Entrevista, texto e fotos: Claus Jensen
Cerca de 70 mil pessoas prestigiaram o Natal Luz, realizado na Loja Matriz da Havan em Brusque, no dia 5 de novembro. Luciano Hang, proprietário da empresa, diz que sempre sai energizado desse evento que recebe pessoas de todo Estado e até de fora. Apesar de sempre trazer uma atração nacional, Hang diz que faz questão de valorizar os artistas locais. Na mesma loja em Brusque, há uma Vila de Natal com 1.500 m² toda decorada, porque o empresário acredita que precisamos de bons momentos.
Apesar de todo investimento que requer um evento desses, o ano foi difícil para todo mundo, mas nesse segundo semestre a Havan começou a crescer novamente. Foram 5% de incremento no faturamento a partir de Setembro e 15% em outubro. A estimativa para novembro e dezembro, é de 20% por mês.
A expectativa para 2017 é de abrir seis novas lojas, inclusive a 100ª já está definida para ser construída em Rio Branco, capital do Acre, onde as obras devem ser logo iniciadas. Hoje já são 94 lojas em todo Brasil, e a Havan tem cerca de 15 novos terrenos mapeados pelo país. E não ficarão nessas, há planos de mais 200 megalojas tendo como prioridade Santa Catarina. Cada uma pode custar de R$ 30 a R$ 40 milhões, boa parte seguindo o layout “Casa Branca” com estátua da Liberdade.
“Não vamos para as cidades só para vender produtos e ganhar dinheiro. Queremos ajudar a cidade, gerar empregos e até oferecer um lugar para passear. Nosso negócio é encantar as pessoas”, diz com orgulho Hang.
Durante a crise de 2015 e 2016, o objetivo da empresa não foi crescer e sim garantir a tranquilidade financeira, porque não havia certeza quanto tempo duraria. Para Hang, o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, trouxe mais segurança e devolveu a confiança ao mercado.
Questionado sobre como é feita a logística para distribuir esses produtos pelas lojas, o empresário disse que existe um Centro de Distribuição em Barra Velha (SC). “É um dos celeiros mais automatizados do Brasil, que enche carretas e até bitrens”, comenta Luciano. Por enquanto deve ser o único a alimentar todas as lojas do país.
Basta ver o tamanho do Centro Administrativo, formado com uma imensa área aberta, onde os departamentos convivem lado a lado, sem divisórias. No local funcionava o Shopping Bruem, que foi adquirido pela Havan. Há muito tempo eu esperava uma oportunidade para conhecer e entrevistar o maior empresário no segmento de varejo da história de Santa Catarina. Se prepare, o texto é grande, mas inspirador.
Começamos a entrevista com um desabafo indignado de Luciano Hang, depois que picharam durante a noite, a parede de cima do Castelinho da Havan em Blumenau. No dia seguinte, é determinação que quando isso acontecer em qualquer loja do Brasil, ela seja imediatamente pintada. “Se pichar, nós pintamos, até cansar o pichador”, comenta Hang. “Temos lojas em Sorocaba (SP), Mogi das Cruzes (SP) e outras cidades próximas de São Paulo (SP), onde eles picham tudo, menos a Havan. É uma sequência de construções pintadas, menos a nossa” diz com determinação Luciano.
Em seguida falamos um pouco sobre a vida e pessoa do empresário.
OBlumenauense: Quem é Luciano Hang?
Luciano Hang: Sou filho de operários. Meu pai trabalhou 40 anos na fábrica da Renaux, minha mãe outros 30 e eu durante 7 anos. Brusque é uma cidade têxtil, onde todos queriam trabalhar em uma das grandes indústrias do setor. Normalmente os pais já colocavam seus filhos aos 14 anos na fábrica, mas meu pai disse para primeiro estudar que depois conseguiriam um emprego melhor. Aos 17 anos comecei na expedição da Renaux e aprendi muito.
Acho que todos nós deveríamos nascer pobres ou passar pelo menos um pouco de dificuldade, para aprender a dar valor à vida, ao dinheiro, ser humilde, simples e saber que todos somos iguais. Não é porque você tem mais ou menos dinheiro é algo a mais. Meu pai falava que não via muita diferença em nossa vida antes e depois da Havan.
OBlumenauense: Quando surgiu a iniciativa de montar o comércio que se tornou a Havan?
Luciano Hang: Alguns anos mais tarde fui vendedor de tecidos da Renaux. Comecei a perceber uma boa oportunidade para montar um atacado de tecidos para atender a demanda de um número cada vez maior de pessoas vindo para Brusque comprar este produto. Na época tinha um ou outro pequeno atacado na cidade.
Em 1986 vislumbrei montar um grande atacado para atender à pequenas confecções que começavam a ser instaladas. A Havan logo cresceu muito e foi o maior atacadista de tecidos do Brasil, concorrendo com a (Rua) 25 de Março (em SP) e com os grandes players do mercado. Com a abertura do Plano Collor, fomos a pioneira na importação de tecidos da Coréia do Sul, China e Taiwan. Sempre procuramos ser a pioneira em tudo que fazemos, mudando conforme a necessidade do mercado.
OBlumenauense: Muitos perguntam de onde vem o nome Havan?
Luciano Hang: Abri a empresa em 1986 com um sócio, o Vanderlei, por isso o “Van”. O “Ha”, vem do meu sobrenome Hang. Depois de 5 anos, em 1991 eu comprei a parte dele e fiquei com a Havan.
OBlumenauense: Desse começo, o que sente mais saudade?
Luciano Hang: Eu não sou saudosista, sou futurista. Sempre acho que o futuro será melhor que o passado, e amanhã melhor que hoje. Posso ter lembranças das grandes realizações que fizemos, mas sempre acho que daqui para frente nós vamos realizar muito mais. Como somos da época da máquina de escrever, do fax, do carro sem vidro elétrico, olhamos para trás que aquilo foi bom, mas hoje é muito melhor. Apesar de termos feito muito nos últimos 30 anos, os próximos 30 serão de grandes revoluções.
Todos nós, independente da área que atue, podemos sempre estar na frente desde que aceite o novo. Você não tem que ter medo do que vai acontecer com o seu negócio. O exemplo está na nossa empresa, porque comecei como atacadista de tecidos, passei para varejista, loja de importados e agora de departamentos. Mas também tivemos tecelagem, malharia, tinturaria, etc..
Nós vamos mudando a empresa conforme o mercado vai modificando.
Acho que terão muitas oportunidades no futuro, e as pessoas tem que estar preparadas para fazer as mudanças.Você sempre tem que estar na crista da onda. Ninguém nasceu para fazer uma coisa só na vida. Aprendi isso com a Dra. Katherine, uma psicóloga especialista em recursos humanos. Ela disse em uma entrevista na Fundação Dom Cabral, que as pessoas tem 419 talentos. Isso nos faz questionar quantos deles já usamos na vida?
OBlumenauense: Uma das marcas da Havan é o seu aspecto promocional, que começa com a fachada da Casa Branca e a estátua da Liberdade. Como surgiu a ideia de utilizar esses elementos?
Luciano Hang: Em 1993, nós tínhamos apenas uma loja em Brusque e eu precisava montar uma grande. O volume de pessoas que vinham para a cidade fazer compras era tão grande, que para dar conta, nós tivemos que fechar as portas e atender grupos de clientes por vez.
Chamei alguns arquitetos para planejar uma fachada para essa nova loja. A maioria trouxe arquitetura moderna. Eu queria um projeto que pudesse padronizar nas futuras filiais. Eu tinha voltado de uma viagem aos Estados Unidos e tinha um cartão postal da Casa Branca. Um dos arquitetos fez um modelo muito parecido. Acabamos fazendo a fachada da Casa Branca, influenciado por essa admiração que tenho de um país (EUA) que considero moderníssimo. No ano seguinte, um garoto me abordou no estacionamento da loja e perguntou porque não coloco mais um adereço dos EUA, como a estátua da liberdade. Em 1995 ela foi instalada inaugurada, virou símbolo da Havan e sucesso nacional. Não tem uma cidade em que ela seja um dos adereços mais solicitados quando instalamos uma loja nova. Neste ano colocamos uma em Umuarama (PR) e Araçatuba (SP).
OBlumenauense: Alguma pessoa inspirou você?
Luciano Hang: Todos nós temos que nos inspirar em pessoas que fizeram grandes conquistas. A cada nova ideia, surgem outras pessoas que copiam. Foi assim em Blumenau e Brusque, quando primeiro lançaram uma tecelagem, malharia, tinturaria; e os outros vão copiando. Tento ler alguns livros de grandes empreendedores, como um que li recentemente e falava de grandes empresários americanos. Também tem uma série na Netflix que trata do mesmo assunto. Você se inspira com Dale Carnegie, Rockfeller, Jack Welch,… Isso lhe dá um ânimo a mais. Se você já fez muita coisa, pode conseguir ainda mais e ultrapassar.
Eu tento me inspirar nas pessoas que deram certo. Sempre achei que você pode crescer como pessoa na vida profissional, mas tem que ser com cada vez mais humildade, simplicidade, generosidade, sabedoria; todos princípios estabelecidos na nossa cultura interna na Havan. Quando você começa, anda muito rápido, não tem tempo para nada, tem mais dúvidas. Depois desses 30 anos, eu me sinto com mais facilidade e tranquilidade para tomar decisões. Outra coisa importante é ajudar a desenvolver as pessoas. Eu não dou mais uma tarefa, mas sim briefing e ensino a pensarem. Também não adianta você ter uma empresa onde as pessoas – funcionários, clientes e fornecedores – não são felizes.
OBlumenauense: Consegue aproveitar tudo que conquistou nesses 30 anos?
Luciano Hang: Eu sempre digo que é feliz na vida quem é feliz no trabalho. Às vezes as pessoas dizem: não posso trabalhar muito, porque também tenho que me divertir. Para mim feriado, final de semana, são todos dia de trabalho, porque faço com prazer. Na realidade você tem tempo para tudo, mas tem que ter uma harmonia.
Vamos adquirindo isso com os anos, desde que você acredite nisso. Sou uma pessoa muito exigente, perfeccionista, mas nem por isso as pessoas não gostam de trabalhar comigo. Acredito que quando entraram aqui, sentiram uma empatia com isso e gostam da empresa do jeito que ela é.
Quando sai um funcionário, como aconteceu durante essa crise que vivemos, quando tivemos que fechar departamentos e desligar colaboradores, todos pediam para voltar. Eles diziam: “estou empregado em outro lugar, mas não consigo esquecer da Havan. Assim que houver oportunidade, me chame de volta”. Nesse mês trouxemos duas pessoas muito próximas de volta.
Nós temos um ritmo de trabalho e uma cultura disseminada para a equipe, que faz um ótimo trabalho e acaba se engajando nela. Embora sejamos exigentes e disciplinadores, no final somos todos iguais. Ninguém aceita mais o errado, o mais ou menos e nem nota 10. Tem que ser 10 com estrelinha. Isso dá para fazer no município, no Estado e no país. Depende dos líderes apoiarem essas ideias.
Porque Santa Catarina é diferente? Porque em muitos municípios as pessoas tem essa cultura. Com essa política, conseguimos crescer na Havan e ganhar fãs. Em um final de semana, fui visitar uma loja em Londrina (PR), onde temos duas, e também em Florianópolis, com duas também. Alguns clientes paravam manifestando seu amor pelas lojas, dizendo que toda família comprava lá. Porque tentamos fazer o melhor para nosso cliente e também o colaborador.
Agradecemos à New Age Comunicação, empresa de assessoria de imprensa da Havan, em especial para a jornalista Elaine Cristine Malheiros, que tornou essa entrevista possível.
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