Por Claus Jensen, com fotos de Marlise Cardoso Jensen
A tarde deste sábado (19/11/16) foi de muita alegria para crianças que sofrem de alguma síndrome neuro-típica ou deficiência tanto física, quanto intelectual. O 3º Piquenique da Inclusão, foi um momento para trocar experiências, ver o sorriso das crianças e de pais, que puderam compartilhar suas dificuldades e pequenas vitórias com outros pais.
Aproximadamente 270 pessoas participaram do piquenique, que teve um delicioso café com doces e salgados. Entre elas, a equipe da RIC Record com a repórter Danúbia de Souza e o cinegrafista Pipoca (Carlos Medeiros), além do presidente da Câmara de Vereadores de Blumenau, Mário Hildebrandt.
As atividades físicas e brincadeiras aconteceram de forma voluntária e as despesas foram pagas graças a doações, inclusive de empresas. E foi bonito ver tantos rostos felizes nas camas elásticas, piscina de bolinhas, tobogã inflável, pintura no rosto e outras brincadeiras. Animadores vestidos de palhaços garantiram esses felizes momentos.
Simone Gadotti Strelow foi a organizadora do 3º Piquenique da Inclusão. Ela que tem dois dois filhos com autismo, um com grau menor e outro com grau mais acentuado; contou com a ajuda do marido, Andréas Strelow, que me relatou das pequenas vitórias como o filho ir sozinho ao banheiro. Detalhes para nós, motivo de comemoração para eles. Os avós, sempre corujas, acompanharam os netos e filhos. O evento aconteceu no terreno dos sogros de Simone, localizado na Rua Carlos Roesel, no bairro Itoupava Central.
“O evento cresceu de um forma que não imaginava, até temos camiseta do evento [risos]. No segundo piquenique, o número de participantes já dobrou e me deixa muito feliz ver tantas pessoas virem. São desde pais com crianças neuro típicas, até casais sem filhos, todos dividindo suas experiências e anseios. Essa troca, faz muito bem. A nossa intenção é que as famílias possam vir aqui e desfrutar esse momento nesse jardim tão lindo”, comenta uma Simone feliz com o resultado do evento.
Segundo estimativa de Strelow, vieram em torno de 250 a 270 pessoas, muito mais dos que os 60 da primeira edição, quando compareceram mais a família e os amigos. “Nesse ano a notícia se espalhou de forma impressionante e tem até uma equipe vestida de rosa que me auxiliou na organização” comentou. Ela calcula que fora amigos e família, cerca de 10 voluntários foram responsáveis pela boa qualidade do piquenique. “Eu sempre digo, a ideia foi minha, foi! Mas por trás tem muita gente, pois sozinhos não fazemos nada”.
Nos últimos dias antes do evento, ainda faltava um pouco dos R$ 2 mil necessários para pagar todos os custos, inclusive o aluguel dos brinquedos e banheiros químicos. “Encima da hora, sempre tem alguém de bom coração que pergunta: quanto falta? Deu para pagar os brinquedos e também dois banheiros químicos, porque vimos que um só não seria suficiente. Gostaria de agradecer a cada um que ajudou. Não vou nomear por medo de esquecer alguém, mas fica o muito obrigado por tornar possível esse dia acontecer, inclusive São Pedro, que está segurando a chuva [risos]” finaliza Simone. Em 2017 há planos para realizar um piquenique em abril, por conta do dia do autismo; e outro no final do ano, em Novembro, que começa a fazer parte do calendário.
Para Emil Chartouni, o evento foi fantástico, foi um momento sem qualquer tipo de preconceito e exclusão. A esposa Priscila Francisca Krieger, foi uma das voluntárias que participou da organização do evento. “No piquenique da inclusão tivemos pessoas com problemas autismo, paralisia cerebral, síndrome de down, epilepsia, coordenação motora, que sofrem com algum tipo de preconceito perante a sociedade. Independente de qualquer problema, somos todos iguais. Foi uma oportunidade de convivermos todos juntos nesse espaço de 2.500 m²”, comenta Chartouni.
“A minha filha Camile por exemplo, tem uma síndrome extremamente rara, em que há a falta de dois genes no cromossoma 9. A ausência de um dos genes causa falta de sensibilidade a dor, nem tem o metabolismo em relação a medicamento como seria normal. A falta de um segundo gene, causa epilepsia, atrasos do desenvolvimento motor e na fala”, comenta. Chartouni disse que é um caso tão raro, que só existem dois no mundo.
“Ela é o segundo caso no mundo, o primeiro aconteceu na Inglaterra e foi estudado por um professor da Universidade de Cambrigde. O nosso médico geneticista de Curitiba, solicitou uma autorização para estudar e escrever um artigo científico do caso dela no Brasil, tanto que querem nominar de síndrome de Chartouni. Isso é devido a repercussão e atividades desenvolvidas até o momento, como o próprio março Roxo” explica Emil. “Foi um grande evento que mostrou a vitória do preconceito sobre aqueles que o usam para se acharem melhor que os outros. É um estímulo para outros bairros promoverem um evento parecido”, finaliza Chartouni.
Uma das atrações especiais veio do canil da Polícia Militar. O soldado Steffen e o sargento Bonanoni fizeram demonstrações, além de informarem detalhes dos cães pastores belgas Sheriff e Brutus, que recebem treinamentos desde cedo.
O soldado Steffen da PM, disse que realizam essas demonstrações em creches e escolas. “Esses cães são de trabalho, em que nós socializamos com crianças, para que os animais não tenham problema de ficarem agressivos. Nas creches e escolas, geralmente fazemos apresentações de faro com o cão Apolo, único que faz esse tipo de trabalho no canil. Os outros, que são filhotes, mostramos a parte de proteção, que é quando o cachorro morde se alguém não obedece ou o policial dá o comando para morder”, comenta o policial militar.
Steffen disse que a reação das crianças nessas apresentações sempre é de alegria, enquanto os pais se surpreendem com o nível de adestramento. São desde a calma, serenidade e o foco no trabalho na resposta aos estímulos, farejando, atacando e mordendo nos momentos certos. Depois os cães se descontraem, brincam e permitem que as crianças os acariciem. “Elas devem se questionar como os cães fazem todo esse trabalho e depois ficam calmos, até lembram um cachorro que temos em casa”, finaliza.
Ao todo, no canil de Blumenau existem 4 cães, onde há três da raça pastor holandês e um pastor belga malenois. “São cães específicos para trabalhos, que tem em sua genética esse tipo de função, todos selecionados na matilha. Os dois filhotes tem pais espanhóis. Os cães iniciam o treinamento aos 60 dias e em dois anos já atendem ocorrências nas ruas”, completa Steffen.
O policial também explicou que o canil tem o papel de dar apoio ao pessoal de rua que precisa de alguma ferramenta para auxiliar na busca de drogas. Há um treinamento novo sendo desenvolvido com os animais, para realizarem buscas de pessoas no mato para ocorrências mais graves.
