qual ‘paga-se para enterrar e poluir’, por outro no qual ‘paga-se para processar, reutilizar e reciclar’. “No primeiro os prejuízos são imensos, já no segundo os ganhos são imensuráveis”, afirma.

Entre os benefícios da tecnologia estão a descontaminação, a retirada e o encaminhamento para reciclagem de diversos materiais sólidos como vidros, plásticos e metais; e a transformação em composto orgânico dos restos de alimentos, vegetais, papéis contaminados (como o papel higiênico). Somente em Ituporanga, onde o plástico filme responde por aproximadamente 10% do total do lixo, é possível recuperar 30 toneladas deste material todos os meses.

Vereadores

Oldemar Becker (PPS)
Parabenizou os catadores pelo trabalho que realizam. “Estes são os que mais trabalham e que menos ganham. Parabéns a cidade de Ituporanga pelo trabalho que vem realizando. Uma pequena cidade com um grande projeto”.

Osmar Vicentini – de Guabiruba
Parabenizou os vereadores que possibilitaram a audiência. Questionou se muitas doenças não podem vir pela falta de tratamento do lixo. “Da minha parte, do nosso município, estamos dispostos a contribuir no que for necessário”.

Waldemiro Dalbosco – presidente da Câmara de Vereadores de Guabiruba
Afirmou que a região perdeu importância econômica pela diminuição da representação política no Estado. “Precisamos nos unir na busca dos recursos públicos. Arrecadamos, enviamos tudo a Brasília e o que nos sobra? Obrigações de saúde, educação e segurança”.

Fabrício Dalcastagné – de Timbó
Sugeriu que se façam produtos para consumo a partir de materiais recicláveis. “Seja qual for o projeto, que tenha viabilidade econômica. Que sejam úteis e baratos estes produtos”.

Jean Pirola – de Brusque
“Se nos últimos oito meses, a discussão que tivemos na cidade de Brusque em questão da reciclagem, tivéssemos feito um trabalho como está sendo feito aqui, seria diferente o resultado”. Comentou que é preciso cobrar dos representantes mais ações nesta área de resíduos sólidos.

Jaime Kirchner – Gaspar
Propôs que se faça uma campanha voltada às crianças com valores sobre a separação do lixo. “Mostrar que é uma questão de amor, de cidadania, de pensar no próximo e no futuro”.

Foto: Denner William | Agência CamaraBlu | Fonte: Assessoria de Imprensa CamaraBlu